A segunda temporada de 3% acaba de sair do forno e está disponível no catálogo da Netflix a partir dessa sexta-feira (27). Faz quase um ano e meio que a série estreiou, em novembro de 2016, e uma coisa é certa: valeu a pena esperar.
Basta ver as primeiras cenas para perceber que a série está mais lapidada. Isso é bem perceptível através dos efeitos visuais que já aparecem nos minutos iniciais.
A Netflix não entrega qualquer tipo de cifra, mas fica claro que o investimento aumentou. “Realmente eu não sei os números, mas o que eu vejo disso é que o ‘3%’ foi um projeto meio piloto. O ‘Club de Cuervos’, do México, também foi meio piloto. O departamento internacional da Netflix era meio piloto há uns anos atrás, então, há sim uma diferença de investimento, porque entendeu-se a potência desse projeto. Tanto é que a gente tem quatro séries brasileiras sendo lançadas [num curto espaço de tempo]”, comenta Bianca Comparato, protagonista da série.
E as boas surpresas não se resumem só à ampliação da qualidade visual. O elenco está mais afiado e o roteiro traz uma trama bem mais empolgante.
Há muito mais dinamismo e riqueza narrativa na segunda temporada, a começar pelo fato de que, finalmente, podemos ver como é o tão sonhado Maralto. Verdade seja dita: 3% tem uma ótima premissa, mas passar uma temporada inteira vendo o processo sendo realizado ficou meio cansativo a certa altura.
Agora, além de mostrar a vida no Maralto, os novos episódios também vai explicam como ele foi criado. Só que, obviamente, a trama não se limita a ser só expositiva. Há um novo conflito rolando e muitas cenas da segunda temporada se passam no Continente – a parte miserável do universo de “3%”.
Outro detalhe positivo dos novos episódios é que não há enrolação para elucidar as questões que ficaram em aberto no final da primeira temporada. Como está o irmão da Michele (Bianca Bin)? Por que Ezequiel (João Miguel) poupou a vida dela? O que Joana (Vaneza Oliveira), Fernando (Michel Gomes) e Rafael (Rodolfo Valente) pretendem fazer agora? Tudo isso já se desenrola nos primeiros capítulos.
O roteiro continua dando alguns tropeços, mas acerta em cheio num ponto: o protagonismo feminino está ainda mais evidente na segunda temporada. Michele continua no centro dos acontecimentos e Joana cresce em importância na trama. Além disso, uma nova personagem deixa a força das mulheres ainda mais em evidência: a comandante Marcela (Laila Garin), que é chefe da divisão militar do Maralto. Prepare-se para morrer de raiva dela!
“Contraditoriamente, Marcela pensa que todos os pontos francos são os pontos femininos. Ela tenta sempre mostrar força se masculinizando, porque ainda precisamos vestir calça e tal, para ver se a gente se iguala um pouco em algumas situações, mas eu acho que é o contrário… talvez se ela agisse como mulher, do jeito que a gente [as mulheres] aborda o mundo em vez de tentar negar isso [ela se daria melhor]. Ela só se dá mal quando ela tenta negar esse lado feminino dela”, reflete Laila Garin.
E há ainda duas novas personagens que também são bem emblemáticas: Samira e Laís, interpretadas por Maria Flor e Fernanda Vasconcellos respectivamente. Elas são peças-chave na construção do Maralto.
“Em 100 anos de cinema, eu acho que todos os problemas masculinos em relação ao mundo, todos os conflitos do homem, já foram retratados [no audiovisual]. Os das mulheres não. Então, são novas narrativas que estão vindo por aí. E não são só novas formas de se contar essas histórias, mas também novas formas de atuar. Por consequência, a gente acaba tendo personagens muito mais profundas. A Joana na segunda temporada está mais profunda, muito mais envolvida na história. Essas narrativas vão fazendo com que a gente esteja grande, mas é também porque a gente vem de uma história do audiovisual em que sempre quem era grande eram os homens”, aponta Vaneza Oliveira – atriz que interpreta a Joana – ao falar sobre a representatividade feminina em “3%”.
Bianca Comparato também comemora esse aspecto da série e aponta um detalhe que, para ela, é muito significativo na trama. “Esse personagem que eu faço, talvez dez anos atrás – ou oito, ou sete – teria que ser feito por um homem, porque é um personagem que é o herói, que leva a história, quase que com uma característica ‘masculina’ de lutar pelo que quer, que é uma coisa que a gente só via homens fazendo. E o bom de ‘3%’ é que isso não é uma questão, a Michele é assim e ponto. Então a discussão é daqui para frente. Ninguém faz um comentário como ‘nossa, mas é uma mulher tão forte’, ela simplesmente é assim”.
Ao final, é justo dizer que “3%” obviamente não tornou-se uma série perfeita na segunda temporada, mas ela definitivamente amadureceu. Também é justíssimo admitir que a trama traz uma reflexão muito importante – e absolutamente atual – sobre questões sociais. Mesmo que você não tenha morrido de amores pela primeira temporada, definitivamente vale a pena dar uma nova chance.