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“Belo Desastre” é o ‘comfort movie’ que consegue ser desconfortável

Mesmo com uma proposta que não pretende ser ambiciosa ou revolucionária, o novo filme de Roger Kumble falha até mesmo em seguir fórmulas certeiras do gênero

Por Kalel Adolfo
12 abr 2023, 09h50
Dylan Sprouse e Virginia Gardner contracenando em novo filme de Roger Kumble.
Dylan Sprouse e Virginia Gardner em "Belo Desastre". (Diamond Films/Divulgação)
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Quase três décadas após o lançamento de “Segundas Intenções”, fenômeno da cultura pop estrelado por ninguém menos que Reese Witherspoon, o cineasta Roger Kumble tenta emplacar um novo blockbuster nos mesmos moldes de seu primeiro filme com “Belo Desastre”, baseado na franquia best-seller de Jamie McGuire. A tentativa foi bem-sucedida? Ainda é cedo para dizer. Contudo, a experiência em si é certamente frustrante (e muitas vezes confusa).

Na trama, acompanhamos Abby Abernathy (Virginia Gardner) tentando fugir de um passado sombrio que envolve jogos e apostas excessivas em Las Vegas. Para isso, ela se muda de cidade e passa a frequentar a faculdade. É lá que a jovem conhece (e se apaixona) por Travis Maddox (Dylan Sprouse), um rapaz problemático que participa de lutas clandestinas para pagar seus estudos.

Sem grandes surpresas, a produção opta pelo primeiro (de uma série) de incontáveis clichês narrativos já neste primeiro momento. Isso porque o romance entre Abby e Travis segue aquele molde tão desgastado em Hollywood, onde duas pessoas aparentemente incompatíveis entram em conflito até se descobrirem inseparáveis.

Cena romântica de Virginia Gardner em
Virginia Gardner em cena de “Belo Desastre”. (Diamond Films/Reprodução)

Dinâmica entre Virginia Gardner e Dylan Sprouse não convence

Claro que, ao conferir um pouco mais sobre a produção, já sabemos que a sua proposta não é revolucionar o gênero ou reinventar a roda. Inclusive, os clichês, quando bem trabalhados, podem resultar em uma vivência bastante agradável (os famosos comfort movies). Zero problemas!

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Todavia, a quantidade de furos narrativos no novo longa de Kumble, atrelado a um ritmo descompassado onde a evolução dos eventos se dá de maneira incoerente, torna até mesmo as escolhas mais confortáveis em grandes pontos de interrogação. A construção de química entre o casal, e os pontos em que suas trajetórias se convergem, não conseguem ser aprofundadas o suficiente para que o espectador engaje de fato neste romance.

E quando falo em aprofundamento, não digo atribuir seriedade ao longa, mas sim, possibilitar que o roteiro proporcione momentos de conexão e empatia. Contudo, a estrutura de “Belo Desastre” é tão caótica, que a sensação predominante é a de estar assistindo cinco filmes em um. Simplesmente não há tempo (ou coerência) para compreender o que está acontecendo.

Em um primeiro momento, estamos presenciando uma comédia romântica como qualquer outra. Depois, o senso de humor do diretor se torna tão duvidoso, que é inevitável nos questionarmos se estamos assistindo a uma paródia feita para a televisão (como aquelas sketchs absurdas do Saturday Night Live). E por fim, a obra mira na ação e suspense, trazendo reviravoltas tão mirabolantes que poderiam facilmente pertencer a um filme que ganhou status de cult trash. É um grande liquidificador!

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Tecnicamente, o filme também não convence: não há um senso estético que evoque quaisquer ideias criativas que potencializem a experiência. O que temos no lugar disso é uma fotografia, edição e trilha sonora que, ao invés de camuflar as falhas narrativas do filme, apenas acabam as evidenciando.

Retornando ao questionamento do início: será que o público irá comprar a ideia? Talvez sim, talvez não. Porém, o fato é que “Belo Desastre” consegue ser, ironicamente, desastroso, mesmo com um material tão leve e despretensioso em mãos.

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