Por muitos e muitos anos, as bruxas foram vistas como mulheres depravadas, incontroláveis, histéricas, rebeldes. O motivo você, provavelmente, já sabe: a sociedade patriarcal que tentou calar por eras aquelas que eram donas de si e de uma sabedoria fundada na natureza e na manipulação de ervas, cheiros, sabores para fins de cura. Na tentativa de ressignificar essa imagem, alguns livros trazem, com base em contextos históricos, outros caminhos para pensarmos sobre a atuação das bruxas. Veja quais leituras podem te acompanhar em outubro:
O Calibã e a Bruxa
Talvez a obra mais importante para esse objetivo seja essa aqui, escrita por Silvia Federici. A escritora, historiadora e pesquisadora italiana faz um resgate do contexto histórico entre o feudalismo e o início do sistema que conhecemos hoje como capitalismo. Ali, a caça às bruxas se fundou pelo ódio às mulheres, fundada no controle do corpo, com a ideia de que serviria apenas para a reprodução e cuidado da casa. A liberdade, que antes existia, morreu, junto com tantas na fogueira. Esse mergulho analítico é extremamente esclarecedor para pensarmos a respeito de um sistema político-econômico-social que, desde a sua criação, exclui as mulheres e as minorias de suas pautas fundamentais. Qualquer semelhança com a realidade atual não é mera coincidência. (Elefante, R$ 48,03 na Amazon)
História da Bruxaria
Jeffrey B. Russel e Brooks Alexander trazem uma das pesquisas mais completas e ricas a respeito do assunto. Tradições, símbolos, comportamentos e mais se entrelaçam numa contextualização de fácil leitura e acesso (até porque o livro tem “apenas” 280 páginas). O estereótipo que as bruxas carregam ao longo da formação da nossa sociedade, inclusive na cultura, fica de lado para que os autores tragam um panorama do passado e também como a bruxaria ressurgiu e se reciclou na contemporaneidade. (Aleph, R$ 59,90 na Amazon)
As Bruxas
Um livro-reportagem fora do comum. Stacy Schiff cria uma espécie de romance para retratar um dos episódios mais sombrios (e bizarros) da história dos Estados Unidos: o tribunal de Salém e a condenação de quatorze mulheres, cinco homens e dois cachorros de bruxaria, todos executados. Os julgamentos foram controversos e o efeito do pós marcou gerações pela culpa pairando sobre a baía de Massachusetts, Nova Inglaterra. O mais interessante de notar é como a implantação do terror na aldeia foi fundamentada pelo ódio a esse grupo de pessoas e a única saída encontrada pelos outros foi o extermínio. Contudo, nada daquilo que eles pensaram era verdade. Vencedora do Pulitzer por este livro, Stacy ainda traz um paralelo com os dias atuais, onde o discurso de ódio é fomentado pelas redes sociais e possui reverberações reais (e preocupantes) no mundo físico. (Zahar, R$ 76,93 na Amazon)
Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem
Das pessoas que foram julgadas e mortas pelo tribunal de Salem, Tituba era a única mulher negra, e foi a primeira a ser condenada. Para humanizar essa figura, Maryse Condé cria uma história para ela, de nascimento, romance, percalços, até o fatídico momento que vai viver na aldeia. Ela ficcionaliza os acontecimentos para colocar a sua protagonista longe do estigma social diante das mulheres negras. É curto, intenso e doloroso, mas muito bem escrito e com uma proposta ainda mais interessante a nível social. (Record, R$ 30,50 na Amazon)
A Bruxa Não Vai para a Fogueira Neste Livro
Amanda Lovelace fez (e faz) muito sucesso nas redes sociais com seus poemas leves que colocam as mulheres em posição de destaque. Suas personagens não esperam o príncipe encantado vir salvá-las ou que o amor é a promessa de uma voz ativa no mundo. Neste volume, ela trata especificamente das bruxas, dentro dessa imagem ancestral poderosa e independente. Também com a ideia de ressignificar esse final, tal qual faz Maryse Condé, Amanda cria poemas sobre autoestima, opressão e equidade. (Leya, R$ 19,90 na Amazon)