Se você sentiu o aumento dos preços dos alimentos, ficou insegura quanto à sua estabilidade no emprego, assustou-se com o valor na bomba de combustível e se indignou com a situação de moradores de rua, pode-se dizer que você faz parte do grupo de pessoas que está antenado aos problemas centrais para a melhora de vida dos brasileiros e da perspectiva de crescimento econômico. Essa reflexão se torna ainda mais persistente à medida que o dia de eleger o próximo presidente se aproxima. Opiniões podem ser divergentes, claro. Existe, entretanto, um ponto comum: é preciso garantir bem-estar social de forma menos desigual.
Para aprofundar a questão de forma diversa, CLAUDIA ouviu seis economistas que são referências nacionais: Ana Carla Abrão, líder na consultoria de gestão Oliver Wyman e membro do conselho da B3; Gaby Chaves, fundadora do NoFront; Juliane Furno, doutora em desenvolvimento econômico e militante do Levante da Juventude; Simone Deos, professora de economia da Unicamp; Vilma Pinto, diretora da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal; e Zeina Latif, que foi economista-chefe da XP Investimentos e hoje é secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo.
O desmantelamento de políticas públicas, o aumento da precarização do trabalho, a queda da renda média do brasileiro e o retrocesso das conquistas econômicas das mulheres, na visão de Gaby Chaves, são os fatores que mais afetam a maior parte da população: “Apesar de o mundo estar vivendo uma crise, o Brasil podia ter dado respostas diferentes até aqui. A pandemia aprofundou problemas estruturais da sociedade, sobretudo racismo e desigualdade de gênero: negros e mulheres estão sendo mais impactados”.
Uma estatística é capaz de reunir as questões apontadas por Gaby. Segundo o Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made/USP), os 705 mil homens brancos que fazem parte do 1% mais rico do país e representam 0,56% da população adulta têm 15,3% de toda a renda, uma fatia maior do que a de todas as mulheres negras adultas juntas. Eles têm renda média mensal de R$ 114.944,50, enquanto elas têm R$ 1.691,45.
Se não é verdade que fazer a economia crescer significa reduzir desigualdades sociais, por outro lado, reforça Juliane Furno, quando não há avanço, agravam-se os problemas seculares. “Se o PIB não cresce, gera menos estímulo ao investimento público e privado. E, por excelência, é ele que gera emprego, que, por sua vez, aumenta a renda do trabalhador, que passa a consumir mais, girando a roda da economia”, explica ela. Para Juliane, o Brasil atravessa a pior crise econômica dos últimos tempos, pois ela vem seguida da menor capacidade de recuperação. Quando a pandemia foi iniciada em 2019, o país ainda não tinha se restabelecido do tombo registrado em 2015 e 2016, quando o PIB caiu 3,55% e 3,28%.
Nos anos seguintes, os avanços foram de apenas 1,32% (2017), 1,78% (2018) e 1,41% (2019). Em 2020, já com os efeitos da Covid-19, a queda foi de 4,06%. O aumento de 4,6% em 2021 não foi o suficiente para mudar a rota. As projeções do Banco Central apontam crescimento de 2% neste ano, e 0,4% no próximo. “Isso vem marcando um projeto de futuro: uma economia que não cresce e uma desigualdade que se acelera”, afirma.
E essa é apenas uma das muitas fragilidades atacadas por Juliane e as demais economistas. “O que aconteceu no Brasil, que é muito importante que seja revisto em 2023, é a completa ausência do Estado em suas funções fundamentais”, pondera. Simone Deos concorda. Para ela, o mercado e o Estado são um conjunto. Em sua avaliação, é imperativo tirar as 33 milhões de pessoas da condição de fome, segundo a rede Penssan. “O cenário é cruel e indica a nossa falência como sociedade”, disse.
Já Zeina Latif, que passou por diversas instituições financeiras, foi a economista-chefe da XP Investimentos e, hoje, é secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, avalia que, embora bem intencionadas, as intervenções estatais historicamente não respeitam o devido zelo. Para contornar os equívocos na gestão pública, segundo Zeina, seria necessário, no primeiro ano do próximo mandato presidencial, a apresentação da estratégia e da capacidade política para se avançar com reformas. “É essencial o sinal no sentido de respeitar e reforçar a disciplina fiscal do país”, disse.
Vilma, a primeira mulher a ocupar cargo de diretoria na Instituição Fiscal Independente (IFI), destaca a importância das regras fiscais. “São instrumentos capazes de contribuir com equilíbrio e sustentabilidade das contas públicas”, afirmou. Ana Carla Abrão pondera que, não se viabilizando um candidato de centro, o presidente governará um país dividido: “Espero que o sentimento de renovação que as eleições inserem suplante as dificuldades que um pleito dividido impõe e que, com isso, comecemos o novo ano com uma agenda de desenvolvimento social e econômico no topo das prioridades”. Uma certeza é: a economia é ferramenta para desenhar políticas públicas que tornem melhor a vida de todos, sem deixar ninguém para trás.