Ao sair do elevador, no segundo andar da Pina Estação, em São Paulo, uma espécie de teatro vermelho invade o olhar. “Drama”, pensei comigo mesma. O tapete na cor intensa reveste o piso e obras em diversas plataformas se organizam no espaço de maneira a permitir que o visitante transite nessa peça aberta.
Assim é o setting da exposição Regina Parra: Pagã, em cartaz até o dia 13/8. O projeto experimental, com curadoria de Ana Maria Maia, ganha contornos a partir das pesquisas da artista sobre o corpo feminino, prazer, liberdade e insubordinação. “Foi uma inquietação feminista mais aguda, pensando no Brasil principalmente. O desejo da mulher ainda é visto como perigoso, o corpo, um tabu”, conta a artista à CLAUDIA.
Dividida em nove cenas, a mostra-instalação parte da história de Pagã, personagem arquétipo da mulher que entrega seu corpo a Dionísio, pronta para descer ao nível animal, deseducando-se da razão mental e se entregando para uma experiência além. “Quis transformar isso em uma exposição sensorial, para ativar [os sentidos] de quem vem ver. Porque, para mim, todos os trabalhos passam pelo corpo, é a experiência mais intensa. Afeta não só o olhar.”
Ato presente na Cena 2, estrutura com três pinturas, sendo uma delas a Pagã II (foto), que remete a essa espécie de ritual com o seu lado mais instintivo. Outra potência da exposição de Regina Parra mora na música, criada e performada pelo músico Ian Gottlieb a partir do que seriam os gritos e murmúrios de dor da língua grega. Ela ressoa em looping, com delicadeza e profundidade. A Cena 3 é acompanhada de figurinos (foto abaixo) criados por Marina Dalgalarrondo, estilista da ÃO, para a figura da mulher Electra. Entrada gratuita. pinacoteca.org.br