De forma interativa, professor ensina política e envolve seus alunos
O projeto "Nos Trilhos da Democracia", de Diogo Jordão ficou entre os 10 vencedores do Prêmio Educador Nota 10
A educação ainda é um dos melhores caminhos para sonhar, tornando-se o pontapé inicial para o surgimento de profissionais dedicados. É o caso do Diogo Jordão Silva, 27 anos, que sempre estudou na rede pública.
Seus pais frequentaram a escola até o quarto ano, mas a defasagem não os impediam de incentivar seus filhos a se dedicar aos estudos. A partir desse incentivo, Diogo começou a admirar seus professores e enxergar a educação como uma saída para uma vida melhor, já que vinha de uma família carente.
“Eu sabia que a minha família não teria condições de bancar uma faculdade, então eu passava horas estudando em casa para conseguir aprovação no Enem ou em um vestibular de Universidade Pública”, lembra. Seu empenho nos estudos resultou na aprovação na Universidade Federal Fluminense, tornando-se o que ele mais admirava, professor.
“A admiração que tinha pelos meus professores me despertou o gosto por essa profissão”, conta. “Ainda na graduação tive aprovação em dois concursos para professor. Um deles para dar aula na escola onde estudei toda a minha vida. Mas, não pude assumir a matrícula, pois faltava metade do curso”, explica ele, que logo depois foi aprovado na CE Nelson Pereira Rebel Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro.
Nos trilhos da democracia
Para desconstruir o estereótipo de que política é considerado um assunto chato, Diogo estabeleceu o objetivo de fazer com que os alunos se interessassem mais pelo tema, de forma criativa.
Então, ele criou o Projeto Nos Trilhos da Democracia, garantindo uma vaga entre os 10 vencedores do Prêmio Educador Nota 10 – que está na sua 22 edição e visa valorizar os profissionais que atuam na rede pública.
Diogo explica que o local onde dá aulas é carente e distante dos centros de poder. “Diariamente, a precariedade dos serviços públicos é evidenciada nas reclamações da população e dos alunos. Mas as queixas sobre saúde, transporte, saneamento básico e outros serviços são feitas apenas entre eles, sem haver um direcionamento às autoridades competentes”, explica ele, que por meio do projeto, pensou em novas formas de solucionar os problemas.
O projeto foi divido em algumas etapas, sendo que a primeira foi um “cine-debate”, no qual os estudantes conversavam sobre vídeos e documentários sobre cidadania, democracia e organização político-administrativa do Brasil.
A segunda foi chamada de Qual é a minha bandeira?. “Distribuí folhas em brancos e solicitei que representassem por meio de desenhos quais as causas sociais que eles levantam bandeira”, explica Diogo, que nota os alunos expressando suas preocupações com o meio ambiente e as lutas contra o bullying, a homofobia e o racismo.
Na terceira, Diogo chamou de Lei x Realidade, em que os alunos escolhiam um artigo da Constituição Federal e confrontavam com artigos e notícias sobre fatos sobre o direito que haviam escolhido. “Um dos debates levantados foi sobre o direito ao transporte, que foi relacionado com a própria realidade vivenciada pelos alunos na comunidade de Travessão”, argumenta ele.
Os alunos também fizeram projetos de pesquisa e realizaram trabalhos de campo, aplicando enquetes nas comunidades para entender como a população local avalia as políticas públicas e suas principais demandas para melhorar o lugar onde moram.
Uma visita na Câmara também foi feita, quando uma vereadora apresentou na Casa Legislativa, em Audiência Pública, as demandas colhidas pelos estudantes. “Para os alunos, esse foi um momento de grande importância, pois se perceberem como cidadãos participativos na melhoria do seu lugar de vida”, lembra o professor.
Por fim, Diogo desafiou seus alunos a criarem um jogo de tabuleiro, para que os alunos pudessem levar os conhecimentos que adquiriram ao longo do processo para toda a comunidade escolar. “Desenvolver projetos em escola pública é sempre um desafio. Mas felizmente tenho uma equipe de gestão muito competente e disposta a nos auxiliar. A elaboração dos projetos de pesquisa foi a parte mais difícil, pois demandou habilidades pouco desenvolvidas pelos alunos”, elucida o educador.
O aprendizado que Diogo proporcionou para os seus alunos tiveram grandes resultados. Muitos deles demonstravam mais engajamento nos assuntos, despertando curiosidade nos que não tinham muito conhecimento do tema. “Mas só o fato de sair da sala de aula foi motivador pra eles. Além disso, ficaram felizes ao poder ajudar a melhorar sua comunidade”, diz Diogo.
A política que antes era encarada com certa aversão pelos alunos se tornou um tema bem recebido. No final do ano, em uma roda de conversa, o professor questionou os estudantes quais foram as aprendizagens que o projeto proporcionou. “As respostas foram muito satisfatórias: ‘Aprendi que devemos procurar a se envolver na política’; ‘Aprendi mais sobre nossos direitos’; ‘Aprendi que devemos lutar pelos nossos direitos e melhorias do nosso bairro'”, recorda ele.
No início, Diogo acreditava que a educação era o principal caminho para realizar mudanças significativas. Depois do envolvimento dos alunos em cada etapa do projeto, além de estar entre os 10 vencedores do Prêmio, fez com que ele tivesse certeza disso.
“A Educação Pública gera frutos. Eu sou um desses frutos. Ela mudou minha vida. O que espero é que o meu trabalho contribua para que outros alunos também tenham suas vidas transformadas pela Educação”.