Luedji Luna reflete sobre deluxe de ‘Bom Mesmo É Estar Debaixo d’Água’
O Lado B do segundo álbum de Luedji Luna traz um lado mais direto, humano e descontraído da cantora
Após ser indicada — e se apresentar — no Grammy Latino, Luedji Luna, que vem crescendo cada vez mais na indústria musical, lançou a versão deluxe de seu segundo álbum de estúdio: Bom Mesmo É Estar Debaixo d’Água. Com canções intimistas e vulneráveis — o que inclui a faixa ‘Pele’, primeira composição que Luedji realizou na vida —, o projeto traz a cantora expandindo o poderoso universo do álbum original de maneiras surpreendentes.
Com produções de nomes como John Key, que trabalhou ao lado de artistas como Solange Knowles, e participações especiais de Mereba, YOÙN, N.I.N.A, Oddisee,Sango, Be-Atrz e Theo Zagrae, o projeto é uma parada obrigatória para quaisquer fãs de música. A seguir, você confere o papo empolgante de CLAUDIA com a artista:
CLAUDIA: O que te motivou a disponibilizar as novas faixas do álbum? Houve alguma razão específica?
Luedji Luna: O Bom Mesmo É Estar Debaixo d’Água original nasceu num contexto pandêmico, onde fiquei um tempo sem fazer shows desse álbum. Então, o deluxe foi pensado como uma maneira de prolongar a vida deste projeto, com canções que poderiam estar na versão tradicional, mas não fizeram sentido naquela época, seja por estourar a duração do disco ou não encaixarem na história do ‘standard’. Mesmo assim, são canções que se conectam tematicamente com o primeiro álbum lançado. E óbvio, por eu ser compositora, acabei percebendo que eu tinha várias canções de amor que poderiam estar no projeto. No fim das contas, toda a ideia acabou virando quase um ‘Lado B’ para o original. Considero até mais como um segundo volume do que uma versão deluxe.
CLAUDIA: Como foi o processo de criação do disco original? Você lembra do momento em que a ideia deste projeto surgiu?
Luedji Luna: O disco original nasceu após um processo de aceitação. Olhei para o tema do amor e afeto a partir das perspectivas das mulheres negras, e claro, levando em consideração as minhas próprias experiências. As artistas convidadas, tanto no primeiro álbum quanto neste segundo, me ajudaram com isso. Isso ampliou o olhar do projeto acerca da afetividade das mulheres negras, sobre como nós amamos, como somos amadas e o que entendemos do amor.
CLAUDIA: E houve algum artista ou álbum específico que serviu como inspiração ou até referência para a produção do ‘Bom Mesmo’?
Luedji Luna: O ‘Miseducation’ da Lauryn Hill foi uma das inspirações para a criação do álbum original. Esteticamente, e em termos de sons, fiquei muito na investigação do disco ‘Rose in the Dark’ da Cleo Sol.
CLAUDIA: Neste disco, você trabalhou com o John Key, que produziu alguns trabalhos fenomenais da Solange Knowles. Como foi essa colaboração criativa?
Luedji Luna: Nos conhecemos pela internet, ele me mandou algumas mensagens no Instagram dizendo que era muito fã do meu trabalho e que queria me mandar alguns ‘beats’ que tinha feito. Se eu ficasse à vontade para escrever algo em cima dessas produções, não teria problemas. Isso foi durante a pandemia. E aí, quando eu comecei a fazer o Bom Mesmo É Estar Debaixo d’Água deluxe, eu percebi, por questões estéticas e sonoras, e também pelo fato da Solange Knowles ser uma grande referência pra mim, que eu iria acolher esses beats. No fim, há duas produções dele no novo disco.
CLAUDIA: Ainda falando sobre produção, qual foi o maior desafio sonoro que você enfrentou neste disco, e que, em seu álbum de estreia, ainda não havia sentido?
Luedji Luna: O desafio foi admitir que eu iria cantar canções antigas. Pele foi a primeira música que escrevi, com 17 anos. Eu também brincava de fazer músicas quando era criança, mas não lembro delas. Mas essa canção específica, eu escrevi por conta do meu primeiro beijo, e eu a considerava uma composição boba. Então, eu precisei me permitir ser boba: “tô” mais direta e humana. Foi um grande desafio me deslocar desse lugar místico, de entidade, que o mundo me colocou, e me permitir ser várias versões de mim, expondo a minha história.
CLAUDIA: Blue é um dos destaques do deluxe. Ela tem uma pegada jazz que consegue entregar sensualidade e sensibilidade em doses equilibradas. Como foi o processo de criação por trás desta faixa específica?
Luedji Luna: Blue também faz parte dessas canções antigas. Compus logo quando cheguei a São Paulo, e eu mesma a fiz enquanto tocava violão. Esse disco de modo geral me inspirou a trazer um elemento que eu nunca havia usado antes: o coral e os backing vocals, essa referência mais church. Então foi um processo coletivo entre eu e a banda base dentro do estúdio, cada um trazia referências de seu repertório, que ajudaram a criar essa sonoridade neo soul.
CLAUDIA: Vivemos em uma indústria musical que busca capitalizar em cima de sons virais e, muitas vezes, extremamente efêmeros. Mesmo assim, você consegue estabelecer uma identidade sonora extremamente singular. É difícil ser capaz de manter essa originalidade diante de um cenário tão sedento por propostas mainstream?
Luedji Luna: Eu sempre busco respeitar a mim mesma e a música que tem possibilitado que eu seja feliz, que eu coma, que eu sustente a minha família. A minha primeira relação é com ela. É óbvio que eu quero ser mainstream, mas eu não vou desrespeitar a música. Ela nasce com uma demanda, e eu preciso seguir a forma em que os sons querem vir ao mundo, com a estética e o jeitinho certos. Se depender de mim, sempre serei esse canal para que ela exista em sua integridade.
Abaixo, você escuta o álbum completo: