Após um início de franquia razoável — Capitã Marvel é um clássico ‘feel-good movie’ que não acrescenta muito ao subgênero de heróis —, a diretora Nia DaCosta retorna à cadeira de direção para a continuação do filme estrelado por Brie Larson, As Marvels. Mais uma vez, o resultado é, sem rodeios, mediano.
Não que isso seja algo estritamente negativo: a sequência definitivamente irá arrancar algumas risadas ali e aqui, com alguns bons momentos de ação que trazem um ritmo dinâmico. Todavia, juntando todos os elementos que o projeto tem a oferecer, somos deixados com uma experiência esquecível.
Sem sombra de dúvidas, esta é uma consequência direta do longo (e aparentemente inevitável) declínio que acomete o cinema de super-heróis.
Mesmo que os estúdios estejam mais abertos (após anos de espera) à narrativas mais inclusivas, inserindo mulheres, pessoas não-brancas e LGBTQIA+ no centro das atenções, a fórmula deste tipo de história já está saturada, ofuscando a tão aguardada representatividade que desejávamos no mainstream.
Aliás, se existe algo que As Marvels prova, é o quanto a inventividade do MCU parece ter chegado a um ponto de estagnação absoluta. Claro, acompanhar três protagonistas femininas neste tipo de produção (Brie Larson, Iman Vellani e Teyonah Parris) é um deleite, já que o trio consegue estabelecer uma sintonia inegável que se mantém firme durante quase toda a duração da trama. Porém, apenas o carisma das estrelas não é capaz de maquiar o quão simplista e unidimensional é a obra de DaCosta.
Inclusive, um dos principais exemplos do caráter redutivo da produção é a antagonista do filme, Dar-Benn (interpretada de maneira monótona por Zawe Ashton).
Sem motivações bem-exploradas ou minimamente aprofundadas, a vilã se torna uma espécie de caricatura — algo que afeta a credibilidade da obra como um todo, tornando a conexão ‘público-filme’ pouco provável.
Um exemplo (muito melhor, diga-se de passagem) de um inovador filme de heróis recente é Aves de Rapina, comandado por Cathy Yan.
Nele, a representatividade brilha através de um roteiro sagaz, que brinca com convenções do gênero, desconstrói o desgastado arquétipo binário dos “vilões” e “mocinhos”, e aposta em um público mais adulto com sua abordagem mais gráfica.
Neste ponto, o DCU, apesar de menos rentável, tem mais chances de se manter relevante nos próximos anos do que o Universo Cinematográfico da Marvel.
Dito tudo isso, As Marvels, nem de longe, é um filme terrível. A verdade é que, para o espectador despretensioso, o projeto tem tudo para oferecer uma distração family-friendly agradável, sem mais, nem menos.
Contudo, para aqueles que esperam um longa capaz de renovar as velhas engrenagens do gênero, sinto desanimar: este não é o caso.
Muito pelo contrário: por não ambicionar em quaisquer aspectos — técnicos, visuais ou narrativos —, o longa se assemelha a uma refeição fast-food: rápida, deliciosa, mas também absolutamente imemorável.