Goste ou não, tenha visto ou não, fato é: House of the Dragon é uma das séries mais faladas (e aguardadas) de 2022. Com uma produção ousada e milionária, a HBO apostou no spin-off da série que rendeu à rede de televisão uma visibilidade jamais imaginada, aka Game of Thrones. Se os fãs irão se reunir todo domingo à noite para curtir os episódios em doses homeopáticas, já não podemos prever. O que sabemos é: essa é uma história que conta sobre a sede de uma mulher ascender politicamente num universo de homens, mas é impedida pelo patriarcado que a ronda (hmm, 2022, talvez?). Entre os destaques da temporada está, claro, Rhaenyra Targaryen: filha mais velha do Rei Viserys Targaryen Paddy Considine], ela era esperada a casar taticamente e ter filhos para continuar a linha Targaryen. Contudo… “Rhaenyra não é naturalmente modificável; ela está brincado com o fogo da velha história Targaryen. No início dessa história, ela tem poder e determinação, mas nenhuma direção para conduzir essa energia”, conta a atriz que dá vida a personagem, Emma D’Arcy. É com ela que seguimos nos detalhes da série a seguir:
Como é esse mundo para uma mulher?
Desde o início, entendemos que Rhaenys [Eve Best] era a próxima na linha de sucessão ao trono, mas uma governante feminina era impensável para os senhores do reino, então o pai de Rhaenyra, Viserys, foi coroado. Ou seja, estamos num contexto em que, essencialmente, as mulheres são enganadas. Eu acho que a questão da série é: sendo uma mulher que quer dominar, como você convence seus súditos masculinos de que você não é o ‘outro’? Ainda nem conseguimos em 2022, pessoal! [Risos] A expectativa para Rhaenyra sempre foi: ter filhos. Esse é o caminho que temos pela frente. Mas, para a nossa sorte, Rhaenyra começa a brincar com os limites dessas “caixinhas” quase imediatamente.
Como o convite para a série chegou a você?
Miguel [Sapochnik] e Ryan [Condal] falaram muito sobre ela ter uma ‘sensibilidade punk’. Fundamentalmente, ela é uma pessoa obcecada pela masculinidade porque, para ela, masculinidade se equivale à liberdade. Ela sempre foi consciente de que seu pai precisa de um filho homem para suceder seu trono, e que ela não é esse filho. Ela existe ao lado de uma espécie de doppelganger que é Rhaenyra nascido do sexo masculino. Uma versão de si mesma que teria acesso a todas as coisas que ela deseja. Para mim, a pergunta sempre foi: como você conta uma história da perspectiva de um personagem e garante que está mostrando o desejo e a motivação dela para a auto-realização — mesmo quando o mundo ao seu redor não permite espaço para isso?
Qual é a relação dela com Alicent [Olivia Cooke] e como ela evolui?
Alicent e Rhaenyra são quase-irmãos. Suas famílias estão profundamente enredadas, seus pais trabalham juntos e fazem isso há muitos anos. Das duas, Rhaenyra tem mais poder e privilégio — ela é da família real; Alicent não é. No entanto, Alicent tem a capacidade, eu acho, de se adequar aos requisitos do tribunal, contra os quais Rhaenyra luta. Como tal, Alicent, embora seja uma melhor amiga e irmã, também é uma “tradutora” de um sistema no qual Rhaenyra não está bem integrada. Elas são realmente próximas. É um daqueles relacionamentos lindos e validadores em que você tem uma experiência de infância muito única e há apenas uma outra pessoa que pode realmente entender como é.
Como foi conhecer o ‘você’ mais jovem, na forma de Milly Alcock?
