O humor combate preconceitos? Com um texto ácido e debochado, Claudia Campolina fez sucesso nas redes sociais pela atuação em Mundo Invertido, uma websérie que desafia o machismo a enxergar todas as suas incoerências, e provou a capacidade da comédia de ser instrumento para lutas sociais. Na interpretação, a atriz compartilha falas machistas naturalizadas pelos homens, mas agora como se eles fossem as vítimas. A quebra de paradigma rapidamente conquistou a internet, que fez seus vídeos viralizarem desde a primeira publicação.
@claudiacampolina_ Pra quem insiste na falácia de que é q mesma coisa… #feminismo #fy ♬ som original – ClaudiaCampolina_
A artista estreou na Globo em Insensato Coração, seguida por Guerra dos Sexos. Mas foi em Politicamente Incorreto, ao lado de Danilo Gentilli, que ela se destacou. Sua carreira inteira, praticamente, foi construída no drama, mas a pandemia a levou para o outro lado: a comédia. Do choro ao riso, Claudia Campolina precisou se desdobrar em meio a pandemia, longe do público, para continuar trabalhando. Levar o humor às redes sociais foi, antes de tudo, uma questão de necessidade.
A história com a comédia, entretanto, começou bem antes: desde pequena, encontrava na mãe um motivo para dar gargalhadas. Inspirada nela, virou a “palhacinha” da turma, como a própria Campolina diz. “Eu acho que o filho imita a mãe, é uma forma de aprender, pelo menos foi para mim.” Dos amigos aos professores, não tinha quem não destacasse sua capacidade de fazer as pessoas rirem.
Mundo invertido
A websérie estrelada pela atriz começou de forma orgânica, sem precisar de livro ou fazer a descrição do personagem por completo. “Fui fazendo, errando, ajustando e experimentando”, lembra, e completa: “criei o Mundo Invertido e o primeiro vídeo viralizou. A partir disso, a personagem foi acontecendo e passei a publicar em uma espécie de série nas redes.”
Ela dirige, escreve, grava e edita, quase como uma faz-tudo.
@claudiacampolina_ #feminismo #fy #paravc ♬ som original – ClaudiaCampolina_
Abordar um tema tão difícil e pesado de uma forma tão leve, para a atriz, foi uma maneira de driblar o machismo. “Uma pessoa que não me escutaria, por ela estar na defensiva, fica mais receptiva a me ouvir e pode se dar conta da problemática”.
“Desde que comecei a trabalhar com humor, não parei mais. Mas eu escutei muito que mulher não sabe fazer comédia, que não nasceu para isso, como se houvesse tarefas específicas para cada gênero. Tem muito mais homem no stand-up comedy do Brasil e internacional”, comenta Campolina.
A ideia de que mulher não sabe fazer humor nunca a fez pensar que ela não poderia seguir carreira na área. “Como a minha referência de pessoa engraçada era minha mãe, não o meu pai, isso não passava pela minha cabeça.” Ela ainda diz que as mulheres precisam fazer mais esforço do que homens para se destacar. “Seja política, administradora, diretora ou mesmo atriz. É um problema da nossa sociedade como um todo”.
Em meio a esse contexto, é normal dar risada de uma personagem que não é boazinha. “As pessoas, muitas vezes, não entendem que ela é uma vilã. Mas acho que é possível desejar que a ficção não aconteça, enquanto ri de um cenário absurdo”, segundo a artista.
O futuro de Claudia Campolina
Campolina carrega um desejo sincero que é comum aos artistas: que as pessoas continuem consumindo sua arte. “O ator tem essa vaidade, a gente precisa de palmas. Mas antes de ser um lugar de vaidade, é um espaço de contato com o outro. Quero gente assistindo, quero ver pessoas sendo tocadas”, diz.
Para além da internet, ela pretende aparecer no cinema, sua grande paixão, e continuar desenvolvendo personagens e dirigindo seus próprios textos. “Claro que quero trabalhar como atriz, receber papéis, mas também é uma delícia criar. Também gosto de estar nos bastidores.”
Missão de ajudar outras mulheres
O papel ajudou muitas mulheres, que nem possuíam entendimento sobre o problema que enfrentavam. “Recebi mensagens de pessoas afirmando ter saído de relacionamentos tóxicos depois de assistirem meu conteúdo e perceberem que haviam comportamentos problemáticos ali.”
Muitas outras encontraram um espaço quase que de acolhimento: “Algumas diziam que na casa delas aquelas falas eram normalizadas. ” Mães de meninos disseram para ela que o conteúdo é importante para que fiquem atentas aos comportamento deles e, também, ensinem a eles como isso é errado.
“A comédia parece não servir para nada, mas na verdade ela pode trazer esses assuntos sérios e causar reflexões nas pessoas, que muitas vezes ficam desarmadas por ser um vídeo de humor, por exemplo. É como deslocar o outro, sem que ele perceba que está sendo deslocado”, termina Campolina.