A influência de Marieta Severo no cinema brasileiro é indiscutível – e, aos 77 anos, a atriz está determinada a dar à luz histórias que lhe tocam intimamente. É o caso do filme Domingo à Noite, que estreou nos cinemas brasileiros em 4 de abril.
O longa lhe garantiu o prêmio de Melhor Atriz no Madrid Film Awards 2023, e em que atua ao lado de Zé Carlos Machado e Natália Lage. O longa, dirigido por André Bushatsky, acompanha a vida de Margot, de 75 anos, (não-coincidentemente) uma das maiores atrizes do Brasil.
Papel de cuidadora
Ela é casada há mais de 50 anos com Antônio, um premiado escritor, que vive em um estado avançado de Alzheimer. Para além dos cuidados que tem com o marido, Margot se vê diante de mais um grande e assustador desafio. Ao perceber que não está mais conseguindo decorar as falas de sua nova peça, ela acaba recebendo o mesmo diagnóstico do marido.
“O roteiro traz à tona a questão da memória na arte. Como artistas, nosso maior e único material somos nós mesmos – com nossas histórias e nossas memórias – e é apenas através delas que vamos resgatar emoções e incorporar personagens. Nós somos o que a gente lembra, é o que constitui nosso presente e nosso futuro”, disse a Marieta à CLAUDIA.
Para a atriz, foi marcante viver Margot. Na vida real, Marieta assumiu o papel de cuidadora do seu marido e diretor de teatro Aderbal Freire Filho, que sofreu um AVC em 2020 e faleceu no ano passado. “Foi um filme que eu tive a sensação de estar pisando em ovos o tempo todo”, diz.
Similaridade com vida real
“Tudo nesse filme foi muito difícil. Estar no lugar de uma mulher que cuida de um parceiro que está incapaz foi muito difícil, mas, ao mesmo tempo, a arte tem esse poder de separar as vivências do roteiro. Eu olho para o filme e não tem a Marieta lá, da maneira como eu lidava com aquilo”, completa a atriz.
A passagem do tempo também repercutiu na parceira de cena Natália Lage, que vive a filha da protagonista. “Agora, aos 45 anos, comecei a me dar conta do que é a velhice, tanto para mim, quanto para as pessoas queridas. O filme foi uma chamada de despertar, me fez perceber o quão necessário é preservar os nossos afetos”, diz.
De falta de afeto, o filme não sofre. É difícil não se envolver com o drama e as delicadas relações familiares que Margot vai tecendo ao longo do história. “O filme fala muito de um amor que a Margot quer preservar de qualquer maneira. Ela é a depositária desse amor e é apenas ela que leva adiante”, diz Marieta.
Planos para o futuro
A atriz, que ao longo de 13 anos viveu a matriarca Dona Nenê, em A Grande Família, da TV Globo, vê com otimismo os papeis que vêm desempenhando: “Eu tenho o grande privilégio de retratar o ser humano em todas suas vivências. E o ser humano vive coisas em qualquer idade”.
“Eu estou com 77 anos, e eu estou com quatro filmes em editais de quatro personagens diferentes. No fim, sempre vai ter uma avó ou uma mulher da terceira idade. O ser humano tem que ser retratado em todas suas fases, idades e problemáticas. Sei que sempre vou ter novas personagens para fazer”, completa.