“Adoráveis Mulheres” consegue ser moderno mesmo com um enredo do século 19
O filme, que estreia hoje (9), é a sexta adaptação cinematográfica do clássico "Mulherzinhas", da escritora Louisa May Alcott
Hoje, a exatamente um mês da cerimônia do Oscar 2020, um forte candidato às indicações — que serão divulgadas na próxima segunda (13) — foi lançado no cinema brasileiro. “Adoráveis Mulheres”, inspirado no clássico “Mulherzinhas” (1868), de Louisa May Alcott, é a sexta adaptação da trama só para o cinema — a história também já foi contada em várias peças de teatro, óperas e séries.
O enredo de época acompanha o crescimento das quatro “irmãs March”, Jo, Beth, Meg e Amy, durante o período da Guerra Civil americana (1861 – 1865). Quando a pai vai lutar na guerra, elas e a mãe precisaram se virar para sobreviver em um mundo no qual as mulheres tinham pouquíssima voz. Com personalidades e desejos completamente diferentes, as meninas entram na vida adulta com apenas uma coisa em comum: a vontade de poder fazer o que querem, sem se preocupar com as imposições da sociedade.
Apesar de, 150 anos depois do lançamento, “Mulherzinhas” ser aparentemente uma história “batida” devido às várias adaptações, a versão da diretora Greta Gerwig merece atenção. Conhecida por ter sido uma das poucas diretoras já indicadas ao Oscar (ela concorreu ao prêmio pelo filme “Lady Bird: A Hora de Voar”, mas perdeu a disputa para Guillermo del Toro, de “A Forma da Água”), ela reuniu um time de peso para a produção, com atrizes já consagradas. A trama tem Meryl Streep no papel da tia das meninas e Laura Dern, vencedora do Globo de Ouro deste ano, como a mãe. Para interpretar as protagonistas, a diretora escalou Emma Watson (Meg), Florence Pugh (Amy), Eliza Scanlen (Beth), e Saoirse Ronan (Jo), que já foi indicada ao Oscar de melhor atriz outras três vezes, incluindo pelo outro trabalho dela com Gerwig, em “Lady Bird”.
Ao aceitar o desafio de criar mais um filme sobre o clássico da literatura, Greta corria o risco de cair na mesmice, mas conseguiu o balanço perfeito entre ser fiel ao texto de Alcott, sem deixar completamente de lado o romantismo característico dos filmes de época, e atualizar o enredo (um dos pontos altos do longa é poder perceber claramente ser uma história contada a partir de um ponto de vista feminino). Para trazer um tom ainda mais feminista e torná-lo mais condizente com a realidade atual, a diretora se inspirou muito na história de vida da autora, que nunca se casou, precisou se esconder atrás de um pseudônimo masculino para escrever e foi a primeira mulher a votar na sua cidade, anos antes da Constituição Americana definir o direito.
“Adoráveis Mulheres” é construído de forma não linear e é extremamente atual ao tornar o direito de escolha da mulher a principal discussão da trama e deixar um pouco de lado as relações amorosas. As irmãs buscam, cada uma da sua maneira, destruir a ideia do patriarcado. Apesar de terem objetivos diferentes — Jo quer virar escritora e Amy sonha em se casar, por exemplo — ao longo do filme as meninas entendem que, na verdade, o mais importante é que elas tenham poder de escolha e dão um show de sororidade, respeitando as escolhas umas das outras.
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