Os desafios da lenda de “Mulan”, o filme
CLAUDIA conversou exclusivamente com o produtor e a figurinista do filme sobre os bastidores da produção
O lançamento de “Mulan” foi uma das principais vítimas da pandemia. Previsto para chegar aos cinemas justamente quando o mundo parou, a estreia foi sendo adiada por meses até que a Disney jogou a toalha e acabou com o suspense. Mesmo com os cinemas voltando a abrir nos Estados Unidos, o filme vai direto para a plataforma de streaming Disney+, com previsão para 4 de setembro por lá. O custo não será barato, o valor aluguel será de quase 30 dólares, cerca de 160 reais. A plataforma estará disponível no Brasil e a partir de novembro desse ano. Será a oportunidade para ver o filme que custou mais de 250 milhões de dólares.
Diante das circunstâncias atuais, “Mulan” será o grande teste da Disney para um novo modelo de negócio de pay-per-view. Lá fora vai funcionar assim: se quiser ver o lançamento, mesmo sendo assinante do serviço (a mensalidade está em torno de 37 reais), tem que pagar mais 29,99 dólares, totalizando em cerca de 195 reais. Para Disney, é uma aposta importante, porque se fizer lucro (ou pelo menos pagar a produção), abre um precedente.
“Mulan” é inspirado em uma história real, registrada em textos antigos, recontadas no famoso poema “Balada de Mulan” e ensinada até hoje nas escolas chinesas. Hua Mulan foi uma guerreira chinesa que viveu entre 420 e 589 depois de Cristo, quando a China sofria a invasão de um grupo étnico nômade. Ela estava lavando roupas quando soube que o exército estava recrutando novos soldados e, para salvar seu pai velho e doente, que não sobreviveria à guerra, decidiu se disfarçar de homem para substituí-lo.
Mulan se passou tão bem no papel que lutou por anos, chegando a general. Segundo a lenda, antes de uma batalha muito difícil, ela decidiu entrar no campo de batalha em roupas femininas, para que os soldados descobrissem sua verdadeira identidade. Eles ficaram ainda mais admirados. Ao fim do conflito, ela se recusou a receber qualquer recompensa e voltou para casa.
Há uma versão de um final mais trágico, em que ao retornar para seu povoado, descobriu que seu pai tinha morrido enquanto esteve na guerra. Desolada e assombrada pela violenta experiência no campo de batalha, teria se matado. Certamente, esse não é o final escolhido pela Disney.
“Mulan” tem a direção de uma mulher, Vick Caro . Poucos dias antes do que seria o lançamento do filme no Brasil, CLAUDIA conversou exclusivamente com Jason Reed, produtor do longa, e com a figurinista, Bina Daigeler. Eles falaram da experiência de recontar uma lenda em filme.
Jason, há uma grande expectativa em torno de “Mulan”, quais foram as maiores dificuldades atrás das câmeras?
Foram duas. O volume de pesquisa que tivemos que fazer para contar a história de Mulan foi uma delas. Queríamos acertar no período histórico e também ser fiel ao formato que os chineses contam a lenda de Mulan, que teve muitas variações ao longo dos séculos, ganhando nova roupagem, mas, paradoxalmente, permanecendo essencialmente a mesma. Além disso, tínhamos que combinar tudo com um clássico da Disney amado por gerações, precisando honrar as expectativas de ser fiel à verdadeira lenda e à animação ao mesmo tempo.
E a segunda dificuldade?
Decidimos cercar a história na personagem de Mulan e queríamos que a jornada dela fosse sentida como autêntica, que traduzisse o perigo, a excitação e a conexão emocional que ela tinha com outras personagens. Por isso foi essencial filmar em locações verdadeiras, fora dos estúdios, que eram isoladas e sem infraestrutura. Demandou um deslocamento extremamente difícil, logisticamente falando.
E ter a direção foi de uma mulher impactou o resultado?
Ela era a melhor criativamente para o projeto. Vicky Caro é a minha Mulan: inspiradora, comandando uma equipe grande com compaixão e sensibilidade. Fez de uma história especifica, universal. Vicky trouxe a autenticidade para o filme que era importante.
Os figurinos e a pesquisa histórica
E Bina, como para você o trabalho de pesquisa para o filme?
A pesquisa foi intensa e tive a oportunidade de viajar para a China, para me inspirar e conhecer um pouco melhor a cultura chinesa in loco. Foi ótimo ter liberdade de não ser um documentário, portanto pude ser criativa e pensar apenas em ser lindo.
A animação te limitou de alguma forma?
Peguei mais o espírito, mas no filme é possível fazer tão mais, com os tecidos, as luzes, as possibilidades são maiores, os bordados, as texturas fazem o filme mais rico.
O que você leva de Mulan em especial para sua carreira?
Foi uma viagem onde aprendi muito e cresci como profissional. Mulan é a jornada de uma jovem mulher que se transforma em uma guerreira, uma heroína. É a história que estamos contando, com tons contemporâneos e muita emoção.
Minha aposta fica para uma indicação ao Oscar…
(risos) Não, sei que falam sempre isso, mas é verdade. Trabalhar em “Mulan” já foi um prêmio para mim!