A violência doméstica é um problema grave e ainda constante no Brasil – uma percepção confirmada, infelizmente, por números alarmantes: só em 2020, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos foi vítima de violência física, psicológica ou sexual. Segundo pesquisa feita pelo Datafolha e encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram 17 milhões. E se quebrar o ciclo e sair de uma relação abusiva não é fácil, retomar a vida e autoestima tampouco é um processo simples ou rápido. É visando este retorno que o Instituto Survivor, fundado pela nossa colunista Izabella Borges e Duda Reis, criou uma iniciativa que facilitará o ingresso de centenas de mulheres à universidade.
A partir de hoje, o Instituto, que tem como pilares os incentivos ao desenvolvimento da autonomia financeira, emocional e de autoconhecimento das mulheres que passam ou passaram por situações de violência doméstica, passa a oferecer 100 bolsas de estudo integrais por semestre – um projeto pioneiro no país, e que dá conta de uma das grandes dificuldades desta reestruturação: conseguir entrar no mercado de trabalho para conquistar uma independência financeira que até então não existia.
“A gente acredita que é preciso empoderar essas mulheres por meio do conhecimento para que elas consigam retomar. Muitas passam a vida dedicadas aos filhos e ao marido e, quando o relacionamento termina, não sabem como recomeçar e são obrigadas a voltar ao mercado de trabalho com um atraso muito grande. Nós vemos um sistema judiciário que não valora isso e que muitas vezes decide por uma não pensão alimentícia porque entende que essa mulher tem capacidade de trabalhar, mas será que essa capacidade não está maculada de alguma forma? Ela tem capacidade plena de fazer isso? Por vermos muitas injustiças como essa, resolvemos criar este convênio”, conta Izabella.
O projeto
O projeto, que já está com inscrições abertas, é uma parceria entre o Instituto Survivor e o Centro Universitário Ítalo Brasileiro. As mulheres podem se inscrever para todos os cursos em formato EAD (Educação a Distância) da universidade, com bolsa de 100%. Ao contrário de outras bolsas, frequência e possíveis dependências não geram penalidades, e o estudo está garantido por completo. “Sabemos que o processo de retomada não é fácil, e acreditamos que muitas destas mulheres podem ter dificuldades, então não queremos colocar mais nenhum fator que atrapalhe”, explica.
Para se inscrever, mulheres que estão passando ou já passaram por violência doméstica podem procurar o Instituto Surviror por mensagem direta no Instagram, ou acessar o site da universidade através deste link e preencher o formulário de inscrição. Em seguida, basta juntar os documentos, levar presencialmente ao campus e informar que querem participar através do processo seletivo do Instituto.
A primeira seleção já está em curso, e ainda é possível se inscrever. Para a escolha, são levados em conta critérios como acúmulo de marcadores sociais – com preferência à mulheres que, além da violência doméstica, têm outras situações de vulnerabilidade social.