Estar entre os 50 selecionados do maior prêmio da educação pública brasileira foi uma grande conquista para o professor Luiz Felipe Linz, 48 anos. Quando ficou entre os 10, seu coração palpitou mais forte, e ontem (27), ele ficou sabendo que foi o grande vencedor do Prêmio Educador Nota 10.
“Eu estou representando todos os profissionais de educação desse país, seja a merendeira, inspetor, agente educador, todos que lutam por uma educação pública de qualidade”, disse ele a CLAUDIA.
A trajetória de Luiz na educação começou bem cedo. Foi criado por sua tia que era faxineira e mãe solteira, e que sempre dizia que ele e seus filhos precisavam ter os professores como referência, porque, por ela trabalhar muito, não conseguia dar esse tipo de assistência.
“Tive bons professores, boas referências e me espelhava neles. Quando terminei o ensino médio e comecei a faculdade, escolhi matemática, mas eu queria trabalhar com educação porque ela me oportunizou coisas que outra área não poderia me oportunizar”, conta ele.
Luiz Felipe é fruto de uma educação pública de qualidade e transformadora, e tudo o que ele aprendeu na escola quer passar para os seus alunos para que faça a diferença para eles, como fez em sua vida.
Hoje, ele dá aulas de matemática na escola Municipal Francis Hime, no Rio de Janeiro. “É uma cidade conturbada, onde eles têm outros atrativos que os chamam pra outras coisas que não são tão interessantes. Por meio da educação, eles podem ter um futuro diferenciado independente da profissão de escolha, em que o conhecimento é que vai fazer a diferença na vida deles”, diz.
Como surgiu o projeto Geometria & Construção
Um conjunto habitacional estava sendo construído no bairro do Rio de Janeiro, e toda aquela movimentação chamou a atenção dos alunos de Luiz Felipe. Passando próximo à construção, o professor recebeu um panfleto e, a partir disso, teve a grande ideia que o levou até o troféu de Educador do Ano.
“Olhei para aquilo e pensei: posso pegar isso aqui e construir alguma coisa que faça sentido, pegar toda a matemática que eu tenho que desenvolver e criar algo interessante para os alunos”, lembra ele, que rapidamente levou a ideia para a sala e apresentou para os adolescentes.
Luiz, então, ensinou o que era uma planta baixa e também como desenvolver uma. “eu propus a eles que formassem grupos e idealizassem um projeto de uma casa. Só nessa parte da planta eu desenvolvi instrumentos de geometria, trabalhei ideia de escala, de proporção, de proporcionalidade, de medida”, expressa ele.
Na segunda etapa, o professor perguntou aos alunos quanto eles gastariam para revestir todos os cômodos da casa com piso. Ele então propôs que fossem até lojas de construção do bairro para tirar foto e gravar os pisos e seus preços. “Nisso eu já ensinei divisão de área e outros conceitos de matemática. Mas eu percebi que eles tinham dificuldades com números, de fazer operações, então trabalhei o conceito de números e operações”, diz.
A fim de valorizar outras profissões, Luiz disse para os alunos que, para construir a maquete a partir da planta que eles haviam desenhado, precisariam da ajuda de alguns profissionais, como, por exemplo, pedreiro, arquiteto ou um engenheiro. A maioria dos alunos conhecia algum pedreiro ou tinha um na família. “Uma aluna tinha uma prima arquiteta que ensinou o que era um escalímetro, ela levou pra escola e apresentou pra sala. A mãe de um dos alunos era engenheira mas não atuava e ajudou”.
Com as maquetes prontas e apresentadas em sala de aula, Luiz aplicou uma avaliação. Os alunos, por sua vez, acreditaram que seria uma prova comum de matemática, mas na verdade era uma autoavaliação. “Era para descreverem as dificuldades que eles encontraram, as aprendizagens que eles tiveram e onde eles viram matemática no trabalho. Eu queria que eles refletissem sobre as habilidades que eles construíram”, recorda o educador.
Apesar do pouco espaço na escola para a realização do projeto, o que considerou um grande desafio, o professor levou para a casa o Prêmio Educador Nota 10. “A gente precisa construir uma educação que faça sentido na vida deles, na educação nada é nosso, tudo é pra ser socializado, transformado e adaptado, essa é a realidade”, conta Luiz, animado com a conquista.
“Um trabalho de matemática vencendo, achei mais marcante pra mostrar que a gente tem que acabar com essa ideia de que a matemática foi feita pra segregar, pra dividir, selecionar”, explica. “A premiação de um professor não é pessoal, mas sim pra categoria. Carrego em mim a minha comunidade, meus alunos, todos são fundamentais na construção do professor e de uma educação de qualidade”, diz.