Estou na mão
De quem puxa o gatilho
atira a pedra
enfia a faca
sufoca a voz
faz a lei.
Estou no peito baleado
na cabeça apedrejada
nas costas atingidas
na garganta apertada
na justiça ausente.
Não me peça leveza
Se você engendra
A desigualdade.
Se você discrimina
O semelhante.
Se você só me valoriza
Em si
E me despreza
No outro.
Sou existência escancarada
Na criança nascida na guerra
No resgate do soterrado
Na alta do enfermo
No que fica, chorando a partida.
Sou existência pouco lembrada
No sol diário
Na respiração
No abraço fraterno
No adormecer do mundo.
Sou todos os clichês.
Permaneço
Nos que resistiram antes
Nas que ainda lutam
Nos que virão
Pelo coletivo.
Não me confunda com a minha irmã,
a indesejada só o visita uma vez.
Ora me tomam por milagre
Ora por desdita
Sem entender que sou
Apenas complexa.
Do primeiro
Ao derradeiro
Piscar dos olhos,
Eu sou você.
Eu continuo seguindo.
E você?
Vem comigo?
*Catita é cofundadora do Coletivo de Escritoras Negras Flores de Baobá e autora de Morada (Dandaras/Feminas)
Todas as mulheres podem (e devem) assumir postura antirracista