Quase três décadas após o lançamento de “Segundas Intenções”, fenômeno da cultura pop estrelado por ninguém menos que Reese Witherspoon, o cineasta Roger Kumble tenta emplacar um novo blockbuster nos mesmos moldes de seu primeiro filme com “Belo Desastre”, baseado na franquia best-seller de Jamie McGuire. A tentativa foi bem-sucedida? Ainda é cedo para dizer. Contudo, a experiência em si é certamente frustrante (e muitas vezes confusa).
Na trama, acompanhamos Abby Abernathy (Virginia Gardner) tentando fugir de um passado sombrio que envolve jogos e apostas excessivas em Las Vegas. Para isso, ela se muda de cidade e passa a frequentar a faculdade. É lá que a jovem conhece (e se apaixona) por Travis Maddox (Dylan Sprouse), um rapaz problemático que participa de lutas clandestinas para pagar seus estudos.
Sem grandes surpresas, a produção opta pelo primeiro (de uma série) de incontáveis clichês narrativos já neste primeiro momento. Isso porque o romance entre Abby e Travis segue aquele molde tão desgastado em Hollywood, onde duas pessoas aparentemente incompatíveis entram em conflito até se descobrirem inseparáveis.
Dinâmica entre Virginia Gardner e Dylan Sprouse não convence
Claro que, ao conferir um pouco mais sobre a produção, já sabemos que a sua proposta não é revolucionar o gênero ou reinventar a roda. Inclusive, os clichês, quando bem trabalhados, podem resultar em uma vivência bastante agradável (os famosos comfort movies). Zero problemas!
Todavia, a quantidade de furos narrativos no novo longa de Kumble, atrelado a um ritmo descompassado onde a evolução dos eventos se dá de maneira incoerente, torna até mesmo as escolhas mais confortáveis em grandes pontos de interrogação. A construção de química entre o casal, e os pontos em que suas trajetórias se convergem, não conseguem ser aprofundadas o suficiente para que o espectador engaje de fato neste romance.
E quando falo em aprofundamento, não digo atribuir seriedade ao longa, mas sim, possibilitar que o roteiro proporcione momentos de conexão e empatia. Contudo, a estrutura de “Belo Desastre” é tão caótica, que a sensação predominante é a de estar assistindo cinco filmes em um. Simplesmente não há tempo (ou coerência) para compreender o que está acontecendo.
Em um primeiro momento, estamos presenciando uma comédia romântica como qualquer outra. Depois, o senso de humor do diretor se torna tão duvidoso, que é inevitável nos questionarmos se estamos assistindo a uma paródia feita para a televisão (como aquelas sketchs absurdas do Saturday Night Live). E por fim, a obra mira na ação e suspense, trazendo reviravoltas tão mirabolantes que poderiam facilmente pertencer a um filme que ganhou status de cult trash. É um grande liquidificador!
Tecnicamente, o filme também não convence: não há um senso estético que evoque quaisquer ideias criativas que potencializem a experiência. O que temos no lugar disso é uma fotografia, edição e trilha sonora que, ao invés de camuflar as falhas narrativas do filme, apenas acabam as evidenciando.
Retornando ao questionamento do início: será que o público irá comprar a ideia? Talvez sim, talvez não. Porém, o fato é que “Belo Desastre” consegue ser, ironicamente, desastroso, mesmo com um material tão leve e despretensioso em mãos.