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Mitos sobre pessoas trans e travestis que precisam ser combatidos

Neste 29 de janeiro, dia da visibilidade trans, resolvemos quebrar algumas mentiras contadas por aí.

Por Lucas Castilho
Atualizado em 15 abr 2024, 17h25 - Publicado em 27 jan 2017, 11h00
A atriz e militante dos direitos LGBTQ+ Laverne Cox. (Nicholas Hunt/Getty Images)
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“Pessoas T”, que é a forma como podemos nos referir aos homens e mulheres transexuais e às travestis, nasceram em um corpo que não representa de fato o que e quem elas são. E, infelizmente, por causa disso, enfrentam níveis gigantescos de violência e discriminação.

Leia Mais: 11 mentiras batidas sobre feminismo que precisam parar de ser repetidas

Para se ter uma ideia, em 2015, aconteceram 295 assassinatos de pessoas trans e travestis no mundo. 123 dessas mortes aconteceram no Brasil, como informou a ONG Transgender Europe. Um absurdo.

Além desses números, é comprovado que pessoas T estão quatro vezes mais propensas a viver na pobreza e experimentam o desemprego o dobro do que a população em geral. Se a pessoa for negra essa margem sobe para quatro vezes, como apontou o relatório “Injustice at Every Turn”.

Por isso, as capas de Caitlyn Jenner para a Vanity Fair e Laverne Cox, estrela de “Orange Is the New Black”, para a TIME e Entertainment Weekly são tão importantes. Assim como a conquista da top Andreja Péjic ao ser anunciada como a primeira mulher trans a ser rosto de uma campanha de beleza, na Make Up For Ever.

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Essas ações colocam luz – e dão voz – para um assunto, muitas vezes considerado tabu e que precisa ser discutido, por se tratar de uma questão de Direitos Humanos.

Com ajuda de Agatha Lima, mulher transexual, militante e atual presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT de São Paulo, de Luiz Fernando Prado, homem trans, integrante da família LGBT Stronger e ativista e militante de Direitos Humanos, e de Monique Rodriguez, travesti e militante, procuramos desmistificar algumas das mentiras que contam sobre homens e mulheres trans e travestis.

imgur.com

1. Não existe diferença entre transexual, transgênero e travesti

Existe, sim. De acordo com Agatha, as pessoas transexuais são pessoas que nasceram com um gênero (homem ou mulher), mas que não se identificam com ele. “Por exemplo, a mulher trans nasce com o sexo biológico masculino, mas a sua identidade de gênero, que é a forma como ela se percebe, e orientação sexual são geralmente femininas. Já as travestis, são pessoas que têm o sexo biológico masculino, mas que possuem identidade de gênero ambígua”, explica. Segundo ela, elas podem se identificar tanto com seu lado homem, quanto com seu lado mulher e ter orientação sexual fluída. Agora, cabe a cada pessoa dizer ou definir o que ela é. “É ela quem define o que é e como quer ser reconhecida”, avalia Monique.

2. Para ser uma mulher transexual ou uma travesti é preciso fazer uma cirurgia

Mentira. E para começar, não se fala em “cirurgia de mudança de sexo”, o termo correto é redesignação sexual (CRS). Luiz Fernando explica bem essa dúvida: “A transexualidade é algo além de se fazer modificações corpóreas, se trata de um incômodo em viver num gênero que em nada lhe representa”. O importante mesmo é se sentir confortável com o seu corpo. “Uma trans pode ser trans sem ter começado a hormonização, sem ter colocado peitos, feito cirurgia ou laser. É mulher ou homem e ponto, não importa o jeito que está”, diz Monique. É só importante destacar que, segundo Agatha, uma travesti dificilmente vai optar por uma cirurgia, justamente por essa identidade de gênero ambígua.

3. Pessoas transexuais são todas homossexuais

Essa questão causa muitas dúvidas em quem não está familiarizado com o universo das pessoas T. É comum a confusão de que ser um homem ou mulher transexual é, logo, ser homossexual. Mas gênero, que é a percepção individual de cada um sobre ser homem, mulher ou algo a mais, não é sinônimo de orientação sexual.

