A transformação facial de Jacob Tremblay para viver o protagonista de “Extraordinário” é certamente o primeiro detalhe que impressiona nesse filme – que conta a história de um menino cujo rosto é deformado, devido a uma doença rara. O trabalho de caracterização é realmente sensacional, mas a maquiagem não se sustentaria se não houvesse um garoto tão brilhante por trás dela.
Um dos atores mirins mais promissores da atualidade, Jacob tem 11 anos e, em 2015, já havia impressionado a todos em “O Quarto de Jack”. Agora, ele interpreta Auggie Pullman, personagem que seria um desafio e tanto até para atores veteranos. Baseado no livro homônimo de R. J. Palacio, “Extraordinário” – que estreia em 7 de dezembro – dá foco ao sofrimento e às conquistas presentes na vida de uma criança especial.
O filme não fala muito sobre a rara condição de Auggie, mas o que sabemos é que ele nasceu com uma síndrome genética e que já fez 27 cirurgias. Por conta disso, nunca frequentou a escola e estudou até os 10 anos no esquema de ensino doméstico (homeschooling). Agora, ele precisa encarar o primeiro dia na 5ª série em uma escola convencional.
Para quem não leu o livro, num primeiro momento parece que a trama se limita a contar a história do menino, mas ela vai muito além. “Extraordinário” não é só sobre uma criança diferente das outras e sim sobre as relações humanas como um todo – tendo como foco a fase entre infância e adolescência. Auggie é o fio condutor da obra, mas há diversos pontos de vista envolvidos e a narração da história é feita por diferentes personagens – o que é um recurso muito comum na literatura contemporânea.
O foco é direcionado a dois setores da vida dessas crianças e adolescentes: o ambiente escolar e o familiar. Os outros personagens de destaque no filme são Via (a irmã mais velha de Auggie), Jack (seu novo amigo no colégio) e Miranda (a melhor amiga de Via). No livro também conhecemos o ponto de vista de Justin (namorado de Via) e Summer (outra amiga de Auggie).
Bullying e conflitos nas relações de amizade são os dois temas centrais quando a história dá foco ao ambiente escolar e o filme se propõe a fazer uma reflexão a respeito da ligação entre insegurança pessoal e hostilidade frente aos colegas de escola. Entrando nesses meandros, “Extraordinário” nos convida a olhar além das aparências – não só quando nos deparamos com um menino cujo rosto é visivelmente deformado, mas em qualquer situação que envolva relações interpessoais.
Em resumo, o filme cumpre muito bem esse papel e tem grande potencial para tocar o coração do público. O elenco mirim é conduzido de maneira muito competente e isso com certeza faz toda a diferença no produto final, que consegue ser sensível sem ser infantiloide. Quem assina a direção é Stephen Chbosky, que já havia entregado um trabalho memorável em “As Vantagens de Ser Invisível” e é certamente um cineasta para ter no radar.
Já no plot familiar, temos outro ponto alto do filme: Julia Roberts. Com o perdão do clichê infame: a atriz está extraordinária no papel da mãe de Auggie. A química entre ela e Jacob Tremblay é muito forte e essa conexão entre os dois é um dos pilares fundamentais da história. Certamente esse é um filme para dizer “minha Julia Roberts tá viva”!
Ao final, “Extraordinário” entrega ao expectador aquilo que já é esperado: um filme feito sob medida para levar o público às lágrimas e que passa uma lição de vida não muito inovadora. Escorrega nos clichês de vez em quando? Sim. Se atropela um pouco nas diversas narrativas? Também. Mas isso não tira seu brilho.
Dentro do gênero de “filmes para a família” esse é um longa que não decepciona e que cumpre o papel de aquecer o coração do público. Não há nele a pretensão de ser uma obra inovadora e isso conta pontos a favor de “Extraordinário”.
Se você quer sair do cinema com um sorriso no rosto e se quer ver atuações emocionantes na tela, então esse filme é para você. Mas não esqueça de ter os lencinhos à mão.