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Basta de esperar acesso à bolha artística, diz criadora do Favela em Casa

Festival foi criado para dar espaços de visibilidade e infraestrutura a artistas e profissionais independentes da periferia

Por Gabriela Teixeira (colaboradora)
Atualizado em 24 set 2020, 15h40 - Publicado em 23 set 2020, 19h42
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  • “Preta, bora fazer um festival online de quebrada?”. Foi com essa mensagem que o fotógrafo Marcelo Rocha plantou a sementinha que viria a se tornar o Festival Favela em Casa, realizado nos dias 18, 19 e 20 de setembro, como conta a produtora cultural Andressa Oliveira. Desde o final do ano passado, os dois prospectavam projetos, que foram paralisados com o início da pandemia.

    Assim, em abril, quando surgiu a ideia de fazer o festival, ela topou de cara. “Estávamos numa inquietação pensando em criar espaços para movimentar artistas e profissionais independentes da periferia. Com as urgências da pandemia, o festival veio também como uma solução para criar alguma fonte de renda para essas pessoas, além de ser uma espécie de vitrine”, conta Andressa.

    Os dois então montaram uma equipe, dando prioridade para pessoas periféricas e pretas – algo fundamental para eles era que a narrativa fosse conduzida a partir de um sentimento de casa –, e passaram a se dedicar à produção do evento, um processo que durou seis meses e teve seus desafios naturais acentuados pela pandemia.

    Andressa e Marcelo – Por Pedro Schmidt
    Andressa e Marcelo já pensam em expandir o Festival por todo o país. Foto: (Pedro Schmidt/Divulgação)

    “Tivemos que aprender a lidar com esse ‘não lugar’ que é a internet, o online. Mas ao mesmo tempo foi um grande e bonito aprendizado. Aprendemos a criar, virtualmente, relações de confiança, de parceria. Fizemos as coisas acontecerem da melhor forma possível”, conta ela.

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    Andressa explica também que, mesmo com as barreiras do distanciamento, existiu um entrosamento surreal entre a produção e que isso foi fundamental para a realização do festival. “Foi uma das coisas que a gente mais ouviu das pessoas que passaram pelo set: que nossa equipe estava entrosada e que as coisas funcionavam muito bem e com muita alegria. Parecia que já trabalhávamos juntos há anos”.

    O resultado de tamanha sintonia foram três dias consecutivos com mais de 35 atrações. Além de contemplar artistas periféricos de todas as partes do Brasil, os idealizadores do Favela em Casa também queriam que seu line-up desse espaço para o máximo de linguagens artísticas possíveis. Assim, além da música, também foram apresentadas performances de dança, teatro, literatura e exibições de artes visuais, cinemas e pensadores. Houve ainda uma série de debates sobre carreira, memória e literatura.

    Os FerrAIS – Por Dieson Morais
    (Dieson Morais/Favela em Casa/Divulgação)
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    “Também consideramos o critério da paridade de gênero e a garantia da ocupação de pessoas LGBT+. Para nós, foi muito satisfatório que pessoas trans e não-binárias tenham participado em diferentes áreas e também no toque de tudo, apresentando o festival”, diz Andressa.

    Atuando tanto como social media quanto integrante de uma roda de conversa do evento, a escritora e produtora de conteúdo digital Aniké Pellegrini define sua participação no Favela em Casa como emocionante. “O Mina do Corre, da Ocupretar, é um programa de entrevistas que trabalha com o referenciamento de mulheres artistas, potências, inspirações. E foi muito bom poder levá-lo para outras pessoas, mas o mais emocionante foi escutar as histórias que estava ali comigo. Tanto a Eric Oliveira quanto o Nego Bala levaram realidades que nunca vivi e essa troca sincera é extremamente valiosa para todos”

    Ela completa afirmando ter visto “artistas que cantaram pela primeira vez e performaram divinamente bem. Artistas que, com o convite do festival, reascenderam dentro de si uma chama de esperança nas artes. Integrantes da produção desenvolveram relações afetivas e também ganharam portfólio, além de conseguirem outros trabalhos. Pessoas encantadas de dentro de casa…”, todos símbolos da importância do evento. “Ele trabalha dimensões visíveis e invisíveis, redes concretas e abstratas, afeto, conexão, esperança, potência e força do coletivo, a magnitude que uma ideia preta e da periferia pode e consegue tomar.”

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    Para Andressa, não dá mais para esperar que artistas independentes e com grande potencial entrem na bolha do mercado para ter acesso à estrutura técnica de qualidade. “O Festival vem para possibilitar uma infraestrutura e um espaço com qualidade técnica e profissional para essas pessoas. E abrir esse portal é também sobre liberdade criativa, sobre não ter como obrigação ser altamente criativo para trazer o novo por falta de estrutura e equipamento”.

    Agora, dias após o festival, ela olha para trás com orgulho, mas também já idealiza ações futuras. “Acabamos a primeira edição com novos planos. O que temos de mais concreto é fazer, uma vez por mês a partir de outubro, o Favela em Casa Sessions. A ideia é produzir edições menores, começando pelo Rio de Janeiro. E, entre dezembro desse ano e o começo de 2021, uma edição nacional com artistas de todo o país. Mas é algo ainda em construção. Temos pensado em modelos e, com certeza, terá muita coisa boa vindo”, avisa.

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    Na abertura do festival, o coletivo lançou também o Fundo Emergencial para Artistas. A iniciativa foi criada para ampliar o alcance do festival para mais artistas e coletivos, além dos que integraram a programação. Todas as doações arrecadadas pelo fundo são repassadas para artistas habilitados via chamamento público, em uma campanha gerida e acompanhada pela ONG Ação Educativa. Para contribuir ou se inscrever, acesse o site do Festival Favela em Casa.

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