Ela canta desde os sete anos de idade, e há décadas é um nome conhecido entre os mais famosos bares de jazz de Madri. Mas foi apenas em 2017 que Cecilia Krull, de 35 anos, ficou famosa, graças à interpretação de My life is going on, composição autoral (em parceria com Manel Santisteban), música de abertura da série espanhola que virou um fenômeno global no catálogo da Netflix, La casa de papel.
A cantora, acostumada a se apresentar para plateias de 80 ou 100 pessoas, passou a cantar em festivais para quase 100.000 indivíduos, depois que sua canção teve mais de 500 milhões de reproduções em todo o mundo e foi a mais ouvida em plataformas digitais no Brasil, Itália, França e Argentina, entre outros países. Graças a esse êxito — e ao seu inegável talento — Cecilia lança nesta sexta-feira o single Out in style, em parceria com o produtor francês Celestal. A canção, que tem uma essência soul com batidas eletrônicas típicas da música pop contemporânea, é o pontapé inicial para o lançamento de seu primeiro disco, em abril.
“É uma loucura! Quando fizemos a música para La casa de papel, ninguém esperava o sucesso global da série e muito menos que esse êxito alcançasse também a canção de abertura. My life is going on catapultou minha carreira, me deu grandes oportunidades como cantora e compositora. Graças a ela, consegui chegar a mais público”, diz Cecilia em entrevista por vídeo a CLAUDIA. Na segunda parte da temporada final da série, ela aparece em uma das cenas de maior carga emocional cantando Can´t take my eyes off of you, além de interpretar em português a música Grândola Vila Morena, um hino patriótico do país luso, que deu início à Revolução dos Cravos, em 1974, pondo fim à ditadura de António de Oliveira Salazar.
“Gostei muito do final de toda a saga, eu tinha alguns spoilers, mas, mesmo assim, muitas coisas me surpreenderam”, comenta Cecilia. Foi graças ao reconhecimento obtido na trama do grupo de ladrões mais carismático do mundo que ela pode conhecer e trabalhar com produtores de vários países, entre eles, Celestal. Ambos participaram de uma sessão online de composição e daí surgiu o novo single. “Estou curiosa para ver a reação do público, porque sempre trabalhei com músicos, com minha banda, e agora estou mais focada em outros sons, algo mais digital e eletrônico. Acho que estou conseguindo um som próprio, muito pessoal”, diz a cantora, que passou os últimos dois anos de pandemia de Covid-19 dedicando-se ao processo artístico do disco.
Ela define seu primeiro trabalho autoral como uma mescla entre o analógico e o digital. “Sempre tem uma parte orgânica, é inevitável. Estou em um processo de transição e esse álbum é sobre isso, uma mistura da música tradicional com esses novos ritmos que também estão na minha essência.” Filha de mãe espanhola e cubana e de pai francês e alemão, também ele um músico de jazz, Cecilia cresceu escutando ritmos de todo o mundo em casa, principalmente música brasileira. “Eu adoro Djavan e Caetano Veloso“, diz, com um amplo sorriso.
Todas essas referências estarão no seu primeiro disco. E por que ela esperou tantos anos para lançá-lo? Além das circunstâncias de uma “indústria difícil”, também entrou em jogo a famosa síndrome de impostora. “Sou muito perfeccionista, e durante todas essas décadas de carreira nunca senti que poderia lançar um disco do jeito que eu gostaria ou pensava que ele nunca estaria totalmente terminado… Nós mesmas, muitas vezes, vamos criando obstáculos. O sucesso de La casa de papel também me deu mais autoconfiança e a coragem necessária para finalmente me jogar nessa aventura.” Com o primeiro passo dado, Cecilia Krull sente que já não existem limites para ela.