“Não faço nada só por fazer. Quero tocar o ser humano de forma positiva e ampliar seus limites.” Esse é o propósito da arte de Marieta Severo, protagonista do longa-metragem Aos Nossos Filhos, que deu entrevista para a Elástica, com quem conversou sobre os tempos de ditadura, a ameaça das repressões e preconceitos contemporâneos e a sua jornada como atriz.
Em cartaz nos cinemas, Aos Nossos Filhos (com enredo de Laura Castro e direção e Maria Medeiros) acompanha a vida de Vera, interpretada por Marieta, que foi militante contra a ditadura militar no Brasil, chegando a ser presa e torturada, e hoje coordena uma ONG que cuida de crianças soropositivas e precisa lidar com suas próprias contradições diante da escolha da filha, Tânia (Laura Castro), que deseja ter um bebê com sua parceira.
“Vera foi uma mulher que lutou contra a ditadura e foi barbaramente torturada. Aconteceu com ela algo que aconteceu com várias mulheres reais, que é ter seus filhos arrancados dos braços. Há um depoimento no filme em que o torturador diz que ‘filho de comunista não merece viver’ e era assim mesmo que acontecia”, conta. “O mais terrível da minha geração é ver essas ideias, que a gente achou que tinham sido abolidas, voltarem com alguma força”, lamentou ela.
Na conversa, Marieta relembrou suas próprias vivências durante o período ditatorial no país: “Posso dizer que essa é a pior maneira de um país desenvolver seus potenciais e o que há de melhor e mais criativo”, afirmou a atriz, acrescentando a esperança de que o filme, lançado a poucos meses das eleições, reforce a importância da democracia.
A trama aborda também as diferenças geracionais entre pais e filhos e temas como adoção, inseminação artificial e a violência policial, perpassando alguns dos principais tópicos de debate da atual realidade brasileira. Para Marieta, tudo faz parte de uma coisa só: “Tudo é política (…) Os seus genes têm um passado político, sua pele é política, seus olhos têm um aspecto político, o que você diz tem um sentido político e o que você silencia também”, afirma.
A personagem Vera se soma a uma longa lista de mulheres que Marieta interpretou no teatro, na televisão e no cinema, sempre absorvendo algo de cada uma delas, mas também emprestando facetas da sua própria personalidade a cada papel. “Levo algo das personagens e também deixo um pouco de mim porque o único material que tenho para construí-las sou eu mesma. Tenho um material informativo por fora e um material formativo dentro. Formo o personagem a partir do meu ponto de vista, do que me tocou e do que quero dizer sobre cada um para as pessoas. Essa é uma troca absolutamente mágica – e o ator só sabe viver assim.”
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