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O que “Homem com H” revela sobre o ícone Ney Matogrosso?

Segundo o diretor, Esmir Filho, o artista se tornou um ícone ao atravessar as regras sociais e criar as suas próprias

Por Beatriz Lourenço
30 abr 2025, 18h00
Homem com H
Homem com H (Divulgação/Divulgação)
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A cinebiografia Homem com H, dirigida por Esmir Filho, estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira. O filme retrata a trajetória de Ney Matogrosso desde a infância até sua consagração como ícone da música brasileira. A produção aborda momentos marcantes tanto de sua vida pessoal, quanto de seus momentos artísticos – como a passagem pelo grupo Secos & Molhados e a relação complicada com o pai.​

Delicado, o longa conta com cenas que fazem rir e chorar, às vezes tudo ao mesmo tempo. O espectador entende, por exemplo, que Ney precisou acreditar em si próprio quando todos à sua volta duvidavam.

Também vemos que ter liberdade para amar é a coisa mais importante de sua vida. No elenco, estão Jesuíta Barbosa, Caroline Abras, Hermila Guedes e Bruno Montaleone

Em entrevista, o diretor Esmir compartilha os desafios de retratar a vida de um artista tão singular e a importância de representar fielmente sua história. Confira:

Entrevista com Esmir Filho, diretor de “Homem com H”

CLAUDIA: O Ney Matogrosso tem um legado vivo que atravessa gerações. O que o filme acrescenta a ele e ao público?

O Ney tem uma história maravilhosa. Todos conhecem ele no palco. Mas como ele chega e como ele sai de lá? O filme fala sobre todas as experiências que ele viveu para se tornar o artista que é hoje. Tudo isso que ele emana e que todo mundo vibra quando o vê vem da história de um homem que passou por muitos obstáculos.

A relação dele com o pai, por exemplo, foi opressora. Mas, ao mesmo tempo, um motivo para ele se fortalecer diante de tantas outras figuras de autoridade no mundo. Acho que muitos fãs têm vontade de entender como esse ser que é tão exuberante no palco vive a vida privada.

Esmir Filho e Jesuíta Barbosa nos bastidores de Homem com H
Esmir Filho e Jesuíta Barbosa nos bastidores de Homem com H (Marina Vancini/Divulgação)
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CLAUDIA: Percebemos que ele passou por momentos muito difíceis, mas hoje não demonstra sofrimento. Você acha que ele esconde a dor ou encontrou um meio de subverter o sentimento?

Acho que o palco é o lugar onde ele extravasa tudo. E como ele está sempre no palco, tem essa oportunidade de fazer dele, um lugar de expressão. Mesmo quando ele sobe no palco pela primeira vez e decide adotar o nome do pai, é uma forma de lidar com toda a dor da repressão. E o público, quando aplaude, é como se fosse uma afirmação de que ele merece estar ali.

CLAUDIA: E vendo biografias de artistas dessa época, percebemos que eles cantavam o que eles viviam e o que eles sentiam. Você sente que hoje esse cenário mudou? Estamos menos autênticos?

Não acho, não. Há artistas muito lindos hoje trabalhando formas de expressão. Amo a Filipe Catto, a Céu, a Letrux, Liniker… A diferença é o tempo. Estamos falando de pessoas que viveram muito e as vozes deles, os versos, as canções ecoaram por gerações. Isso é uma grandeza que só se conquista com muitos anos de carreira. Com muito respeito aos artistas jovens e tudo o que eles estão produzindo, entenderemos no futuro o legado que eles estão deixando.

E hoje olhamos com muito afinco para quem está com 70 anos e continua tão jovem quanto eram nos anos 1970. Isso nos inebria porque eles contrapõem o estereótipo de vovozinhos e vovozinhas – olha só a explosão de sensualidade de Ney, Marina Lima, Simone, Caetano, Maria Bethânia. Parece que nunca deixaram de ser jovens. 

Homem com H
Homem com H (Divulgação/Divulgação)

CLAUDIA: A mãe do Ney é um pilar na vida dele e isso fica subentendido. Como você percebe a conexão entre os dois?

É a coisa mais linda porque ela é uma mulher que ainda está viva e isso surpreende as pessoas. A vivacidade dele veio da mãe, que tem 103 anos. Eles seguem muito próximos e ele sempre está cuidando dela. O filme mostra o quanto ela apoiou e combateu o pai, era ela que comandava aquela casa. Eu gosto muito da coragem dela.

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CLAUDIA: Ele tem um significado muito grande para as mulheres quando falamos sobre liberdade e autonomia. Como você percebe esse movimento de um homem influenciando mulheres?

Quando eu pensava em Homem com H, sentia que esse nome era forte demais. Porque a palavra Homem pode ser opressora para muitos corpos. E, ao mesmo tempo, os homens aprendem códigos culturais e sociais ao longo da vida – por orientação ou imposição – que parece uma espécie de performance. A masculinidade é um terreno imposto.

E o Ney, atravessou essa coreografia e criou uma própria. Quando ele canta a música Homem com H, é claro que ele debocha ali do macho e afirma: “eu sou assim, danço assim, desejo assim, amo assim”. Ele combate o território do masculino. E acho que é por isso que toca tanto as mulheres e muitos homens também. Não tem a ver com sexualidade, mas com entender a necessidade de romper com algumas regras.

CLAUDIA: Um dos temas tratados no filme, que rende cenas emocionantes, é o HIV. Qual é a importância de, ainda hoje, trazer luz ao estigma que o vírus carregava?

O audiovisual retrata muito o HIV. Só que ainda há alguns estigmas porque as pessoas não sabem nem que, por exemplo, há tratamento para o HIV e, com ele, não tem transmissão. 

Quando pensei em mostrar essa época, tive muito cuidado para não cair nisso de ficar retratando muito a doentização do corpo. Óbvio que ocorreram muitas mortes e a gente fala sobre isso, mas procurei mostrar de forma simbólica. Quis falar de quem cuidou dos amigos, quem tratou com muito amor, e o Ney foi essa pessoa – e também um sobrevivente. Ele mesmo diz no filme que não fez nada diferente de ninguém e, no entanto, não contraiu o vírus.

Homem com H
Esmir Filho e Ney Matogrosso nos bastidores de Homem com H (Renato Hojda/Divulgação)
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CLAUDIA: Em algumas cenas, há um grande quadro feito por Keith Haring – ícone das artes visuais. Qual é a relação entre os dois?

Esse é um easter egg maravilhoso! O Ney fez uma apresentação no festival de Montreux, em 1983. No palco, e do lado dele, Keith Haring está fazendo esse mural. Quando ele termina, o Ney quer levar o quadro mas não pode porque a tinta ainda não está seca. No dia seguinte, quando ele foi buscar, o quadro havia sido roubado. 

Então, tivemos a liberdade poética de fazer uma réplica exata daquele mural e colocar na cabeceira da cama dele no filme. A tela sempre foi dele, mas ninguém sabe onde está – e essa é a beleza do cinema. Ressignificamos o roubo!

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