Tina Fey e Alec Baldwin são astros de “30 Rock”
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Tina Fey é uma vitoriosa. Atriz, comediante, roteirista e produtora na TV americana, já ganhou sete Emmys e três do Globos de Ouro. E ainda costumar ter seus vestidos elogiados nos tapetes vermelhos. Liz Lemon é uma perdedora. Não tem traquejo social, pula de um relacionamento para outro e é frequentemente desrespeitada no trabalho. Quem assiste à série “30 Rock“, exibida no Brasil pelo Canal Sony, sabe que Tina e Liz são mais ou menos a mesma pessoa. A segunda funciona como o alter ego ficcional da primeira. Liz é uma piada de Tina sobre si mesma.
Em “30 Rock”, Liz Lemon é a criadora de uma série feminina de humor que, por uma determinação de seu chefe, Jack (Alec Baldwin), precisa incluir no programa um astro de cinema imaturo, temperamental e grosseiro. A história criada por Tina Fey começa com esse grande ultraje, apenas o primeiro dentre muitos que estão por vir.
Apesar da audiência modesta (mas crescente ao longo dos anos), “30 Rock” é um fenômeno de crítica e está na sexta temporada. A sétima e última foi anunciada para o ano que vem. Criada em 2006, a série é levemente inspirada na experiência de Tina Fey como roteirista-chefe do humorístico Saturday Night Live, um clássico nos Estados Unidos, prestes a ter uma edição brasileira na Band.
O humor autodepreciativo de Tina é a marca de 30 Rock. As falas de Liz Lemon podem ser seguidas no Twitter e no Facebook, por meio de perfis criados por fãs. Frases como Hoje estou usando uma sacola de farmácia como calcinha, ditas na série de boca cheia, enquanto a personagem devora um pacote de salgadinhos Sabor de Soledad.
Liz gosta de reality shows, nem sempre se depila, é obcecada por “Star Wars” e tem alergia a cães e gatos. Come demais quando está deprimida. Usa óculos em vez de maquiagem. Repete roupas e mantém os cabelos naturalmente ondulados. Ela trabalha na televisão, mas é bem vida real. Não como a caricatura de uma mulher feia, porque ela não é, mas como uma pessoa real, como Tina Fey.
O humor autodepreciativo de Liz/Tina não é o de um obeso que tira sarro da própria gordura para ser aceito. Esta comédia não compactua com preconceitos. Na verdade, o programa tem uma comicidade que brinca com os padrões estabelecidos, para desconstruí-los. É um humor que humaniza. Você aceita a personagem e ri com ela porque se reconhece em suas fraquezas.
Rir de si mesmo é se dar uma folga das pressões. Profissionais, emocionais, estéticas, éticas. O humor autodepreciativo é uma forma de se redimir e se perdoar, para seguir em frente. Não há irreverência na perfeição. Porque a graça está na falta de jeito, no defeitinho, no escorregão. Quando não restar mais nada, ainda haverá uma piada.
Nesta época em que se fala tanto de liderança e sucesso, pode ser revigorante se inspirar em alguém que não se leva tão a sério e parece ver no humor um princípio. Um valor para a vida. Tina Fey talvez seja um exemplo para todos nós, precisamente por não se ver como um exemplo para ninguém.
Leandro Quintanilha trabalhou no Estadão e no UOL. Hoje, escreve para revistas. Ele adora livros, séries e filmes, que prefere analisar pela perspectiva comportamental. Leandro confessa que acha muito esquisito escrever sobre si mesmo assim, na terceira pessoa.
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