Quero dizer, surreal, porque, você sabe, eles fizeram um bom trabalho: nós somos bem parecidas. Coloque nós duas em uma peruca branca e os resultados são assustadores! Na verdade, eu nunca tinha feito isso: nunca compartilhei um personagem com um ator antes, mais velho ou mais novo. E acho que, inicialmente, estava apreensiva em termos de não querer pisar nos calos de ninguém. Milly precisava passar por seu próprio processo de investigação, e eu também. Mas acho que onde nós duas acabamos nos encontrando é um pouco como quando você vê fotos ou filmagens antigas de você mesma quando criança: você está familiarizado com essa pessoa e simpatiza profundamente com ela. Simultaneamente, há também uma estranheza: “sinto que ela não é a pessoa que sou hoje”. Assistindo ao lindo trabalho de Milly na série, tive a experiência de assistir o VHS da família Targaryen de Rhaenyra quando criança. [Risos]
Uma vez escalada, quais etapas fizeram parte da sua preparação para interpretar um personagem de fantasia?
Quando recebi a ligação, estava no meio da pandemia, em um campo com algumas vacas. Lembro que Ryan Condal me disse para ‘comprar alguns óculos de sol’. Essa é minha única lembrança dessa conversa. O que eu fiz? Para mim, o texto é muito importante, então voltei aos livros e, assim que começamos a ter os roteiros de episódios, passei bastante tempo com os episódios em que não estou, traduzindo-os em uma espécie de diário de Rhaenyra. Talvez tenha sido o jeito que encontrei de identificar os momentos que não são totalmente compreendidos por Rhaenyra. Ou que tem questões não resolvidas neles. Eu escrevi muito nos primeiros meses e desenhei também — queria cultivar uma memória visual, mas naquele momento eu não conhecia nenhum dos outros atores. Então fiz muitas lições de casa, bem nerd.
Você mergulhou no livro Fire & Blood?
Claro, e também assisti Game of Thrones durante o lockdown. Acho que foi importante fazer isso cedo porque é fundamental para a House of the Dragon ser uma entidade separada. Por um lado, assistir a Game of Thrones é extremamente útil para preencher aquele contexto periférico de localização, geografia; de famílias, casas e alianças. Mas, em certo ponto, parecia importante deixar esse material para trás. Eu sei que a energia de toda a equipe tem sido garantir que House of the Dragon seja algo que possa viver de forma independente.
Qual foi seu contato com a equipe de arte e figurino para criar a personagem?
Eu comecei cedo a trabalhar na personagem e tive um tempo incrível ao lado de todos na equipe de cabelo, maquiagem e figurino. Eles me ajudaram a construir e entender a relação de Rhaenyra com o emblema que é ser da família Targaryen — e esse longo cabelo loiro, como ele muda conforme ela muda.
Eu estava interessada em quais significantes ela é atraída. Investigando o que a excita e o que ela pode desejar, por exemplo. Algo que se tornou interessante para a interpretação foi incorporar a parafernália de montaria de dragão. É como se tivéssemos um equipamento de pilotagem. Esta é uma era de dragões. Havia a sensação de que ela poderia usar essas coisas em quaisquer que fossem as oportunidades.
E sobre montar os dragões, como foi esse momento?
Então, eu deveria montar um dragão chamado Syrax e eu não tinha feito nada além de montar um cavalo antes disso. Então, eles me mandaram fazer alguns passeios a cavalo, o que, na verdade, foi inestimável. Porque andar a cavalo é um diálogo. Você não pode simplesmente dizer a eles o que você quer. São eles que têm seu próprio conjunto de desejos, vontades e necessidades, cabe a quem está montando dar conta deles.
Então, o passo dois foi o “touro mecânico”. Você entra nessa coisa que é controlada por algo que se parece com um iPad. O diretor planeja o “caminho de voo” no “touro” em miniatura e, em seguida, o “touro mecânico” de fato emula o mesmo movimento. Você está atrás dele com ventiladores industriais soprando na sua cara… Eu estava absolutamente tonta. Era o mais puro senso de jogo virtual, talvez de todo o trabalho. Tive que tirar meu sorriso do rosto na marra, porque era muito divertido.