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Constance Wu fala de como As Golpistas reflete a pressão sobre as mulheres

Em entrevista exclusiva, a atriz aponta críticas sociais à sociedade americana presentes no longa-metragem, que estreou na última quinta-feira (5)

Por Da Redação
Atualizado em 15 jan 2020, 06h53 - Publicado em 6 dez 2019, 17h35
Constance Wu como Destiny, em "As Golpistas" (Divulgação/Reprodução)
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Constance Wu mostrou em “As Golpistas” o porquê de ser uma atriz em ascensão e um nome que alcança cada vez mais sucesso e reconhecimento na indústria cinematográfica. Após ficar internacionalmente conhecida por seu papel em “Podres de Ricos” – personagem que rendeu a ela a nomeação a Globo de Ouro de Melhor Atriz – e por seu trabalho na série Fresh Off The Boat, Wu voltou às telonas como uma stripper, no longa que estreou na última quinta-feira (5) nos cinemas brasileiros.

Ao lado de Ramona, interpretada por Jennifer Lopez, e de outras garotas, Destiny se envolve em um plano para aplicar golpes em executivos ricos de Wall Street. A trama é contextualizada na crise econômica de 2008 e, como consequência desse cenário econômico negativo, o clube de strip onde elas trabalham passa por momentos de dificuldade financeira, já que os clientes não tem mais dinheiro para gastar.

Com um toque de crítica social ao sistema financeiro americano e à desigualdade social nos Estados Unidos, “As Golpistas” é um filme de trama envolvente e que foi baseado em uma história real, contada em um artigo da New York Magazine escrito pela jornalista Jessica Pressler, em 2015. Além de Jennifer, o filme conta com um elenco feminino de peso, com nomes como  Cardi B, Lizzo, Keke Palmer e Lili Reinhart.

Em entrevista exclusiva, Wu explica porque a solidão foi o tema que ela quis explorar no longa e como ele retrata, também, a forma como mulheres e homens são pressionados por padrões de comportamento pela sociedade patriarcal e como isso reflete na conduta das personagens da trama.

“Você tem pressões sociais sobre as mulheres, que dizem que você tem valor pela sua sexualidade, e você tem pressões sociais sobre os homens, que dizem que você tem valor pela quantia da sua conta bancária. Se você continuar martelando essa mensagem para meninos e meninas, bom, eventualmente, alguém vai fazer alguma coisa que não tem integridade, para tentar conseguir mais daquela coisa que a sociedade disse a eles que eles precisam”, aponta.

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:

Com o que você se empolgou em “As Golpistas” quando leu o roteiro pela primeira vez?

Na época em que li pela primeira vez o roteiro, disse aos meus agentes que estava procurando por um projeto que explorasse a solidão. E não acho que com “As Golpistas” você tem isso logo de cara. Mas se você olhar para a história, é realmente sobre amizade. E o arco da Destiny explora um trauma de infância e como isso pode levar a questões de confiança, que leva à solidão, e eu estava procurando por este tipo de projeto, porque acho que a solidão é muito generalizada em nossa sociedade atual – por causa das mídias sociais, que dão a ilusão de conexão que não é verdadeira. E acho que essa é a causa de muita polarização política. Então, procuro escolher projetos que mostram e discutem essas partes das nossas vidas, que não estão no destaque ou no feed do Instagram… As partes onde estamos sós, onde estamos destruídos e fazemos coisas ruins. Quase sinto que é como se fosse um privilégio incrível trazer essas histórias para a vida.

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Você sabia alguma coisa sobre a história antes de ler o artigo e o roteiro?

Não, na verdade nunca tinha ouvido falar. Depois de ler o roteiro, li imediatamente o artigo também, mas nunca tinha ouvido falar.

O artigo ajudou? Você falou com a autora?

Jessica Pressler? Eu a conheci, mas não conversamos muito.

Então você tomou o roteiro como a sua bíblia?

Sim, e também horas de fitas de entrevista entre Jessica e Roselyn Keo. Ouvi as fitas repetidamente, só para pegar as pequenas coisas sobre seu caráter e suas reflexões, e como ela se sentia consigo mesma. Mas sim, eu e minha preparadora construímos uma história por trás e uma vida que pensamos que serviria à história e à personagem, criando uma dinâmica.

Em uma entrevista, você comparou “As Golpistas” com “Os Bons Companheiros”, de Martin Scorsese, mas o filme também tem algumas conexões com o último filme dele, o “Casino”. Isso te impressionou?

Sabe, eu não assisti ao “Casino”! Vou ver. Mas “Os Bons Companheiros” mostra um grupo de um gênero – basicamente, homens – que estão fazendo alguma coisa, objetivamente, que é ruim. Eles estão matando as pessoas; eles são a máfia. Mas por algum motivo, você gosta deles, certo? Por alguma razão, você torce por eles. E é uma família diferente. Todo mundo tem um personagem diferente, seja o [Robert] De Niro ou o [Joe] Pesci, e existe uma coisa tão revigorante sobre como cada um é totalmente si mesmo, fazendo essas coisas ilegais. E, eventualmente, isso toma conta deles. Mas tem uma diferença principal para mim. Eu realmente acho que “Os Bons Companheiros” glamourizou a vida da máfia; no final ele diz: “Não sou mais um gângster, e nunca fiquei tão entediado, desejaria tanto ser um gângster!” E no final do nosso filme, olha o que acontece com essa amizade. Olhe para essas garotas desejando não ter dinheiro, não ter a vida de gângster; olhe para elas desejando ainda ter umas as outras. Então, acho que Lorene humaniza mais do que Scorsese.

