Com mais de 15 anos de carreira, Olívia Araújo se prepara para estrear em Fuzuê, nova novela das 19h, na rede Globo. Ao longo de sua trajetória, a atriz conquistou papéis de destaque na dramaturgia brasileira, especialmente nas cinematográficas. Por sua atuação no filme Domésticas, de Fernando Meirelles e Nando Olival, Olivia foi laureada com o prêmio de melhor atriz no Festival Cine Ceará Iberoamericano de cinema e melhor atriz coadjuvante no Troféu Calunga do Festival de Cinema de Recife.
Além de atuar, a artista também produz peças e cria personagens que deseja interpretar, conquistando um espaço próprio para sua expressão criativa. Antes da estreia de Fuzuê, que acontece nesta segunda-feira (14), conversamos com a Olivia, que se mostrou bem empolgada com sua personagem. Confira abaixo a entrevista:
Ao longo de sua trajetória, quais foram os maiores desafios que você enfrentou?
Já é desafiadora a realidade brasileira de quem resolve ter como profissão a arte. Aqui, temos políticas muito instáveis, na área da cultura, então… Manter-se trabalhando e ativo é um desafio muito grande. Cada novo projeto, cada novo trabalho é uma vitória. Somado a isso, ainda tem fato de ser mulher e ser uma mulher negra, que configuram outros desafios que fazem parte da precariedades que a cultura enfrenta no Brasil.
Passamos por um fase complicada e está acontecendo uma retomada, culturalmente falando. Você sentiu essa movimentação?
Já tivemos momentos mais felizes de políticas públicas, depois entramos em um período muito difícil que durou anos e agora estamos voltando a um cenário mais promissor e animador. Há uns meses, em São Paulo, lá no Sesc Anchieta, eu apresentei uma peça com a casa lotada em todos os finais de semana. E essa não é uma realidade só minha, tenho outros amigos com espetáculos em teatros em São Paulo e aqui no Rio, todos com boas temporadas. Para o público também há uma diversidade grande de peças e gêneros para assistir. Isso demonstra que estamos indo para um caminho de melhorias.
E quanto ao contexto racial neste mesmo cenário?
A cada ano a gente vai ganhando e galgando mais espaço, somado isso à políticas afirmativas de governos anteriores, que tratam de diversidade e inclusão. Esse âmbito coloca em voga a questão étnica: para negros, povos originários e asiáticos, e no que diz respeito também ao gênero. É uma amplitude nesse sentido. Há uma construção que vem vindo muito antes de mim e cada um que consegue ter certa notoriedade abre caminho para as próximas gerações.
E quanto às oportunidades e personagens que você interpretou, teve problemas com estereótipos?
Eu não acho que tenha feito papéis estereotipados, as pessoas é que têm muito preconceito com o serviço doméstico e a maioria dos papéis que fiz eram de empregadas domésticas. Eu tive muito orgulho de fazer cada um deles. O que me incomoda é quando me chamam para fazer um trabalho e a profissão da personagem chega antes. Eu gosto de contar a história da pessoa e, infelizmente, por uma questão mesmo de preconceito a profissão doméstica chega antes da pessoa. As personagens que eu vivi eram pessoas muito interessantes com histórias para contar, muito além do serviço que tinham. Eu tenho muito respeito por essa profissão, assim como tenho por todas as personagens que eu vivi e que tiveram esse ofício de empregada doméstica. Agora estou vivendo uma outra personagem. Como já vivi outras tantos também, faz parte do nosso processo.
As pessoas ligam certos personagens a uma visão muito elitista…
Sim, e o que eu digo sempre, e vou continuar repetindo, é que todos nós queremos histórias para contar, independente da personagem.
O que pode contar da sua personagem na nova novela da Globo?
Maria Navalha, minha personagem em Fuzuê, é a mãe da protagonista. Eu sempre brinco que mãe protagonista é sempre bom, né? Se a filha não aparece, é a mãe que aparece. Ela é uma cantora que, no começo da novela, vai aparecer por meio de flashbacks de Luna (Giovana Cordeiro). São memórias de quando ela era uma cantora de relevância na noite Carioca, na Lapa. É uma relação muito afetiva de mãe e filha, de muita parceria, algo que elas estabelecem desde o começo. É uma personagem muito humana, dinâmica e intensa, em todos os sentidos. A Maria Navalha traz uma riqueza de vida muito grande, no sentido de mostrar os altos e baixos. Afinal, é disso que constitui a nossa a questão humana.
Você vai cantar na novela?
Vão me dublar, eu gostaria de cantar também, eu faço aula de canto há um tempo. Inclusive, em alguns momentos com mais frequência do que outros, mas é sempre voltado para minha área de atriz. Faz parte do meu processo criativo entender a musicalidade da palavras que estou dizendo. E, às vezes, a personagem precisa de um canto, que está mais ligado a ideia da emoção das palavras do que àquela afinação de cantor. E agora estou com esse desafio na mão: tem a emoção do ator e também a afinação, já que minha personagem é cantora.
Que interessante isso de estudar canto com esse objetivo de atuação…
Eu acho importante na hora de contar uma história. Cada personagem meu tem uma trilha pessoal que eu escolho. Isso dá um contorno para essa personalidade, né? Às vezes, quando tem uma cena um pouco mais delicada que precisa de uma concentração maior eu sempre recorro à música. Dessa vez eu vou poder usar a minha trilha pessoal para a personagem, efetivamente e literalmente.
Nesta segunda-feira (14), você poderá conferir a estreia de Olívia Araújo como Maria Navalha em Fuzuê, a partir das 19h na Rede Globo.