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Kika Seixas, parceira de Raul Seixas, escreve pela 1ª vez sobre relação com o músico

O livro Coisas do Coração – Minha História com Raul é um presente para todos os admiradores de Raul e de música brasileira

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 jun 2021, 18h32 - Publicado em 21 jun 2021, 18h00
Kika Seixas
Kika Seixas conta detalhes da produção do livro, do doloroso processo de separação e luto (| Foto: Divulgação/CLAUDIA)
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Na estante de sua casa, no Rio de Janeiro, Kika Seixas tem 42 biografias de Raul Seixas, seu companheiro por cinco anos. “Chuto que deve ser mais ou menos isso e só três ou quatro valem a pena ser lidas, o resto tem muito achismo”, dispara a produtora musical de 68 anos.

Após a morte do músico, ela se envolveu em diversos projetos para preservar sua memória. Recebeu da mãe de Raul um baú cheio de rascunhos e itens pessoais do baiano e, inspirada por isso, lançou tributos como Baú do Raul, um show-homenagem, e Baú do Raul Revirado, livro em que revela os objetos guardados.

Raul Seixas
Raul Seixas (| Foto: Divulgação/CLAUDIA)

Desde o ano passado, porém, Kika sentia que começava a esquecer alguns detalhes da vida a dois, da carreira de Raul e da infância da filha do casal, Vivian. “Meu HD está ficando cheio e tem coisas que acho que minha filha precisa saber. As memórias seriam um presente de aniversário para ela, mas me convenceram a transformar em livro, o que aconteceu com a ajuda do meu amigo Toninho Buda, que também conviveu com Raul”, diz.

Coisas do Coração – Minha História com Raul (Ubook) virou um presente para todos os admiradores de Raul e de música brasileira. Com capítulos curtos, Kika revela o dia a dia do casal, a perspicácia e genialidade de Raul para compor e os últimos dias de vida do artista. A CLAUDIA ela falou mais sobre o processo de produção do livro, do doloroso processo de separação e luto e ainda faz recomendações musicais inspiradas na sua playlist da quarentena.

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Há alguns anos, em uma entrevista, você disse que ainda se permitia chorar por Raul. Agora, escrever as memórias com ele obrigou você a recordar. Foi um processo doído?

Eu não teria conseguido sem o Toninho. Eu narrava para ele e ele transformava nesse texto de qualidade. Além disso, é um profundo conhecedor da obra do Raul e uma pessoa em quem confio. O Toninho conviveu com o Raul doente, se despedindo. Nós choramos juntos em alguns momentos e também demos risada lembrando de coisas boas. Depois de 30 anos da morte, o tempo diminuiu um pouco o sofrimento. Não é que você esquece, mas se acostuma.

No livro, você mostra de forma muito empática a luta de Raul contra a dependência química. Não faz julgamento. Sempre se sentiu assim ou já sentiu raiva pela interferência disso na vida dele e na da sua família?

Raiva nunca senti, mas tive uma desilusão. Eu vi que, apesar do meu esforço e da consciência dele de como aquilo era autodestrutivo, não ia mudar. Foi acabando com a criatividade dele, com o organismo e eu não quis ficar com alguém que não queria se tratar. A Vivi começou a sentir o ambiente, dar problema no colégio. Entendi que esse era o caminho dele e me afastei. Tive a sorte de poder contar com meus pais, que sempre nos acolheram.

Raul Seixas e Kika Seixas
Raul Seixas foi companheiro de Kika por cinco anos (| Foto: Divulgação/CLAUDIA)
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Vocês seguiram trocando cartas e conectados, mas você se mudou de São Paulo para o Rio e depois até passou uma temporada fora do país. Como explicava isso para a Vivi?

O Rio era uma festa para a Vivi, era onde estavam os avós, os primos. A verdade é que recebemos muito amor. Hoje, vejo que fomos sempre cercadas por algo mágico. Não sei o que era, se as entidades de luz, Deus, mas fomos muito amparadas. Eu explicava que o pai dela estava no hospital se cuidando, que tinha que tomar remédio e comer bastante para ficar bom e forte. Raul sempre foi um doce com ela. Era um contador de histórias maravilhoso. Fazia desenhos, inventava personagens. Tinha o Maluquinho, que escondia as bonecas dela. Ele a divertia. Era tudo leve, singelo. Nunca falei mal do Raul para Vivi.

Você relata a sua emoção ao ver Raul se apresentar pela primeira vez. Depois de tantos anos trabalhando na área, já encontrou outro talento assim?

Raul é único, o estilo dele, as letras. Mas sou casada hoje com um dos maiores músicos brasileiros, o Arnaldo Brandão, um baixista com grande qualidade musical.

O que tem ouvido recentemente que recomenda?

O pianista inglês Jools Holland tem um programa no Canal Bis, de domingo, que amo. Também escuto muito Moby e Leonard Cohen, que apresentei pro Raul e pro Arnaldo. Recomendo pra todo mundo. Ainda tenho a sorte de ouvir o Arnaldo sempre.

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