Finalizada neste ano, a tela Cebola Roxa, de Beatriz Milhazes, está na mostra Avenida Paulista, dedicada à artista. Organizada por duas instituições culturais em São Paulo, reúne os trabalhos multicoloridos e grandiosos da carioca – boa parte das pinturas tem cerca de 5 metros quadrados.
O ateliê da carioca Beatriz Milhazes, no bairro Jardim Botânico, ficou mais silencioso este ano. No início da quarentena, ela se isolou em seu apartamento, distante das tintas e telas. “Aproveitei o momento de introspecção, de um ano sem viagens – o que é atípico na minha rotina –, e me dediquei a desenhar”, conta.
Essas e outras produções estão na mostra Avenida Paulista, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), que apresenta as esculturas e pinturas, e no Itaú Cultural, a poucos metros dali, onde foram concentradas as colagens e gravuras. Aberta neste mês, pode ser visitada até maio, com horários agendados.
Antes do isolamento, a artista se debruçava sobre a tela Avenida Paulista, composta especialmente para a exibição, além de obras que iriam para o Long Museum, em Xangai. Com o adiamento da mostra chinesa para 2021, os trabalhos serão vistos primeiro pelo público brasileiro – para deleite dos visitantes, há inúmeras peças inéditas.
Entre elas, a sequência Gamboa, misto de escultura e instalação, construída com artesãos da escola de samba fluminense Grande Rio. O primeiro trabalho desse tipo, combinado, foi criado para ambientar o espetáculo Tempo de Verão (2004), da companhia da coreógrafa Márcia Milhazes, irmã de Beatriz. “A relação da minha obra com a dança vem também dessa proximidade, mas, antes de ir para o 3D, isso aparecia na impressão de movimento das pinturas”, diz ela.
Avenida Paulista cobre a produção da artista desde a década de 1990, passando pelos anos em que ganhou enorme reconhecimento internacional – Meu Limão (2000) alcançou, em 2002, a marca de peça mais cara de um artista brasileiro vivo já leiloada, arrematada por 2,1 milhões de dólares.
Esse prestígio é ainda mais notável quando se observa que, globalmente, as artistas mulheres têm menos aclamação financeira. Entre 2008 e 2019, elas giraram 4 bilhões de dólares ante 196 bilhões dos homens, segundo a Artnet, empresa desse mercado.
As criações de Beatriz são lembradas e reconhecidas pela identidade estética única. “São obras construídas em camadas, com enorme prazer visual. Por isso, sempre atraem um público amplo”, diz Amanda Carneiro, curadora assistente no Masp, que projetou a exposição no museu com o diretor artístico Adriano Pedrosa e, no Itaú Cultural, com Ivo Mesquita.
Os dois são parceiros curatoriais de longo prazo da artista. “Ela tem uma engenharia própria, em que pintura e colagem parecem se misturar, além da liberdade de imaginação, que foi crescendo com o tempo. A obra dela é muito otimista”, afirma Ivo. Para tempos sombrios, é reconfortante.