Uma vez por mês, Augusto repõe as espécies em falta nos caixotes de feira e nas panelas velhas distribuídos no terraço. Para quem serve mil refeições semanais, a horta produz pouco, porém é exemplo do conceito por trás do restaurante: consumo consciente, redução do lixo, responsabilidade com o meio ambiente. “Nosso lixo não é lixo”, alerta. O chef conta que as aparas de frutas e vegetais usados no preparo da comida vão para composteiras, onde sofrem a ação de micro-organismos e minhocas, transformando-se em adubo orgânico. E esse adubo, claro, enriquece a terra plantada. “A horta abastece o restaurante, que abastece a composteira, que abastece a horta“, enfatizam Viviane Moreno e Aline Zoia, donas da Hortelar, empresa de paisagismo funcional que concebeu e executou o projeto.
Ele mesmo cuida da horta orgânica formada recentemente e do jardim cultivado há duas décadas
Horta personalizada
Caixotes e panelas remetem a restaurante – daí Viviane e Aline sugerirem usá-los com função de vasos. “O excedente da rega e da chuva escorre das caixas plásticas, que são vazadas”, explica Aline. Já as panelas foram furadas e pintadas com tinta spray em tom de cobre. Após a forração com manta drenante (tipo Bidim), os recipientes receberam terra adubada, mudas e sementes. E a superfície foi coberta com fibra de coco. “Ela evita o ressecamento do solo, a perda de nutrientes e o surgimento de plantinhas espontâneas, como os trevos.”
1. De baixo para cima: orégano, nirá, melissa e, ao lado dela, manjericão.
2. Pimenta-biquinho.
3. Amor-perfeito.
4. Funcho.
5. Alecrim.
6. Manjericão-roxinho.
Se você gostou da ideia e quer cultivar sua própria horta, anote as dicas das paisagistas: salsinha, coentro e hortelã não aceitam plantio com outras ervas. Para piorar seu perfil antissocial, as duas primeiras ainda são muito vulneráveis a fungos. Já as pimentas só convivem entre si. Sálvia, tomilho, manjerona, segurelha, alecrim e funcho dividem o espaço sem reclamar. O manjericão também, mas, como cresce muito, produz uma indesejável sombra sobre os vizinhos – as ervas pedem ao menos quatro horas diárias de sol para se desenvolver bem. “Antes de regar, enfie o dedo na terra para avaliar a umidade – o excesso de água costuma matar mais do que a secura”, alerta Viviane.
Água de reúso nas regas do jardim
Vasos com lança-de-são jorge, ráfis e falsa-íris abrem as portas do quintal.
Ao fundo, na vizinhança de uma alta pata-de-elefante, veem-se os tonéis para captação e reúso de água da chuva, sistema montado por Augusto e um amigo há dois anos. Apenas o líquido que cai sobre a horta e os banheiros é recolhido, filtrado e tratado com cloro. Com capacidade de até 550 litros, a engenhoca levou à redução da conta hídrica mensal de R$ 1 200 para R$ 400. “No primeiro mês, já cobri o custo de instalação, que foi de uns R$ 500. E hoje uso essa água na rega e na lavagem dos banheiros”, conta o chef. “É preciso ser mais sustentável.”
O filodendro e a jiboia que sobem pela parede estão entre os primeiros moradores do jardim, plantados por Augusto logo que alugou o endereço. Ao longo dos 20 anos seguintes, outras espécies chegaram, como o lírio-da-paz, a comigo–ninguém-pode e a lágrima-de-cristo. Pendendo de caixotes suspensos, sobressaem o aspargo ornamental e as ripsális.