“And Just Like That…”: Kristin Davis reflete sobre maturidade
"Fomos criados com a ideia de que mulheres mais velhas não são interessantes", conta a atriz que interpreta Charlotte York-Goldenblatt
Para quem quem cresceu, vibrou, chorou e sonhou com as protagonistas de Sex and the City, sabe do poder indiscutível que as personagens têm no imaginário coletivo. Após 25 anos da estreia da produção original, elas retornam na segunda temporada de And Just Like That…, da HBO Max, em um clima familiar, na cidade que amamos e com muito romance. “A primeira vez que percebi que estávamos fazendo algo revolucionário foi durante um período de gravação, em que ficávamos quase 18 horas por dia no set. Não tínhamos muito a noção do que acontecia na vida fora dali até que… Recebemos uma nomeação ao Emmy [em 1999, na categoria de Melhor Série de Comédia]”, conta, em entrevista à CLAUDIA, Kristin Davis, que vive a icônica personagem Charlotte York-Goldenblatt. Depois disso, foram mais 53 nomeações, ao longo de todas as temporadas, vencendo 7; e mais 24 no Globo de Ouro, vencendo 8 vezes.
“O segundo momento, penso que a capa para o The New York Times. Fizemos o ensaio entre uma cena e outra, e a chamada era ‘Quem precisa de um marido?’, com uma reportagem que acompanhava a vida das solteiras em Nova York, a independência financeira e cultural delas. Aquilo que falávamos nos episódios foi levado a sério, o que ainda é maravilhoso e emocionante”, compartilha.
Retornar para esse contexto, depois de tantos anos, com cada personagem tendo a sua resolução, pode até soar diferente, mas a mensagem principal segue garantida. “A série tinha uma força que nos dirigia para onde estamos, onde vamos acabar, o que vai acontecer. Agora, estamos mais velhas, sabemos de mais coisas.”
“Importante dizer, porém, que nunca vamos saber de tudo. E é por isso que decidimos voltar em 2022. Porque você pode pensar que sabe tudo, mas não, a vida não é assim. Ela sempre vai te jogar novos aprendizados. Acho que essa foi a parte chave para nós”, explica a atriz, reforçando a relevância e presença das novas personagens, Seema (Sarita Choudhury), Lisa (Nicole Ari Parker), Dr. Nya (Karen Pittman) e Che (Sara Ramírez). “Queríamos expandir a nossa visão de mundo, mais fiel ao que vivemos agora.”
Para além da sexualidade, tema que, inclusive, se torna mais profundo para Charlotte nesta temporada — “quis mostrar que ela e Harry tem um bom casamento, o que inclui sexo, e o quanto ela evoluiu como mulher, com mais confiança no corpo dela e nos seus desejos” —, a narrativa evidencia as nuances do envelhecimento e como ele não atinge ninguém da mesma forma.
“Me parece que as pessoas acham que as mulheres não têm mais escolhas aos 50, o que é 100% errado. Todos têm escolhas, e sempre vão acontecer coisas inesperadas, exatamente como Charlotte vivencia nos novos episódios. No fundo, é o que fazíamos lá atrás, só que com elementos diferentes. Ainda há perguntas sobre quem você é, o que é importante para você, se pode se amar, se consegue se expressar genuinamente entre suas amigas ou familiares. É isso que nos coloca na nossa própria jornada”, defende.
Mesmo assim, todas as atrizes, mas principalmente Kristin, foram alvos de comentários pejorativos em relação à aparência, como se envelhecer não fosse um processo natural da vida. “A sociedade é muito etarista. Fomos criados com a ideia de que mulheres mais velhas não são interessantes. Ou que nossas vidas já estão por encerradas. Ou que não somos sexy. Ou o que for.”
And Just Like That… vai na contramão desse preconceito, na tentativa de mudar a conversa. “Mas não é fácil. Você vê muitas mulheres com pensamentos negativos em relação às outras. É por isso que devemos nos apoiar”, compartilha.
Realidade ou ficção?
Com Charlotte York, entre idas e vindas, há 25 anos em sua vida, Kristin Davis confessa enxergar similaridades na sua personagem. “Senti que me relaciono com muitas questões dela, ainda mais na maternidade. Não vivo as especificidades dela, mas tenho dois filhos e sei o quanto isso é definitivo na vida de uma mulher”, conta.
Sem contar, claro, a amizade entre mulheres, algo que Kristin não abre mão. “Ela é muito importante e certamente ganha mais relevância com o tempo, porque você consegue ver o que todo mundo passa, de diferentes maneiras. Você pode ter amigos que estão lutando com coisas muito diferentes do que você, mas ainda é possível aprender com eles. E eu acho que também você conta com as suas amigas de diferentes maneiras. Eu sou uma mãe solo, então, claro, eu confio muito, muito, muito nas minhas amigas.” O que inclui Sarah Jessica Parker e Cynthia Nixon na vida fora das telas. “Não há nada melhor que isso, honestamente.”
Mas não tem como esquecer as tantas vezes que Charlotte viveu situações sérias e profundas (a questão da infertilidade, da adoção, e agora, com dilemas de identidade de gênero, por exemplo). Quando questionada sobre esses pontos-chave, Kristin diz que a sua intenção era sempre fazer o criador, Michael Patrick King, feliz.
“Ele sempre entendeu a Charlotte como nenhum outro roteirista, e faz isso de maneira especial. Quando eram outros escritores, ficava até um pouco frustrada por eles não captarem tão bem a essência da personagem. Me mantive focada, porque sabia qual era o centro dessa mulher. E nós temos uma relação ótima, amo ele, de verdade, por me desafiar enquanto atriz.”
Quanto aos dilemas que cruzaram a vida de Charlotte, ela defende que são caixas que a audiência pode abrir e pensar, refletir e entender como se sentem em relação àquilo. “Não vejo como algo com teor educativo. Estou apenas tentando jogar com a realidade”. Mesmo no caso da fertilidade. “Sinto que eu era muito jovem para entender a dimensão da temática naquela época. Depois, fiquei pensando ‘espero ter feito um bom trabalho’, porque só mais velha entendi as camadas, a dor e a devastação que ela pode causar.” Comprovando a relevância desse olhar para a maturidade da mulher, dentro e fora das telas.