Seja na teoria, na poesia ou no ensaio, autoras têm refletido bastante e profundamente sobre a ação política (e aqui para além da questão partidária e/ou de Estado) no nosso dia a dia. As reflexões abordam as estruturas que compõem a sociedade há séculos e como elas impedem que avencemos em questões básicas de equidade, direitos e existência plena. A seguir, conheça alguns livros que podem te ajudar a refletir:
Teoria
Doutora em história social pela USP, a professora Ynaê Lopes dos Santos escreve em Racismo Brasileiro: Uma História da Formação do País (Todavia, R$ 79,90) a intrincada relação social da nossa sociedade com as segregações e os comportamentos colonialistas. Logo na introdução, que ela mesma intitula como um “presente de grego”, numa dupla provocação, Inaê diz que “vivemos num país que reconhece a existência do racismo, mas onde ninguém se diz racista”. Mas, para refutar a ideia de que o racismo é “achismo” – aquela velha ideia de que é opinião e não algo estrutural da sociedade –, ela volta lá em 22 de abril de 1500 para caminhar pela formação do que hoje conhecemos como Brasil, e como, desde então, a nossa formação de Estado nacional é baseada no racismo. A linguagem acessível torna o que poderia ser uma leitura densa em uma aproximação.
Ensaio
Sobre a Liberdade (Companhia das Letras, R$ 99,90) é uma brilhante construção de Maggie Nelson sobre autonomia e bem-estar. Aqui, ela divide a temática em arte, sexo, drogas e clima, entre teorias filosóficas, cultura pop e cotidiano para elaborar sobre o conceito de liberdade que temos atualmente. Somos realmente livres? Existe um ideal ou uma romantização em torno do tema? Sobretudo: até onde a nossa liberdade vai no encontro com outra pessoa nas relações interpessoais? A também autora de Argonautas sabe que nada é tão fácil ou simples assim, e deixa isso bem nítido ao leitor.
Poesia
Luiza Romão é uma das poetas brasileiras mais interessantes de se acompanhar. Em Também Guardamos Pedras Aqui (Nós, R$ 54), ela revisita célebres figuras gregas para traçar um diálogo com as relações humanas de hoje. É de Aquiles, Ulisses, gregos e troianos que a autora costura seus poemas sobre armamento, patriarcado, mercantilização de afetos e leis tão ultrapassadas quanto as figuras perfeitas descritas por aqueles que moldaram o pensamento da humanidade. Somos o tempo todo transportados por um lirismo envolvente para refletir sobre a política dos homens que também é a dos corpos.