Mesmo antes da quarta temporada começar, já estávamos órfãs de Succession. O anúncio de que esta seria a última leva de episódios sobre a família mais complexa e transtornada da TV devastou os fãs. E tem motivo: a série é uma das melhores produções já feitas pelo streaming, unindo o combo de excelente atuação, roteiro e direção com contornos estéticos apaixonantes e cirúrgicos. Se o primeiro episódio já te deixou impactada, Sarah Snook, que vive Shiv, já avisa: “Esta temporada está implacável, com altas doses de drama e risco. São episódios cheios de conflitos (e tentativas de resolvê-los). Acredito que a audiência vai ficar satisfeita”, conta a atriz. A seguir, uma entrevista exclusiva com ela:
Quão satisfeita você está com a conclusão da história de Shiv?
Enquanto atriz, totalmente satisfeita, sem sombra de dúvidas. Foram anos de tantas complexidades e ângulos interessantes para trabalhar, brincar, tantas emoções juntas. É uma sensação de que todos os personagens foram além do que era esperado [nesta temporada]. E agradeço ao Jesse [Armstrong, criador, roteirista e diretor] por isso.
Kieran Culkin comentou em entrevista que você ficou bem abalada com o final da série. Foi isso mesmo?
Sim, fiquei realmente chateada! Estava lendo o último episódio da temporada no carro, a caminho da reading room [quando os atores se reúnem para ensaiar a leitura do roteiro]. E foi estranho, porque tive a sensação de que “ok, acaba aqui” [na página], mas, chegando lá, Jesse confirmou que estava terminando definitivamente. Foi difícil de ouvir. Por outro lado, foi bom, porque pude viver todo o meu luto, catarse e choro de uma vez e, assim, aproveitar mais as filmagens desses 10 episódios.
Falando em emoções: o primeiro episódio da quarta temporada tem uma cena devastadora entre Tom e Shiv, possivelmente um dos maiores manipuladores de Succession. Quais são suas memórias de filmar essa cena?
Essa foi uma das nossas primeiras cenas depois que voltamos a gravar a série. Shiv tem uma máscara, muitas formas de defesa e paredes emocionais. Ela não está tão interessada em ser invulnerável. Mesmo com todas as declarações que faz – “nós deveríamos terminar”, “nós não deveríamos ficar juntos” –, mesmo que ela esteja falando sem emoção, ela está querendo que Tom discorde dela de certa forma. O fato de que ele não o faz toda vez é como um corte de uma pequena faca, outro estilhaço. Há uma falta de comunicação acontecendo entre eles. Há uma necessidade desesperada um do outro, mas uma incapacidade de expressar isso.
Você tem outro grande momento no primeiro episódio. Shiv diz que Logan é um sociopata, mas não seria um bom torturador – “não porque ele não tem estômago, mas porque não tem paciência”. Como única filha, quão diferente da inimizade de seus irmãos é a inimizade de Shiv em relação a Logan?
Não acho que ela seja particularmente mais ou menos empática com o pai neste momento. Acho que ela se sente tão traída por ele quanto por sua mãe, e também por Tom. Ela se sente um pouco nua em termos de relacionamento familiar. Não há muitas pessoas a quem ela possa recorrer e está presa com seus irmãos pela primeira vez. E esse é um território desconhecido para ela.
Na verdade, eu disse “inimizade” em vez de “empatia”, embora você meio que tenha respondido a isso. Mas ela sente um ódio mais profundo por ser a única filha, e ela foi marginalizada, marginalizada e brutalizada pelo patriarcado mais do que seus irmãos?
Eu acho que com certeza. Ela é muito parecida com Logan em várias coisas. Uma delas é que Logan vem de um passado em que se sente o azarão. Ele teve que lutar pelo que conseguiu, teve que trabalhar para chegar ao topo, porque tinha algo contra o que lutar. Shiv, da mesma forma, tem que lutar contra isso em sua dinâmica familiar. Ela tem o pai e os irmãos. E ser a única mulher em uma indústria dominada por homens [significa] que as circunstâncias estão contra ela. E ela tem ambições acima disso, então precisa lutar contra todas elas.
Quarenta episódios, 40 horas: qual foi sua cena favorita de filmar?
São muitas! Qualquer coisa com Matthew ou Kieran estão nas mais incríveis. Eles são sempre os mais divertidos, impossível não rir ao lado deles. E qualquer cena em que temos os quatro irmãos juntos.
Na verdade, há uma cena que nunca foi editada, que foi o último episódio da segunda temporada, quando estávamos na Croácia, no barco, e jogávamos cartas. Estranhamente, eles usaram a miniatura para a promoção do episódio, mas a cena nunca entrou no episódio. Eu acho que foi o meu favorito para filmar porque de repente você entendeu por que esses irmãos se amam, e por que eles não conseguem se separar, e por que eles são viciados e seduzidos pela amizade um do outro – mas depois rejeitados um pelo outro por conta da ambição individual de cada um. Então, jogar cartas com eles foi memorável. Neste super iate, com Dubrovnik ao fundo – simplesmente incrível.
Como você se sentiu filmando sua cena final?
Nós filmamos fora de ordem. Portanto, a cena final que gravamos no último dia foi bastante lúdica e divertida. Foi em uma cozinha. Pode não fazer o corte, mas foi a coisa certa para terminar, porque havia uma brincadeira nisso, eu acho. Então, no final, não parecia que as apostas eram tão altas quanto seriam com uma cena que poderia ter terminado com a gente precisando chorar ou algo assim. Uma vez que a câmera parou de gravar, uma vez que eles gritaram “corta!”, todo mundo estava chorando de qualquer maneira. Você não pode escapar da realidade quando ela está bem na sua frente, foi muito triste.
Se você pensar naquela primeira mesa de leitura para o primeiro episódio da primeira temporada, em 2016: como estar neste programa mudou sua vida?
Enormemente. Quem eu sou agora comparado a quem eu era quando tinha 27 anos… Mudanças na vida pessoal, na vida profissional. Eu cresci como atriz, como pessoa; tive uma experiência diferente no que fui desafiada a fazer. E viajei tanto! Eu conheci excelentes atores, colaboradores e criativos [envolvidos na produção]. Realmente mudou minha vida!