A Netflix registrou um aumento significativo na taxa de cancelamentos desde o mês passado, quando lançou o filme francês Mignonnes (ou Cuties, como ficou conhecido em inglês). Segundo a consultoria YipitData, a plataforma teve oito vezes mais cancelamentos do que antes do lançamento da produção.
Dirigido por Maïmouna Doucouré, o filme discute a hipersexualização de jovens pré-adolescentes. Apesar de ter sido bem recebido no festival de Sundance, chegando a render um prêmio de Melhor Direção, os usuários da plataforma, principalmente os mais conservadores, começaram um movimento de boicote à Netflix.
Com a hashtag #CancelNetflix, a comunidade conservadora norte-americana começou com a onda de cancelamentos de assinaturas da plataforma. No Brasil, Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, se manifestou sobre o assunto em seu perfil no Twitter.
“Chega de erotizar nossas crianças. Chega de conteúdos que incentivam pedófilos a praticarem seus atos libidinosos na vida real contra crianças”, disse no Twitter.
Em entrevista à revista americana Variety, Ted Sarandos, co-CEO da empresa, se defendeu: “O filme fala por si. É uma história muito pessoal sobre crescimento, é a história da diretora. O filme foi muito bem em Sundance, sem essa controvérsia, e muito bem nos cinemas da Europa, sem essa controvérsia”, disse. “É um pouco surpreendente que, em 2020, a gente esteja discutindo censurar histórias aqui nos Estados Unidos”, completou.
Entenda a polêmica
Cuties se envolveu em uma polêmica quando a Netflix divulgou uma imagem promocional que mostra as protagonistas do filme, meninas francesas de 11 anos, posando de maneira sensual em um concurso de dança.
O pôster causou indignação e assim começaram os movimentos por cancelamentos. No entanto, a foto de divulgação da plataforma é totalmente diferente da divulgação original francesa, o que fez com que a mensagem principal por trás do filme ficasse distorcida.
Na ocasião, a empresa pediu desculpas pelo ocorrido e substituiu o pôster. “Nós pedimos desculpas profundas pela arte inapropriada que usamos para Mignonnes/Cuties. Não foi OK e não representou o filme francês que ganhou um prêmio em Sundance. Nós atualizados as imagens e a descrição”, escreveu a Netflix no Twitter.
We're deeply sorry for the inappropriate artwork that we used for Mignonnes/Cuties. It was not OK, nor was it representative of this French film which won an award at Sundance. We’ve now updated the pictures and description.
— Netflix (@netflix) August 20, 2020
Em artigo publicado no Washington Post, Doucouré defendeu o filme, revelando que a ideia para a obra veio após um evento comunitário em Paris, que a inspirou a entrevistar meninas de 10 e 11 anos de idade.
“As histórias que as garotas com quem conversei compartilharam comigo eram notavelmente semelhantes. Elas viram que quanto mais sexy uma mulher é no Instagram ou TikTok, mais curtidas ela consegue. Elas tentaram imitar essa sexualidade na crença de que isso as tornaria mais populares (…) O problema, claro, é que não são mulheres e não percebem o que estão fazendo. Elas constroem sua autoestima com base nas curtidas nas redes sociais e no número de seguidores que possuem”, disse.
Em outra entrevista, desta vez à Time, Doucouré afirmou que “o filme tenta mostrar que nossas crianças deveriam ter o tempo necessário para serem crianças, e nós, adultos, deveríamos proteger sua inocência e mantê-las inocentes o máximo possível”.
Assista ao trailer, em inglês, de Cuties abaixo: