Quando começou seu trabalho como embaixadora da ONU Mulheres, em 2014, Emma Watson contou que sentia uma necessidade enorme de aprender tudo que fosse possível sobre equidade de gêneros. E então ela começou a ler, ler e ler mais um pouco.
O bichinho da leitura despertou nela outras necessidades: a de compartilhar com o mundo suas impressões sobre os livros e também a de ouvir o que os outros teriam a dizer sobre eles. Assim nasceu o Our Shared Shelf, um clube de leitura virtual em que, uma vez a cada dois meses, a atriz debate um título escolhido por ela própria com mais de 216 mil pessoas.
Atualmente, o grupo está no 20º livro, “Outros Jeitos de Usar a Boca”, de Rupi Kaur, que será discutido no dia 31 de agosto. Saiba mais sobre este título, conheça os demais 19 que já passaram pelo clube e, se tiver algum (ou alguns) que você ainda não tenha lido, coloque-os em sua listinha. Todos valem demais a leitura!
“Outros Jeitos de Usar a Boca” – Rupi Kaur
Falando sobre amor, mágoa, sexo, abuso, feminilidade, traumas, perda, sobrevivência e dor em forma de poemas, a canadense-indiana Rupi Kaur criou um dos maiores best-sellers de poesia de nossos tempos. O livro é dividido em quatro partes, cada uma com um objetivo, como se fossem curas específicas. Mesmo tratando de assuntos por vezes pesados, é tudo muito delicado, da forma como ela escreve às ilustrações.
“O Conto da Aia” – Margaret Atwood
O livro que deu origem à série “The Handmade’s Tale” foi o primeiro do clube de leitura de Emma. Aqui conhecemos um (assustador) futuro distópico em que as mulheres são divididas em categorias de acordo com sua “utilidade” (esposa, salvadora, aia etc.) e não têm direito nenhum. A história é contada sob a ótica de Offred, uma aia separada de seu marido e de sua filha quando o país passou pela terrível transformação que levou a este estado das coisas.
“O Mito da Beleza” – Naomi Wolf
Um dos maiores clássicos sobre a construção da tal “aparência feminina ideal” pela publicidade e pela indústria da moda e como ela acarreta em uma relação muito pouco saudável entre as mulheres e seus corpos. Os padrões de beleza irreais que nos atingem diariamente são apontados, analisados e decifrados. Impossível acabar essa leitura enxergando até as vitrines das lojas da mesma maneira que antes.
“Mulheres Que Correm Com Os Lobos” – Clarissa Pinkola Estés
Outro super clássico sobre o feminino, mas com outra abordagem. Aqui, 19 contos de fadas e histórias folclóricas em geral são analisados no sentido de descobrir o que significa ser mulher na nossa realidade. Entre os títulos analisados estão “O Barba Azul”, “Patinho Feio” e “Sapatinhos Vermelhos”.
“Os Monólogos da Vagina” – Eve Ensler
Depois de entrevistar 200 mulheres de várias idades, profissões e nacionalidades sobre a vagina, a autora Eve Ensler ficou preocupada com a forma cheia de tabus como nos relacionamos com o que gira em torno da vagina, da percepção do corpo ao sexo, passando pela menstruação e pelo parto. Aí nasceu este livro, cheio de histórias loucas, extravagantes, hilárias e comoventes.
“A Cor Púrpura” – Alice Walker
Uma obra-prima, simplesmente. Conhecemos a história de Celie, uma garota negra de 14 anos que foi abusada pelo pai, teve dois filhos dele e acabou sendo obrigada a se casar com o “Sinhô”, de quem também sofre abusos sexuais e psicológicos. Os acontecimentos são contados por ela em cartas (nunca enviadas) que escreve para Deus e para sua irmã, Nattie. Ganhou o prêmio Pulitzer e foi transformado no filme estrelado por Whoppi Goldberg e dirigido por Steven Spielberg. Leia o livro, veja o filme.
“O Poder” – Naomi Alderman
Este título chamou a atenção principalmente depois que Barack Obama o apontou como um de seus livros favoritos em 2017, mas merecia destaque mesmo antes disso. É um romance-dentro-do-romance que imagina um mundo em que garotas adolescentes têm uma arma poderosa e mortal que muda tudo: elas passam a ter o poder de eletrocutar outras pessoas, com requintes de crueldade. Ao perceber que não têm mais o domínio das situações, os homens ficam acuados.
“Hunger: A Memoir of (My) Body” – Roxane Gay
Roxane se abre sobre a complicada relação com seu corpo, seu peso e a comida que se desencadeou depois de ela sofrer um estupro coletivo aos 12 anos. Ela relata como se apoiou na comida para tentar superar esse trauma terrível, o que fez com que ela ganhasse muito peso e passasse a ser vista como uma pessoa mórbida. No meio do desabafo entram também suas relações com a família e amigos.
“Heart Berries: A Memoir” – Marie Therese Mailhot
É um livro que se lê rápido, apesar das 160 páginas – o que não quer dizer que seja uma leitura simples. Marie Therese, mulher indígena da reserva Seabird Island, no noroeste Pacífico do Canadá, traz aqui suas memórias de infância em uma família disfuncional e analisa como isso impactou nos relacionamentos abusivos que teve no começo da vida adulta. São relatos crus e duros, mas incrivelmente cheios de esperança.
“The Radium Girls: The Dark Story of America’s Shining Women” – Kate Moore
Não é ficção: é a história de centenas de mulheres expostas a níveis tóxicos de rádio ao trabalhar em fábricas no começo do século 20. A crença em que esse elemento químico fosse um embelezador (sério!) caiu por terra quando elas começaram a ficar doentes e morrer, o que levou a uma luta que mudou a legislação trabalhista dos EUA e salvou vidas.
“O Ódio que Você Semeia” – Angie Thomas
Uma adolescente vira ativista após testemunhar seu amigo de infância, desarmado e inofensivo, ser morto pela polícia. O livro foi adaptado para o cinema e o filme, estrelado por Amandla Stenberg, estreia em outubro deste ano.
“Mom & Me & Mom” – Maya Angelou
É o último livro escrito por Maya Angelou, que morreu um ano depois de seu lançamento, aos 86 anos. Uma das maiores ativistas dos direitos civis nos EUA, Maya escreveu sua biografia em sete livros; neste, o final, fala sobre o relacionamento com a mãe, que abandonou os filhos e com quem ela se reconciliou anos depois. É um bonito relato de como o amadurecimento e o feminismo podem criar laços entre as mulheres, mesmo quando há uma história dolorida por trás de suas relações.
“Why I’m No Longer Talking to White People About Race” – Reni Eddo-Lodge
O título é uma provocação, obviamente: “por que não falo mais com pessoas brancas sobre raça”. E é uma provocação necessária: Reni, uma jornalista britânica premiada, conta como lida com o racismo no Reino Unido, lugar dificilmente associado a essa questão no resto do mundo. É sobre racismo estrutural e institucionalizado. Um soco no estômago.
“Hunger Makes Me a Modern Girl” – Carrie Brownstein
Apesar de ter apenas 43 anos de idade, a cantora, musicista, escritora e atriz (da série de TV “Portlandia”) já escreveu seu livro de memórias. Ao longo de 244 páginas conhecemos a história de Carrie, que saiu da casa de sua família disfuncional para se descobrir por meio da música e das artes. Muitos críticos consideraram o texto autodepreciativo demais, mas é a forma como ela quer se mostrar, então respeitemos, né? A leitura é bem interessante.
“Metade do Céu” – Nicholas D. Kristof e Sheryl WuDunn
São histórias de meninas e mulheres que deram a volta por cima depois de serem vítimas de tráfico sexual, mutilação genital e isolamento social amparado por lei (por mais absurdo que pareça, existem lugares do mundo em que isso é possível). É uma leitura pesada, ainda mais quando lembramos que ali estão descritas histórias reais, que ocorreram nos últimos anos.
“Persépolis” – Marjane Satrapi
Este é um prato cheio para quem curte HQ política: trata-se de uma autobiografia em formato de história em quadrinhos, desenhada em preto em branco. Marjane conta sua infância no Irã, em um período que passou pela Revolução Iraniana, e relata como as liberdades individuais foram sendo tiradas aos poucos, diante dos olhos de todo mundo. Assim que conseguiram, seus pais a mandaram para a Áustria, para que ela não fosse vítima do regime que estava sendo instalado. Ela hoje é radicada na França.
“The Argonauts” – Maggie Nelson
A partir de sua experiência de vida, Maggie faz uma “autoteoria” sobre a sexualidade humana. Nada mais justo: ela é casada e mãe dos filhos de Harry Dodge, artista de gênero fluido. Ela conta como se apaixonou por ele, como passou pelas gestações e como são as alegrias e complexidades de uma família que não se encaixa nos formatos tradicionais e é muito feliz assim.
“How to Be A Woman” – Caitlin Moran
Um livro leve e gostosinho cujo objetivo é tirar da palavra “feminismo” a aura de dureza ou radicalismos e fazer os leitores entenderem que feministas não são pessoas que odeiam homens, mas sim que buscam a equalidade entre os gêneros. Caitlin conta suas histórias de vida e recomenda que se aborde o feminismo com bom humor, “porque é difícil brigarem com você quando você está fazendo as pessoas rirem”.
“All About Love: New Visions” – bell hooks
Como mulheres e homens podem se entender em um relacionamento, sendo que eles são criados para fazerem pouco do poder do amor enquanto nelas é incutido que devem ser amorosas em todas as situações? Ao longo de nove capítulos, bell (ela escreve seu nome em letras minúsculas) debate os aspectos do amor na sociedade moderna e propõe soluções.
“Minha Vida na Estrada” – Gloria Steinem
Gloria é uma ativista e escritora que se transformou em ícone inspiracional para muitas mulheres. Nesta autobiografia, ela conta como amadureceu ao se envolver com o ativismo social feminino na Índia nos anos 1960, com os direitos indígenas e a política nos EUA. É uma vida viajando, cheia de revelações e inspirações. Quem está procurando motivação para sair por aí pode encontrá-la neste livro.