Entre grávidas, brasileiras são as maiores vítimas da Covid-19 no mundo
Segundo estudo, de 160 mortes por Covid-19 entre gestantes e puerpéras ao redor do mundo, o Brasil foi responsável por 124
Um estudo feito por enfermeiras e obstetras brasileiras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMPI) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), revelou um dado que soa preocupante sobre a mortalidade por coronavírus de gestantes e puerpéras em território brasileiro.
De acordo com a pesquisa, oito em cada dez grávidas e puerpéras que morreram por Covid-19 no mundo são brasileiras. O grupo de pesquisadoras filtrou os dados oficiais do Ministério da Saúde sobre as internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) causadas pelo vírus.
Melania Amorim é professora, médica obstetra e uma das profissionais que compõem a força tarefa e informou à jornalista Rita Lisaukas, do Estado de S. Paulo, que até o dia 18 de junho tinham sido notificadas 160 mortes maternas em todo o mundo e o Brasil era responsável por 124 delas. São 188 territórios afetados pelo coronavírus e o Brasil tem mais mortes maternas que a soma de todos esses países.
O estudo foi aceito e publicado no último dia 9 de julho, na publicação científica International Journal of Gynecology and Obstretics. Foram as pesquisadoras que financiaram a pesquisa, mas agora precisam de recursos para dar continuidade. “O que a gente quer é ir atrás desses prontuários médicos, um a um, para poder obter informações mais completas. Até agora o estudo foi financiado por nós, por dedicação à causa”, explica Melania.
Segundo essa pesquisa, a SRAG causada pelo novo coronavírus foi encontrada em 978 mulheres grávidas e puerpéras no Brasil entre os dias 26 de fevereiro e 18 de junho. A análise diz que apenas mulheres que apresentaram sintomas graves foram testadas, tornando o número de infecções desse grupo subnotificado.
Os óbitos que aconteceram no puerpério – até 42 dias depois do nascimento do bebê – têm uma associação com três comorbidades: obesidade, doença cardiovascular e diabetes. Apesar disso, muitas mulheres saudáveis vieram a óbito, segundo Melania. “O pior de tudo é que 28% dessas mulheres que morreram não chegaram sequer a dar entrada em uma UTI, 15% não receberam nenhuma modalidade de assistência ventilatória”.
Das 978 mulheres diagnosticadas com SRAG no período de fevereiro a junho, 680 estavam grávidas e, entre essas, 74 faleceram – representando 9,8% de mortalidade por Covid-19. Do número total, 174 tinham ganhados seus bebês há no máximo 42 dias e 50 dessas mulheres vieram a óbito, o que representa 22,3% de mortalidade. De acordo com Melania, a maioria das vítimas fatais eram “não brancas” (71 mortes), mas por não haver recorte ou informações raciais a respeito dos óbitos, o número pode ser ainda maior.
O que as gestantes precisam saber
De acordo com os dados que os médicos têm acesso até o momento, mulheres grávidas não têm risco mais elevado de se infectar pelo novo coronavírus ou avançar para quadros graves – caso da população idosa ou com doenças respiratórias crônicas, por exemplo. “O que já sabemos é que, em relação a outras mulheres, tudo indica que elas estejam mais propensas a apresentar situação mais graves. A mortalidade não é maior, no entanto”, explica a obstetra Karina Tafner, da Santa Casa de São Paulo.
Em relação os riscos para a gestação, ela explica que ainda não há indícios de maiores riscos de abortamento, mas o último trimestre pode ser mais delicado em relação ao vírus, com aumento das chances de parto prematuro. Para os bebês, também não há sugestões de malformações. A situação não é de se alarmar, porque a variação não tem se mostrado muito superior em relação a outras gestantes. “Também já se admite como muito provável a possibilidade de haver transmissão vertical, ou seja, da mãe para o bebê na gestação, mas ainda somos cautelosos em afirmar isso como uma resposta final”, diz.
Recentemente, médicos franceses reportaram a confirmação de um caso de infecção de um bebê pelo novo coronavírus ainda no útero da mãe. O menino recém-nascido teve uma inflamação no cérebro poucos dias após o nascimento. Segundo os médicos, a mãe foi a primeira contaminada e o vírus atravessou a placenta no último trimestre de gestação, provocando uma infecção antes mesmo do nascimento.