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Com humor e sensibilidade, Marisa Orth leva o drama do alcoolismo ao palco

Atriz se apresenta com o monólogo 'Bárbara', no Teatro Renaissance, em São Paulo

Por Joana Oliveira
17 nov 2022, 09h31
Marisa Orth em cena do monólogo 'Bárbara'.
Marisa Orth em cena do monólogo 'Bárbara'. (Marcos Mesquita/Divulgação)
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Um porre pode render boas histórias com os amigos. E uma ressaca daquelas, depois que passa, até pode ser engraçada. Isso quando acontece de vez em quando. Quando ocorre durante cinco dias na semana, não tem nada de divertido. Isso é o que fica claro ao assistir o monólogo Bárbara, apresentado por Marisa Orth, que está em sua segunda temporada em São, no Teatro Renaissance, onde fica em cartaz até 11 de dezembro. A atriz leva ao palco toda sua experiência de 40 anos de atuação na TV, cinema e teatro para tratar, com humor e sensibilidade, de uma epidemia quase invisível no país: o alcoolismo. “É um absurdo que se fale tão pouco sobre isso, que ainda seja um assunto tabu, quando é, na verdade, um grande problema de saúde pública”, afirma a atriz em entrevista a CLAUDIA.

O texto de Bárbara é uma adaptação do livro A Saideira:  Uma Dose de Esperança Depois de Anos Lutando Contra a Dependência (Planeta), uma autobiografia da jornalista Barbara Gancia, que narra seus 30 anos de bebedeira até entender que tinha uma doença e tratá-la. “Porque, sim, o alcoolismo é uma doença”, ressalta Marisa. Formada em Psicologia (sem nunca ter exercido a profissão), a atriz conta que frequentou reuniões de narcóticos ou alcoólicos anônimos para colher depoimentos e se preparar para o papel do primeiro monólogo de sua carreira. “Quando eu li o livro, com a prosa magistral de Barbara, pensei ‘gente, isso aqui não dá uma peça, não é possível’.” Foi o diretor Bruno Guida quem a convenceu a interpretar o texto de Renata Alvim.

Em muitos momentos fiel ao livro que lhe deu origem, o monólogo traz as muitas histórias de bêbada da personagem, desde os inúmeros acidentes de carro até o dia em que acordou com um corte profundo na cabeça, encharcada de sangue no chão da sala, sem ter ideia de como havia chegado ali. Só podia ser mesmo Marisa Orth a encenar tudo isso sem cair no clichê do dramalhão. Quando ela sobe ao palco, toda a plateia sorri, instintiva e coletivamente. É difícil, afinal, não pensar em comédia quando se está frente a frente com a intérprete da inesquecível Magda, de Sai de Baixo. E, em Bárbara, esse riso também se transforma em gargalhada, mas, muitas vezes, com um toque ácido no final da piada, que faz a gente se peguntar: “Eu deveria estar rindo disso?”

“O humor e a ironia estão muito presentes no texto da Barbara e tínhamos que manter isso”, conta Marisa. Ela lembra de quando a jornalista acompanhou um de seus ensaios e lhe disse: “Por favor, não vamos esquecer que minha vida era uma festa, tem que ter alegria, celebração!” Por isso, o espetáculo se equilibra nessa linha tênue entre drama e comédia, sem chegar a ser tragicômico (não, é mais refinado que isso). E esse, para a atriz, foi o maior desafio. “Por isso só quis fazer um monólogo quando me sentisse uma atriz mais madura, experiente”, conta.

Marisa diz que a atuação é uma “profissão aparentada com o pânico”, na qual o medo de falar, pelo menos para ela, é constante. O outro lado da moeda, no entanto, é surpreender o público no meio de um “hahahahahah” com uma reviravolta pesada no meio da frase e ouvir um silêncio quase constrangedor. Em Bárbara, ela faz isso com maestria. Principalmente porque a obra não fala apenas da dependência química, mas também de um desassossego constante, de uma insatisfação perene tão típica da nossa contemporaneidade e tão democrática que não atravessa apenas quem se agarra num copo de bebida. “A gente fala muito de ansiedade. Você pode nunca ter bebido na vida, mas o que você está fazendo se come compulsivamente, se trabalha compulsivamente, mesmo quando está doente?”, questiona a atriz.

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Por isso, também há quem chore. Em mais de uma ocasião. E se tem uma coisa que Marisa aprendeu com esse trabalho é quase impossível encontrar uma família brasileira sem história de dependência alcoólica ou química. “Já vi gente rica chorando para caramba, já vi gente pobre chorando para caramba. Tem mães que perderam os filhos para essa doença, tem filhos que perderam os pais… É muito fácil beber no Brasil. Menores de idade têm acesso fácil ao álcool e ele é muito barato. Precisamos reconhecer essa realidade”, lamenta.

Depois de publicar seu livro, a jornalista Barbara Gancia passou a falar em escolas e outros espaços sobre a própria experiência e a importância da prevenção ao vício. Um trabalho social que Marisa admira. Ela espera que o monólogo chegue também nesse lugar de consciência. Esse também é, afinal, o papel da arte.

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