Quando, como e se: autonomia para decidir
A falta de conhecimento sobre fertilidade diminui a autonomia da mulher sobre o seu próprio planejamento reprodutivo. Conhecer soluções facilita a decisão
De acordo com uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2021 pelo Instituto Ipsos, por encomenda da farmacêutica Organon, 51% das brasileiras afirmaram já ter ouvido falar sobre planejamento reprodutivo, mas consideram não saber o suficiente. Apesar de 52% das mulheres usarem algum método contraceptivo, apenas 13% afirmaram ter domínio pleno de sua fertilidade – impactando diretamente sua autonomia para decidir quando, como e se desejam engravidar em algum momento da vida. “É muito comum uma paciente chegar ao consultório e dizer que nunca ouviu falar sobre congelamento de óvulos, por exemplo”, afirma a dra. Mariane Nunes, médica e professora da FOB-USP.
Para além da contracepção, entender também sobre fertilidade garante o poder de planejar o momento da gestação e se antecipar em caso de alterações que possam diminuí-la – como a endometriose e a menopausa precoce na família. “A não conversa sobre o assunto é uma barreira. Além disso, as mulheres começam a se preocupar com sua fertilidade aos 35-38 anos, quando o ideal seria perto dos 30 ou até antes”, diz a dra. Thais Sanches Domingues, médica da clínica Huntington Medicina Reprodutiva, em São Paulo.
Ariane Bertini, 44 anos, por exemplo, tentava uma gravidez desde o casamento por métodos naturais, até que decidiu procurar sobre o tema. Após exames, entendeu que tanto ela quanto o marido apresentavam fatores de infertilidade. “Depois de várias tentativas com medicamentos, fiz alguns procedimentos da fertilização in vitro e, na quarta vez, consegui engravidar.” No processo de retirada dos óvulos, Ariane fez a inseminação e gerou muitos embriões, que foram congelados. “Após quase cinco anos, eu resolvi fazer outra fertilização e aí tive gêmeas”, comemora.
O caso de Ariane não é isolado. Ana Paula Peinado, 46 anos, começou a tentar engravidar aos 39 e, após procurar especialistas, descobriu que não apenas ela apresentava questões de infertilidade, mas também seu marido. “Foram cerca de quatro anos, diversos médicos e muitos exames. Passei por 15 estimulações e um aborto espontâneo até que, em uma última implantação, de dois embriões, engravidei de um casal de gêmeos”, conta.
Para a dra. Mariane, não existe uma idade mínima a partir da qual a gente deva conversar sobre fertilidade: “Porém informações como tempo de vida útil reprodutiva da mulher, envelhecimento dos ovários e até mesmo questionamentos sobre o desejo ou não de uma gestação deveriam estar em uma consulta ginecológica de rotina”. Conhecer e entender mais sobre o seu próprio corpo é uma ferramenta de poder também para sua autonomia.