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Como o livro “Ariel” pode mudar sua percepção da vida?

Livro permite que pessoas enxerguem suas barreiras internas e as enfrentem, segundo autor

Por Nathalie Páiva
Atualizado em 27 fev 2021, 13h34 - Publicado em 27 fev 2021, 11h00
Livro Ariel
Livro é recomendado para pais e filhos ((Foto: Joshua Lima)/Divulgação)
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Jared Amarante, 29, inspirado em pessoas trans que conviveu, corpos negros e gordos,  criou o livro infanto-juvenil Ariel – a travessia de um príncipe trans e quilombola. Foi um trabalho de quatro anos, com entrevistas e pesquisas para falar ao leitor da forma mais assertiva possível.

A trama conta a história de uma criança chamada Ariele que se enxerga através do espelho como um menino trans, negro e gordo e que, mergulhado em seu mundo, é levado a percorrer a sua ancestralidade no Quilombocéu. Tais caminhos o cativam a uma afirmação de si mesmo, enfrentando seus medos, angústias e ansiedades expressas em seus desenhos, que simbolizam experiências negativas na terra.

De acordo com autor, a ideia é trazer a concepção do que imaginamos ser o céu, ou seja, um lugar de igualdade, resistência, força e segurança. E é neste lugar que Ariel se reafirma para o mundo como um garoto trans, preto e gordo. Lá ele é coroado como príncipe, com um pente garfo entregue por Deus.

O livro traz entrevistas de homens e mulheres trans, de diferentes regiões do país, que contam suas trajetórias, dificuldades e sonhos. A obra possui aprovação e comentários de algumas personalidades como: Jup do Bairro, Tarso Brant,  Gloria Perez, Thales Alves, e Lisa Gomes.

CLAUDIA conversou com Jared Amarante, que contou suas motivações de escrita, inspirações e por que escolheu tais temáticas.

Por que a escolha dessa temática?  

Falar sobre esses temas é algo muito necessário, às vezes as pessoas têm medo. Esse receio vem da ignorância aliada à preguiça de estudar sobre o tema antes de falar. Não tem nada nesse mundo que a gente não possa comentar, então penso porque não tocar nesses assuntos como homem CIS? Se eu não falo sobre a transfobia, não toco nessas questões, eu estou fazendo a manutenção da transfobia.

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Também como homem branco e magro se não comento sobre os povos negros, celebrando suas ancestralidades, trazendo para a arte – que é o que faço – um acolhimento, pertencimento, enaltecimento estou corroborando com racismo e auxiliando na invisibilidade dessas minorias.

Quais cuidados foram tomados no desenvolvimento do livro?

Pesquisei muito, desci de alguns pedestais  nos quais as pessoas CIS, brancas, magras são colocadas e dos quais carrego características. Tive que descobrir sobre coisas que não tocam a minha pele. Não digo compreender, porque nunca vou entender o que  são o racismo, gordofobia, transfobia.  Mas digo que fui ter um olhar de humanidade, de me achegar a esses corpos e colocar os meus ouvidos à disposição, ter um momento de reflexão social com as pessoas que entrevistei.

Tomei um cuidado para não reproduzir nada que parecesse preconceituoso ou desrespeitoso a essas classes, eu não passo pelo o que essas pessoas passam, por isso tenho que tomar cuidado com o que vou dizer.

Qual foi a sua inspiração de escrita?

Eu não diria que li, livros ou histórias para me inspirar nesta obra, mas conversei com as minorias que cito no livro. Acho que não tem inspiração maior do que ir a campo e conversar com essas pessoas durante quatro anos, que foi o período que levei para conceber essa obra, tive ilustrações de um homem trans e negro, que é um super ilustrador, Natan H. Borges,  tivemos uma troca muito grande sobre identidade, pertencimento, representatividade.

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Tem um prefácio de um psicanalista negro que colocou o seu olhar também, o Wellington Oliveira. E esses homens e mulheres  com quem conversei estão com as suas entrevistas no livro. Foram as minhas maiores inspirações: a visibilidade para vida deles, a travessia para medos e angústias, processos de transição. Foram realmente as pessoas que me deram o começo de tudo.

O que diria para pais que desejam adquirir a obra?

A ignorância mata, precisamos ter uma percepção de que a vida é plural. Essa ideia estúpida de que o mundo e pessoas são pautadas no binarismo é que tem matado muitas outras identidades. É necessário entender que o universo da identidade e expressão de gênero, das orientações sexuais é feito questões múltiplas. As pessoas estão aí com a sua diversidade.

Eu costumo fazer uma analogia com o arco-íris porque é composto por diversas cores. Se tivesse apenas uma cor, será que as pessoas achariam ele tão incrível? A mesma coisa é a nossa existência humana, nós somos múltiplos, plurais e isso tem que ser entendido. Não é para que as pessoas necessariamente aceitem, mas, sim, respeitem as diversas identidades de gênero. Essas pessoas não estão exigindo o amor dos outros ou opinião sobre os seus corpos.  Elas estão dizendo quem são e como se sentem no mundo. Cabe a nós oferecermos o respeito.

Desde quando começou a escrever? E por que seguir nessa carreira?

Eu comecei a escrever dos nove anos para dez. Lembro que fiz a minha primeira historinha e, por conta da timidez, guardei no fundo da gaveta. As primeiras eram repletas do bullying que sofria na escola, porque eu já sabia que era gay desde criança para adolescente. Só que colocar isso no mundo é uma outra história né? Ainda mais que eu vinha de uma religião evangélica, era muita pressão, as coisas eram mais complicadas. Você não consegue gritar para o mundo quem você é.

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Então eu escrevi, colocava ali as minhas questões da vida na escrita, foram os meus primeiros contatos. Depois disso tudo, eu consegui, durante a minha adolescência, escrever quase 500 poesias.  Fui participar de um concurso mundial de poemas, promovido pela editora Corpus de Portugal, lá em Lisboa, os meus escritos foram escolhidos e Portugal resolveu lançar um livro com a minha obra. Ganhei um pseudônimo de Gui Barreto, que era um nome que eu usei em cinco livros que já fiz: Minha alma em teu corpo; Não volte , acredite, o amor é destino; Esquina de lágrimas; Cartas terminais; O amor que ninguém viu.

Ariel – a travessia de um príncipe trans e quilombola é o meu sexto livro e o primeiro que uso meu nome real, Jared Amarante. Escolhi o universo da escrita porque sempre fui apaixonado, faz parte da minha trajetória. Além de escritor, também sou jornalista e estudo cinema. Petendo levar futuramente a minha mensagem também para as telinhas.

Onde o futuro leitor pode adquirir a obra?

O leitor pode encontrar um exemplar no site da editora Giostri, por R$45, mais frete da região, pelo link aqui.

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