A Copa do Mundo de Futebol Feminino começa em menos de 10 de dias, em 20 de julho. Pela primeira vez, a competição contará com a participação de 32 seleções. Nos anos anteriores, esse número era bem menor. Neste ano, o evento terá duas sedes: Austrália e Nova Zelândia. O Brasil está em busca de seu primeiro título, depois de ter feito sua melhor campanha em em 2007, na China, quando ficamos em segundo lugar. Enquanto a hora de torcer não chega, conversamos com Ana Thaís Matos, parte do time da TV Globo, que será comentarista dos jogos ao lado da narradora Renata Silveira e Caio Ribeiro.
Trabalhando em sua terceira Copa do Mundo, Ana Thaís está ansiosa com o que vem por aqui. A seguir, leia a entrevista com ela.
É muito importante que grandes veículos como a Globo deem palco para grandes competições esportivas femininas. Como é participar dessa cobertura? Como estão as expectativas?
A cobertura de mais uma Copa do Mundo feminina é muito especial. Confesso que estou muito ansiosa, só consigo pensar no que eu posso agregar para que as pessoas entendam como esse Mundial será especial. Tenho estudado muito, estou acompanhando as redes sociais das atletas, tentando humanizar e mostrar que o futebol praticado por mulheres é também o futuro.
E, muito mais que isso, como é abrir portas para outras mulheres trabalharem com esporte?
Demorei muito para aceitar e gostar da ideia de que eu contribuí diretamente para transformar a visão e o papel da mulher no jornalismo esportivo. Eu tinha receio de parecer presunção, ao mesmo tempo em que não via essa importância. Foi com muita terapia e com a ajuda das minhas amigas e inúmeras seguidoras que me param e me fazem enxergar isso. Hoje, vejo com orgulho a minha trajetória e o tanto que crescemos. Em 2019 eu era sozinha, e hoje na empresa somos muitas! Eu tenho certeza de que contribuí para a aceitação e a visão das mulheres, não só no Grupo Globo, mas em inúmeras outras emissoras.
Quando eu assistia à TV, mais nova, eu só via homens comentando e apresentando programas de esportes. Mas isso mudou e ainda há muito mais espaço para mudanças. Como você sente esse cenário?
A mudança parece grande, e é. Em cinco anos, assim como o futebol praticado pelas mulheres, a cobertura esportiva feita por mulheres também evoluiu e cresceu. Embora ainda longe do ideal, a evolução é muito significativa. Assumimos um lugar de opinião, seja no vídeo, falando de futebol, ou nos bastidores. Temos mais coragem de falar, questionar, tentar mudar o que está aí sem nos importar tanto se os homens estão gostando ou não do que estamos falando. A gente só quer trabalhar. Porém, ainda precisamos evoluir nas nossas conquistas coletivas. É preciso evoluir na escuta uma da outra.
O futebol feminino não está sendo valorizado como deveria, mas cresceu também. Falta muita coisa. Especialmente em 2023, no Brasil, regredimos em muitos pontos. Tivemos times de série A sem pagamento de salário, times desmontados antes do início da série A sofrendo goleadas e afetando a competitividade do torneio, mulheres sendo oprimidas dentro dos próprios clubes por manifestações democráticas.
Você acredita que daqui uns anos possamos ter uma equipe 100% feminina cobrindo uma competição como essa?
Olha, eu entendo a estratégia de não formar uma equipe apenas de mulheres, principalmente para atrair figuras que consomem apenas futebol masculino. Trazer profissionais consagrados para a transmissão mostra a importância do futebol feminino para a Globo. Em 2019, com o principal casting da Globo nas transmissões da Copa do Mundo Feminina, conquistamos recordes de audiência. A final do torneio foi mais assistida no Brasil que nos Estados Unidos, que disputou a final. A principal mudança que eu vejo no cenário está aí: em 2019 o futebol feminino precisava do peso e da imagem de profissionais como Galvão Bueno, Luis Roberto, Milton Leite, Cléber Machado (falando apenas do nosso grupo de mídia). Em 2023 temos eu, Renata Silveira, Natália Lara, Isabelly Morais, Renata Mendonça, entre outras. Ou seja, o público já se identifica com esses nomes no futebol de um modo geral, feminino e masculino. Hoje nós também formamos uma marca de transmissões de futebol. Isso é realmente minha maior vitória.
A presença de Formiga e Érika na equipe é muito positiva, principalmente porque teremos a visão de duas jogadoras experientes na Copa. O que muda na noção de comentários vindos de jogadores e dos jornalistas?
Eu joguei futsal por quase 15 anos, consumo futebol desde os 9, fui repórter de campo durante seis anos acompanhando treinos, jogos, convivendo com muitos jogadores e treinadores e estudando futebol de inúmeras formas. O futebol passou a ser dominado por ex-atletas não tem muitos anos. Os jornalistas são fundamentais para uma visão imparcial e com apuração dos fatos além do campo e bola.
Você acha que o tão sonhado título feminino vem?
Como disse a treinadora do Brasil, toda as seleções do top 10 do ranking têm condições de títulos e o Brasil está lá. O trabalho foi cheio de percalços, mas a treinadora estabeleceu um padrão e trabalhou em cima dele. O Brasil é competitivo, mas tem problemas, assim como todas as outras seleções do top 10 do ranking.