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Fernanda Torres reflete sobre ‘Fim’, novo seriado do Globoplay

Além de comentar sobre o desenvolvimento da série, a atriz também tocou em assuntos como amadurecimento, passagem do tempo e a falta de controle humana

Por Kalel Adolfo
8 nov 2023, 09h10
Fernanda Torres está no comando de 'Fim', série do Globoplay baseada em seu livro homônimo.  (Reginaldo Teixeira (Globo)/Reprodução)
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Fim, novo seriado do Globoplay adaptado do romance homônimo de Fernanda Torres, estreou na última semana na plataforma de streaming. Intensa, a produção é uma grande ode à vida, se passando entre 1968 e 2012. Dividida em quatro arcos, acompanhamos a juventude, a maturidade e a velhice de um grupo de personagens, que passa por uma série de experiências que vão da alegria à loucura.

O projeto, vale ressaltar, é criado e roteirizado por Fernanda Torres, com supervisão de adaptação por Maria Camargo. Em entrevista exclusiva à CLAUDIA, a atriz falou sobre os comentários sociais e psicológicos que envolvem a série, além de revelar mais detalhes acerca do desenvolvimento do projeto. Confira:

CLAUDIA: Antes mesmo de desenvolver a série, quais foram as experiências que serviram como combustível na época em que escreveu o livro?

Fernanda Torres: Quando escrevo algo, até mesmo as minhas crônicas em jornais, viro uma esponja do mundo. Há passagens em Fim em que cito coisas que escutei de amigos, da família… É um livro sobre a vida, sobre os relacionamentos, sobre tudo aquilo que pensamos que seremos quando somos jovens versus o que nos tornamos ao envelhecer.

CLAUDIA: Você comentou que as gerações passadas, especialmente a dos anos 1970, foram o ponto de partida para o desenvolvimento da trama. Por quê?

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Fernanda Torres: Essa foi uma época em que deveríamos casar, ter uma família e acabou. Isso era felicidade. E essa geração adulta dos anos setenta sempre me fascinou, pois representa os adultos da minha infância. Conforme fui crescendo, percebi que essa foi uma geração atropelada pela revolução de costumes.

As pessoas começaram a se divorciar, trair… Não que isso não acontecesse antes, aliás, isso sempre existiu na história da humanidade. Porém, naqueles tempos, éramos ensinados a seguir um roteiro específico de vida. Resumidamente, Fim é muito sobre os adultos de minha infância.

CLAUDIA: Você sente que passou por este processo de ressignificar alguns valores e se adaptar aos novos tempos? Foi algo fácil?

Fernanda Torres: Estou com 58 [anos] agora. Quando somos mais novos, enxergamos o mundo de acordo com os valores nos quais fomos criados. Você faz parte desses valores. E aí, quando ficamos mais velhos, o mundo muda, e novas convenções se criam. É aí que entra uma série de etapas emocionais: primeiro, ficamos irritados porque o mundo não está mais de acordo com o que achávamos que ele era. Há uma negação. Depois, você vai vendo que é melhor se reeducar para não entrar em colisão constante com o planeta. E, por último, você aprende a aceitar e reconhecer que há coisas que não cabem mais no mundo. Claro que nem sempre conseguimos seguir tudo: quando não consigo me adaptar a algo, aceito que sou datada. Atualmente, eu aceito que sou datada em muitos sentidos.

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CLAUDIA: Como você compararia a arte como plataforma de mudanças políticas nas décadas anteriores e agora? A comunidade artística era mais engajada?

Fernanda Torres: Acredito sim que a arte tinha mais capacidade de mudar o mundo do que ela tem hoje. Atualmente, ela é muito mais corporativa, a arte mainstream está cheia de corporativismo.

O que identifico como mais único e revolucionário nos tempos atuais é o movimento negro, que é uma grande novidade, pulsante em termos de arte. Contudo, a revolução provocada por um filme [como acontecia quando eu cresci] ou de uma novela mudar o comportamento das pessoas, como aconteceu com Vale Tudo, ou de um livro parar a sociedade, já não acontece mais.

Antigamente, você tinha que ir ao cinema, tinha que ler o livro, tinha que ouvir a música. Hoje, tudo isso se pulverizou muito com as novas mídias. Claro, quem não tinha voz agora tem. Ao mesmo tempo, houve uma pulverização. Acontecem muitas mudanças em bolhas que não se comunicam.

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CLAUDIA: E falando em impacto cultural, quais discussões e reflexões você pretende iniciar com Fim?

Fernanda Torres: Hoje o mundo é muito mais policiado do ponto de vista comportamental, tanto à esquerda quanto para a direita. Há a possibilidade de sermos cancelados pelo o que falamos. É ‘isso ou aquilo’, você é ‘bom ou mau’, ou você está por dentro ou está por fora. E Fim é justamente sobre a falha humana, sobre o quanto todos somos falhos e não podemos controlar a vida. O casal que achávamos ser perfeito é a maior tragédia do seriado. Cada um é trágico em suas próprias dinâmicas.

O que eu gosto dessa série é isso: nessa época tão extremista, em que há uma certa cartilha sobre como viver, Fim vai na contramão e reafirma que não há como seguir uma cartilha, pois as pessoas são falhas, e essa é a beleza delas. Espero que as pessoas reflitam sobre como não podemos controlar quem somos e nem o mundo ao nosso redor.

CLAUDIA: Como você encara a falta de controle perante a vida? Qual é o seu processo para lidar com esses questionamentos existenciais?

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Fernanda Torres: É um processo de aceitação que só vem com a maturidade. Conforme envelhecemos, perdemos um pouco a ansiedade. Quando somos jovens, ficamos ansiosos por não saber se vamos dar conta de ser alguém, grande ou pequeno.

Queremos sentir que estamos fazendo algo por nós mesmos, ficamos com medo de não vingar. Eu tinha muito medo disso em vários aspectos.

Porém, conforme os anos foram passando, você cumpre umas coisas da vida: amamos, temos filhos, trabalhamos. E aí, essa ansiedade passa. Eu amo esse aspecto da maturidade: ficamos mais sábios em relação a nós mesmos, e também mais calmos. Mas claro, em Fim, essa calma não acontece [risos].

A primeira temporada de “Fim” já está disponível no catálogo do Globoplay. 

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