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Cardi B e Constance Wu em “As Golpistas” (Divulgação/Reprodução)
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O que mais você acha da Destiny? Ela faz tudo o que faz por sua família?

Sim, por sua família… É engraçado, acho que ela é muito só, porque ela é carente. A ironia é ela ser tão apegada a ideia de ser independente. Ela não quer depender de ninguém. Quando ela era criança, a única pessoa de quem ela dependeria, sua mãe, a deixa. Então acho que ela conversa consigo mesma desde criança. “Sabe de uma coisa? Se eu não precisar disso, ninguém pode me machucar daquele jeito de novo.” Quando, na verdade, o que ela quer realmente, profundamente é apoio, e ela consegue isso no personagem da Ramona, e isso é um sonho realizado. Ela vive pela família. Por sua avó, que tomou conta dela. Ela só queria não precisar de ninguém. Mas, na verdade, ela realmente precisa de pessoas, não apenas do dinheiro.

O que você achou do esquema que elas realizaram?

É… Acho que é errado drogar pessoas e tirar o dinheiro delas, mas também acho que é errado arrastar pessoas para esses contratos de encerramento. Você tem pressões sociais sobre as mulheres, que dizem que você tem valor pela sua sexualidade, e você tem pressões sociais sobre os homens, que dizem que você tem valor pela quantia da sua conta bancária. Se você continuar martelando essa mensagem para meninos e meninas, bom, eventualmente, alguém vai fazer alguma coisa que não tem integridade, para tentar conseguir mais daquela coisa que a sociedade disse a eles que eles precisam. É claro que drogar pessoas e roubar dinheiro é ruim… Muito ruim!

Que observações a Lorene fez quanto ao seu personagem e performance?

Ela nos deu muita liberdade. Ela não fez muitas observações. Acho que ela e eu tivemos uma conexão mística estranha, então nós nos entendemos e conversamos bastante sobre isso antes, e sei que ela sabia o quanto havia trabalhado no personagem, em termos de construir uma vida interna. Tenho um processo bastante específico no set, e acho que ela sempre foi respeitosa, e nos deu todo o espaço para trazer vida ao personagem. Ela foi super calma, o que é sempre uma ótima qualidade que um diretor tenha. Super calma e confiante.

Você fez alguma preparação física?

Tive meses de treinamento e instalei uma barra de pole dance na minha própria sala de estar. Mas a vida emocional desse personagem é realmente onde me concentrei, mais do que fisicamente. Não quis que isso fosse glamouroso, um filme chamativo. Eu quis que fosse uma coisa com o coração. Então, me concentrar nessa questão foi onde foquei toda a minha energia. E tive sorte, já que não se esperava que minha personagem fosse tão boa! Então, não tive que aprender tanto isso.

Com quem você teve uma ligação forte no elenco?

Ai, Deus! Jennifer [Lopez], provavelmente! Mas todas as garotas. Essa é outra coisa que amo. Elas são todas diferentes em suas formas maravilhosas. Porque são todas mulheres, ninguém estava tentando ser fofa com os meninos, e ninguém estava tentando agir como se fosse um dos garotos. Podíamos ser nós mesmas, o que é incrivelmente libertador e divertido. Você pode conversar sobre absorventes internos e ninguém liga! Isso é tão libertador, né? A Keke também foi uma das pessoas mais engraçadas com que já trabalhei. Conhecer e trabalhar com ela foi simplesmente uma grande alegria.

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Constance Wu e Jennifer Lopez
Constance Wu e Jennifer Lopez em “As Golpistas” (Divulgação/Reprodução)

Foi como uma relação de irmã mais velha e irmã mais nova entre você e Jennifer? A amizade de vocês no set refletiu em seus personagens?

Sim, acho que isso é o que nós duas defendemos no filme. Estava pensando mais em uma coisa materna, não por causa do lado maternal da Jen, mas por causa da história da Destiny com as suas questões. Pensei que seria mais rico para o personagem dela ter isso dessa forma. Mas existem muitos níveis diferentes: mentor-pupilo; irmã mais velha-irmã mais nova; mãe-filha. O ponto é, Ramona é a pessoa que aprendeu como ter isso tudo e Destiny ainda tem que aprender.

Ramona compara o país inteiro com um strip club. Como você interpreta aquela fala?

Em termos de riqueza e dinheiro, vamos só conversar por um segundo sobre o sentido da palavra “mérito”. Por que você merece estar aqui, neste clube, se o mundo é um strip club? Bem, a sociedade nos diz “Você merece estar naquele palco se você é bonita, uma mulher sensual que está ali para entreter os homens”. E a sociedade diz aos homens que você merece estar neste clube se você tem dinheiro e puder jogar centenas de dólares. Então, perpetuamos esses sistemas de valores. Se você pensar no que essas strippers estão fazendo, elas estão usando seu corpo para entreter e fazer dinheiro. Isso poderia ser a exata definição de um atleta. Entretanto, temos vergonha de strippers e reverenciamos os atletas. Isso só mostra algo sobre o que a nossa cultura diz sobre sexo, como a nossa cultura se sente em relação à mulher. Acho que é uma atividade digna e algo sobre o qual não conversamos muito.

Por fim, você aproveitou um enorme sucesso no ano passado com Podres de Ricos. O que toda a experiência significou para você?

Foi uma experiência incrível. Fiz alguns dos meus melhores amigos lá. Assinei um acordo de três filmes, então estou empolgada com os números 2 e 3. E conheço e confio no Chu, o diretor, e acredito que ele queira fazer o melhor filme possível e que todos sentimos uma lealdade e responsabilidade com os fãs e todas as pessoas que nos apoiaram. Então, espero trabalhar com todas essas pessoas de novo. Eu realmente os amo.

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