Em 10 de abril de 1970, Paul McCartney deu uma entrevista confirmando o que os fãs temiam. Os Beatles tinham acabado depois de 10 anos decisivos e bem-sucedidos na cultura pop do século XX. McCartney alegou que “diferenças pessoais, profissionais e musicais” dividiram a banda. “Acima de tudo porque eu me divirto mais com a minha família”, resumiu ele.
Ao admitir que não sabia se o fim era definitivo, a legião de fãs se apegou às esperanças de uma volta que nunca aconteceu e que foi literalmente assassinada com a morte de John Lennon, em 1980.
“Para quem os acompanhava de perto, o anúncio do fim não foi uma surpresa”, comenta a escritora Lizzie Bravo, que conheceu pessoalmente a banda ainda 1967 e participou de uma faixa de No One’s Gonna Change Our World, fazendo backing vocals (ela faz um relato pessoal e exclusivo para CLAUDIA sobre os Beatles). “Antes eles estavam sempre juntos, chegavam e saíam do estúdio juntos, iam para os lugares juntos… aí começaram a ter suas próprias famílias e prioridades, chegavam para tocar em horários separados, etc”, ela conta. “Mas como não poderia ser diferente, eles pararam no auge e com um álbum primoroso. Não se estenderam por dinheiro ou outras razões. Não houve igual a eles”, ele ainda se emociona.
Os quatro jovens de Liverpool que buscavam fama na música nunca imaginaram que seriam tão definitivos para a cultura Pop. Tanto que, dois dias depois da entrevista, a NASA comunicou aos astronautas da Apollo 13, que estavam na órbita da Lua, o fim da banda. Os registros do seguinte diálogo são oficiais:
– “Queríamos saber das notícias [da Terra]”, perguntou o comandante Jim Lovell (eternizado no cinema por Tom Hanks no filme Apollo 13).
– “Não tem muita coisa”, admite o técnico da NASA em Houston. “Os Beatles anunciaram que não vão mais tocar como um grupo. Foi reportado que o quarteto juntou mais de meio bilhão de dólares durante sua curta carreira, no entanto os rumores de que eles vão usar esse dinheiro para começar seu próprio programa espacial são falsos”, brinca o técnico.
-“Acho que podemos pedir um empréstimo”, emendou Lowell.
Se até no Espaço os Beatles eram relevantes, pode-se imaginar como eram na Terra. Se quisermos resumir, é possível dizer que eles ‘mudaram tudo’. Música, roupas, costumes, marketing… tudo.
A começar pelo fato que escreviam e cantavam suas próprias músicas. Não era costume antes deles e virou praticamente uma regra depois. Com a visão do empresário Brian Epstein, que determinou os ternos e cortes de cabelo (hoje clássicos), a mídia era conscientemente usada para divulgar a banda e ajudou a fazê-los famosos mesmo fora da Inglaterra. Quando estouraram, os bares e teatros logo não eram suficientes para as apresentações dos quatro e a partir daí shows de ‘super bandas’ passaram para os estádios. Os Beatles foram os primeiros a fazer isso, em 1965, em Nova York.
Também foram eles que saíram na frente com os videoclipes musicais. A banda estava sobrecarregada de trabalho e teve a ideia de gravar um vídeo promocional de suas novas canções e enviar para as emissoras de TV nos EUA, assim poupando desgaste, custo e aparições ao vivo nos principais programas de auditório. Isso, em 1966. Ah sim, também deram um tempo em agendas ininterruptas de shows e tiraram ‘férias’, algo que nenhum outro artista tinha a liberdade de fazer (nem Elvis).
Na parte musical, além de canções antológicas testaram e estabeleceram técnicas de gravação nos estúdios que ainda hoje são adotadas por músicos. E, se não bastasse a genialidade, instituíram a criação de ‘álbuns conceituais”, com o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Dois anos antes de separarem, os Beatles foram os primeiros artistas a terem um programa transmitido via satélite para todo o mundo, em 1967, onde divulgaram uma mensagem de paz (com a canção All We Need Is Love). O padrão de tempo de uma música de 3 minutos, idealizada para poder tocar em rádio, também foi mudado por eles: Hey Jude tem 7 minutos, por exemplo. Para completar, os quatro opinavam sobre questões políticas, pacifistas e buscaram desenvolvimento de fé e alma em outras culturas e religiões. Em resumo, praticamente nada criativo foi feito sem a influência dos Beatles, não importa o campo.
Dessa forma, quando em 1969 eles fizeram a última apresentação juntos – cabeludos e mais velhos – eles de novo fizeram história. Decidiram gravar e cantar em cima do telhado do prédio da gravadora a canção “Don’t Let Me Down” (Não me decepcione), que, para muitos foi o que fizeram em seguida aos fãs. Em sua entrevista anunciando a separação dos Beatles, McCartney respondeu quais eram os planos pessoais ao deixar a banda: “Meu único plano é amadurecer”, ele disse.
Meio século depois, os Beatles continuam influentes e rendendo dinheiro (a letra escrita à mão de Hey Jude foi leiloada esse mês por mais de 2 milhões de reais) e, para os fãs, eles sempre serão deuses.
Reveja os Beatles cantando Hey Jude: