Julianne Moore: “a amizade feminina pode mudar o mundo”
A atriz é protagonista de "O Quarto ao Lado", novo filme de Pedro Almodóvar, e acredita na potência de novas narrativas para personagens mulheres
Quando o espanhol Pedro Almodóvar anunciou seu primeiro filme falado em língua inglesa, os amantes de sétima arte ficaram extasiados – não só pela novidade, mas também por esperar uma história arrebatadora do diretor. Finalmente, acabou a espera! “O Quarto Ao Lado”, com Julianne Moore, estreia nos cinemas brasileiros em 24 de outubro.
Inspirado no livro “O que você está enfrentando”, da escritora norte-americana Sigrid Nunez, a trama acompanha duas amigas de juventude, Ingrid (Julianne Moore) e Martha (Tilda Swinton), que se reencontram após anos separadas. A amizade, no entanto, precisa ser reconstruída em um momento complicado: Martha está doente e decide optar pela eutanásia.
A morte como contemplação da vida
A história é cheia de nuances e ressalta discussões pertinentes para a sociedade contemporânea. A ideia central não é promover uma discussão filosófica sobre a morte, mas ressaltar no espectador emoções íntimas a respeito da existência humana.
“A coisa mais profunda que você pode fazer para outra pessoa é testemunhar sua vida e crescer junto com ela. Essa reflexão sobre a impermanência nos faz viver melhor e estarmos mais presentes”, conta Julianne Moore a CLAUDIA.
Reflexão sobre o futuro
O cineasta usa o longa, por exemplo, para se expressar sobre as mudanças climáticas, o fundamentalismo religioso e o avanço do conservadorismo na política mundial. Quem explora essas questões é o personagem Damian, interpretado por John Turturro. Em suas conversas com Ingrid, o escritor comenta suas crenças niilistas sobre o futuro, sem pensar em qualquer possibilidade de melhora. As pessoas, para ele, estão apressando a destruição do planeta.
Um novo retrato das mulheres
Conhecido por desenhar protagonistas fortes, Almodóvar surpreende o público mais uma vez com este lançamento. Isso porque ele recria o imaginário do que é ser uma mulher nas telas. “Muitas vezes, quando vemos duas mulheres em um filme, é uma história de amor, uma relação familiar, ou elas são antagonistas. É muito raro vê-las igualmente poderosas e parceiras. E isso foi minha experiência”, ressalta a atriz.
“Tenho amizades femininas extremamente importantes. Elas significaram o mundo para mim e me sustentam durante a vida. Elas podem mudar o mundo porque mudaram o meu”, completa.
A fragilidade aparece sem tabu – as amigas compartilham entre si seus medos e desejos mais profundos. A falta de conexão que Martha tem com a filha e o terror que a jornalista viveu ao cobrir grandes guerras são recebidos com acolhimento e afeto. “É fácil se sentir atrapalhado com seus próprios sentimentos e sentir que somos os únicos a viver aquilo. Quando isso vai para o cinema, percebemos que as vulnerabilidades humanas são as mesmas”, avalia Julianne.
Espanhol x Inglês
Embora ambientado nos Estados Unidos, o drama foi filmado na Espanha. A casa de viagem das personagens é localizada na encosta sul do Monte Abantos, perto de El Escorial, a uma hora de carro de Madri.
A equipe trabalhou com intérpretes, já que o idioma era um encontro entre espanhol e inglês. Segundo Julianne, a linguagem não foi um problema ainda que houvesse expressões difíceis de serem traduzidas. “Quando Pedro estava ouvindo as falas, ele prestava atenção não só na língua, mas na musicalidade. A língua não é feita apenas de palavras e significados, mas também é som e interpretação”, pontua a atriz.
O resultado não poderia ser melhor, o filme é autêntico por dar um novo roteiro às mulheres e nos fazer pensar sobre a importância de ter companheiras até o fim da vida. O ritmo, ditado por flashbacks, é fluido e fácil de acompanhar. Este é um lançamento para fazer rir, chorar e amar – tudo ao mesmo tempo. Merecidamente, recebeu 18 minutos de aplausos no Festival de Veneza deste ano.
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