Com 3 mulheres e quase 27 filhos, Mr Catra afirma: ‘Deus fez isso por mim, deixo tudo nas mãos Dele’
Para dar conta de toda a família, o funkeiro põe para dançar diariamente as mais diferentes plateias pelo Brasil afora
Na casa avarandada, com piscina e ofurô no jardim, o entra e sai de pessoas revela que, naquela residência, mora gente muito pouco convencional. Vargem Grande, o bucólico bairro da zona oeste carioca, onde ainda se encontra um Rio de Janeiro rural, de chácaras e pequenos sítios, foi o lugar escolhido por Mr. Catra, 45 anos, para abrigar seus domínios. Neste caso, o substantivo “domínios”, no plural, se encaixa perfeitamente à história desse funkeiro carioca. Tudo porque ele não esconde de ninguém que tem três mulheres, Silvia Regina, 36, Layana, 25, e Larissa, 19, “e também alguns concubinatos”, como faz questão de frisar. Portanto, para facilitar sua logística, ele fez de um recanto de Vargem Grande o seu feudo, onde se divide entre os três endereços. Sem agendar dias certos (e noites) com cada uma delas. Para o controverso Catra, a infidelidade faz parte da natureza masculina. E o que vale para ele não vale para elas. Casamento aberto nem pensar, as suas eleitas têm de ser fiéis. “A diferença entre o homem e a mulher é a seguinte: a mulher pode ser a maior vadia, a maior piranha. Mas ela só ama um homem (afirma, com veemência) e o homem, não. Ele ama duas, três, até quatro mulheres com a mesma intensidade. Ele consegue amar até quatro e pode se apaixonar por várias.”
E como tudo na vida desse músico é no superlativo, ele, que até a semana passada somava 26 filhos – sejam eles das atuais, de ex-mulheres ou de rápidos affairs -, acaba de saber que o 27º filho está a caminho. Sua mulher Silvia Regina Alves (a oficial, casada no papel há 18 anos) confirma nova gravidez. “Já fiz dois exames, dois de farmácia, que deram positivo. Ainda não tive tempo para fazer o laboratorial, mas sei que já é certo. Tô muito feliz, porque é mais um filho para abençoar a família”, comenta ela, que, em meados de 2013, assumiu com o marido a adoção de duas crianças portadoras do vírus HIV, Luiz, 7, e Samira, 2. “Eles são irmãos de sangue. A mãe deles era irmã de uma funcionária do meu escritório. Com a morte dela, a minha funcionária ficou desesperada, porque não teria como criá-los. Deus colocou os dois no meu caminho, então nada mais simples do que eles se tornarem meus filhos”, diz o artista, que, poucos meses antes da chegada dos novos herdeiros, festejava o nascimento dos caçulas, Pedro Henrique, 1, e Manuela, 8 meses, nascidos em São Paulo.
Ele garante que cada nova criança que nasce – ou que chega – é recebida pelos irmãos mais velhos em clima de muita harmonia. “A natureza dos meus filhos é maravilhosa. Eles podem até sofrer algumas influências externas, só que eles vão crescendo e expulsando as ideias ruins, vão se lapidando. Deus fez isso por mim, eu deixo tudo nas mãos de Deus, no tempo de Deus. Eu olho e constato que não tem um filho melhor do que outro”, completa ele, que admite não conseguir lembrar os aniversários de todos. “Nenhuma chance de lembrar as datas. Para listar os nomes de todos, eu tenho que ver a cara, senão embaralha”, confessa o pai de Mc Alandin e de Thamires (ambos com 23 anos); de Augusto César, 21; de Thamara, de Natan (ambos com 20); de Júnior, 19; de Luiz Fernando, o Ninho, 17; de Julia, 16; de Esther, de Wagner (ambos com 13); de Samuel, de 12; de Agatha, 11; de Raíssa,10; de Noemi, de 9; de Vittório e de Abrahão (ambos com 8); de Moisés, de 6; de Sílvia e de David (ambos com 4), de Eliel, 3; de Mariah, de Jacó (ambos com 2); além dos já supracitados. E ainda é avô de João Miguel, 6 meses, e de Maria Eduarda, 5 meses. “Pode ter certeza de que até o fim do ano aparecem mais filhos para ele registrar. Mas eu não me incomodo, eu não tive pai, então valorizo isso no Wagner, ele assume”, afirma Silvia, que, além dos seis filhos naturais, cria outros seis. “A gente os educa no estilo: ‘Um por todos. Todos por um’. Eles crescem sabendo que têm de ajudar uns aos outros”, completa.