Ser uma pessoa transexual ou travesti não significa necessariamente ser homossexual. “Se for uma mulher trans e gostar de outra mulher, ela é lésbica, e se for mulher trans e gostar de homem, é heterossexual e por aí vai…”, explica Monique.

4. Pessoas transexuais e travestis escolheram ser assim

Óbvio que não. Como dito acima, a identidade de gênero é a percepção do indivíduo de ser um homem ou uma mulher (ou alguém que não se identifica de forma binária) e isso é algo que nasce com a pessoa. De acordo com Monique, por a sociedade dividir os seres humanos em apenas “macho e fêmea”, quando criança, a pessoa – sem informações – se vê obrigada a se encaixar nesses padrões, daí a ideia errônea de que se trata de uma escolha. “Ninguém escolhe ser humilhado socialmente em todos os espaços de convívio”, avalia Luiz.

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E, sim, existem teorias médicas sobre quais motivos as pessoas nascem transexuais ou travestis. Por exemplo, alguns falam que hormônios usados durante a gravidez podem ser a causa e outras pesquisas afirmam que tem a ver com a atividade cerebral. Mas a verdade é que, mais importante do que o porquê, a comunidade de pessoas T precisa nesse momento de aceitação e respeito. #Prioridades

5. Ser uma pessoa transexual ou travesti significa ser um homem fantasiado de mulher ou uma mulher fantasiada de homem

De forma alguma. Como dito acima, as pessoas T nasceram dessa forma. Carmen Carrera, que é militante da causa, modelo e mulher trans desconstruiu essa ideia equivocada em apenas uma frase: “Eu não sou um homem fingindo ser uma mulher. Eu sou uma mulher”. Caso encerrado?

Divulgação
A atriz transexual Jamie Clayton, estrela da série “Sense8”, do Netflix ()
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6. Transexualidade é uma doença

Não. Apesar disso, o Transtorno de Identidade de Gênero ainda é listado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença mental. Porém, a CID 2015 (Classificação Internacional de Doenças) promete tratar a transexualidade não mais como um distúrbio de saúde, mas como uma condição que exige intervenção médica em alguns casos. 

Segundo a entidade, destacar a possibilidade de intervenção é necessário para que, principalmente, essas pessoas possam receber tratamento nas redes públicas e particulares. E é justamente essa a luta travada atualmente, como explica Agatha: “A nossa luta maior não é sair do CID, porque ele ainda garante o acesso ao atendimento em hospitais públicos, a nossa luta é a transexualidade não ser mais tratada como uma doença mental”.

7. Transfobia não existe

Existe, sim, e está tanto nos “pequenos” atos, desde quando alguém se recusa a chamar uma pessoa trans por seu nome social, até nos crimes de ódio cometidos mundo afora todos os anos. Para se ter uma ideia, de acordo com relatórios internacionais, 50% dos assassinatos contra pessoas T ocorreram somente no Brasil em 2014. É importante apenas não confundir transfobia com o homofobia, tá? Monique alerta que são coisas diferentes e bem simples de entender: “Nós somos trans, então, é transfobia”.  E para quem ainda não está convencido que não existe transfobia, Luiz Fernando traz um relato:

“A transfobia existe a partir do momento em que as pessoas julgam homens trans como mulheres lésbicas masculinizadas por simplesmente não ter uma genitália masculina. Existe quando corremos o risco de sermos estuprados em um banheiro masculino se houver alguma desconfiança por parte de alguns frequentadores daquele espaço. Existe ao frequentarmos locais que se exige RG documentação imagine o constrangimento de apresentá-lo e nele constar um nome e sexo feminino você tendo uma aparência masculinizada. Existe quando em um serviço de saúde publica se recusam a nos chamar pelo nome social pelo fato do tal nome civil constar no prontuário. Existe ao não se conseguir emprego digno devido a documentação e temos de nos empregar em subempregos e ainda termos de implorar para nos respeitarem nos tratando como gostaríamos. Não queremos fazer apologia a nada, queremos ter direitos como quaisquer outros cidadãos e sermos respeitados pelo que somos”. 

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