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Isabela Noronha fala sobre seu segundo romance, “Carlabê”

Um relato sobre solidão, fragilidade social, trauma familiar e relações pouco convencionais entre mulheres

Por Karin Hueck
Atualizado em 12 ago 2024, 16h41 - Publicado em 12 ago 2024, 11h10
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  • Carla é o nome de uma jovem que desaparece no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. Ficamos sabendo de seu sumiço por meio da transcrição de um depoimento de Saramara, sua colega de apartamento.

    Junto ao relato, o leitor também tem acesso a um cifrado diário da desaparecida, em que se enxerga o namoro de Carla com um colega no açougue em que trabalha, e a relação com o irmão Abelardo, cuja presença ausente vai se acentuando. 

    É assim que se desenrola o segundo romance de Isabela Noronha, um relato por vezes angustiante sobre solidão, fragilidade social, trauma familiar e relações pouco convencionais entre mulheres.

    A equipe de CLAUDIA conversou com a autora sobre seu segundo livro de romance, veja:

    Isabela Noronha discute sobre “Carlabê”

    Tanto o seu primeiro romance, quanto Carlabê são narrativas urbanas, permeadas pela violência. Por que esse tema?

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    Vem de um desejo permanente de falar sobre o que está próximo e ainda assim me assombra. Talvez eu seja mais sensível aos espaços urbanos porque nasci em Belo Horizonte, mas moro em São Paulo. Eu não sou do lugar onde eu vivo. O que é pertencer a uma cidade? Essa pergunta está no livro, porque ainda me espanto com São Paulo. 

    A história se desenvolve a partir de um relato oral, com direito a pedaços inaudíveis, digressões, omissões e mentiras. O leitor se vê constantemente atraído e desconfiado de Saramara. Por que esse formato? 

    A transcrição de Saramara foi um pedido da história. Eu já estava trabalhando na voz dela quando, em um momento,  ela diz: “Por isso declaro, devo declarar, que ela aqui não me dá nada, mas me devolve alguma coisa”.

    Por causa dessa frase, meus primeiros leitores, aqueles que acompanharam a feitura do livro, me perguntaram: mas para quem ela fala? 

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    Por que ela diz “declaro”? Assim a história foi ganhando forma. Os pedaços inaudíveis vieram depois, quando entendi que era importante que a cidade estivesse na transcrição, pois ela se coloca na história da mesma forma que se impõe em nossas vidas.

    O que diz uma cidade? Assim a narrativa ganhou mais uma personagem,  essencial para reflexões mais amplas.

    Como foi a sua pesquisa para esse romance? 

    Passei seis anos trabalhando nesse livro. Muito do que li nesse tempo foi importante. Fiz também uma espécie de estágio em um açougue de Santa Cecília. Combinei com o gerente e ele me deixava ficar ali, sentada, captando as dinâmicas, as palavras, observando as pessoas que poderiam ser as colegas de Carlabê.

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    Fiz isso por meses. E, claro, fiz também uma investigação sobre o bairro. Morei um tempo em Santa Cecília há anos e, para escrever, voltei àquelas ruas.  

    Nove anos se passaram entre o seu primeiro romance e este agora. Como foi o processo de escrita? 

    A história de Carlabê começou como um conto, mas ela seguiu falando comigo, querendo existir com mais carne e fôlego. Depois veio Saramara, que entrou na história com muito mais força do que estava planejado inicialmente.

    Penso que isso diz muito do processo de escrita, fui tomada por essas mulheres e sigo com elas, estamos juntas nesse livro e para além dele. 

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