E é usando a sua fé em Deus que ele legitima a vida nada ortodoxa, em que a monogamia não tem vez e a convivência entre suas mulheres e sua penca de filhos é intensa. Que fique claro, ele não faz qualquer proselitismo religioso ao defender que o Ser Supremo é quem o guia em todas as suas ações, já que ele, Mr. Catra, jamais toma decisões, apenas escuta Deus. “Não acredito em religião nenhuma. Porque não dá para falar de Deus e de religião no mesmo assunto, não cabe. Para mim, as religiões deixam as pessoas de costas para Ele. Eu vou seguindo o que Deus me dá, até mesmo mulher. Eu me envolvo com a mulher que Deus mandar. Porque a periguete de hoje pode ser a melhor mãe de família do mundo, tá ligado? E aquela que você pensa que é santinha pode não corresponder”, assegura ele, justificativa que certamente fará bufar qualquer feminista de plantão. Declarações de cunho machista à parte, Catra mostra afeto e acolhimento ao abrir o coração para assumir quantos mais filhos surgirem. Ele jamais questionou qualquer paternidade que lhe foi atribuída e assim continuará fazendo. “A partir do momento em que a mulher chega e fala que o filho é seu, não há dúvida. Porque ela está dando a sua melhor parte para mim”, filosofa.
Sorte na vida
Ele também contou com uma acolhida muito especial. Mr. Catra, ou melhor, Wagner Domingues Costa, tem origem humilde, no morro do Borel, favela da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, mas foi criado com todo o conforto de classe média alta na casa dos patrões de sua mãe, o casal Gracy e Edgard Luiz Pinaud, no Alto da Boa Vista, bairro de casarões e muito verde encravado no Parque Nacional da Tijuca. Na Rua Dr. Catrambi – vem daí o nome artístico Catra -, o menino Wagner era o filho de criação dos Pinaud, enquanto sua mãe, Elza Domingues Costa (já falecida), trabalhava como empregada doméstica. Os laços afetivos se mantiveram indissolúveis e, até hoje, é Edgard Pinaud a quem Mr. Catra chama de pai. “Meu pai me ensinou: antes de ser qualquer coisa, você tem de ser homem. Seja homem. E homem não mente, homem não trai, homem não engana. Homem é justo, é sincero, é respeitador”, atesta ele.
Foi na adolescência, em meados dos anos 1980, como aluno e líder estudantil do tradicional Colégio Pedro II, que ele iniciou-se na música, como guitarrista de uma banda de rock, a O Beco. Na mesma época, o garoto criado no asfalto estreitava o caminho para o morro, passando a frequentar o Borel. Era considerado um “playboy” na favela, mas fez grandes amigos por lá. “A favela é mundo em que, se você mentir, morre. Ainda mais eu, que era considerado um playboy, um playboy não podia mentir lá”, diz categórico. Ele flertou ainda com o hip hop, deixou o curso de direito no meio, até ingressar no universo do funk e virar o rei do pedaço. Sempre coberto por grossos cordões de ouro, o funkeiro de presença marcante – de 1,86 metro de altura e vozeirão à altura de seu corpanzil -, com suas músicas de apelo sexual, vem conquistando os palcos Brasil afora. Num ritmo frenético de shows, numa média de quatro apresentações por dia, de segunda a segunda, Mr. Catra já deixou há tempos de ser referência apenas nas plateias das favelas cariocas ou da periferia paulista. Ele pode ser visto em comercial de cerveja, dividindo a cena com estrelas globais de primeira grandeza, ou ainda ser astro de documentário com mais de 5 milhões de acessos na internet. No fim de janeiro, assinou contrato com o selo Seven, da Sony Music. “O funk é uma crônica do dia a dia, é um movimento cultural que retrata uma fase. É uma escolha de vida. Mas é preciso ter fé, porque o funk é uma bênção de Deus”, exagera o artista, que jamais pensa pequeno.
Fotos: Marcos Pinto e Dilson Silva/AgNews