Escrever sobre coisas difíceis talvez seja uma das proezas das mulheres na história da literatura. Exemplos não faltam, mas cabe aqui uma citação à Annie Ernaux, vencedora do Prêmio Nobel. Em O Acontecimento, ela conta sobre o processo doloroso de um aborto feito na juventude, clandestinamente, e tudo o que precisou enfrentar diante de algo que deveria pertencer só a ela.
Num diálogo direto com essa profunda descrição, Colombe Schneck conta a sua versão, em uma França de 1984, quando a descriminalização do aborto já era uma realidade no país. Dezessete Anos (R$ 52,90, Relicário) é uma escavação na memória do próprio corpo e dos eventos passados, na tentativa de mostrar os avanços sociais em relação aos direitos das mulheres.
Também, e principalmente, dizer que, mesmo em um contexto privilegiado, “não foi com alegria no coração, tampouco confortável, banal ou por conveniência”, desmistificando alguns preconceitos acerca da temática. Colombe nos coloca frente a frente com a sua experiência, no vai e vem do tempo, entre passado e presente, para contextualizar suas condições e escolha.
Na época, aos dezessete anos, como já sugere o nome do livro, ela estava com um namoradinho da escola. Teve apoio dos pais e dele para seguir confortável na sua decisão. Para ela, era uma coisa que simplesmente a impediria de viver a sua juventude e começo da vida adulta livremente. Mais tarde, ela também escolhe engravidar novamente e ter os filhos.
Por essa complexidade narrativa, e pela excelente escrita, este livro é o escolhido para abrir a segunda edição do circuito Escritos de Mulheres, de CLAUDIA, em parceria com a livraria Gato Sem Rabo. No dia 16/9, às 11h, presencialmente, discutiremos a relevância da obra e as conexões com o contemporâneo com participação de Paula Jacob e Tamlyn Ghannam. É gratuito, só chegar! relicarioedicoes.com