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2016 foi o ano das mulheres no sertanejo universitário

No último ano, elas saíram dos bastidores e assumiram seu lugar, nos holofotes e à frente dos microfones. As mulheres da música sertaneja estão arrasando!

Por Giovana Feix
Atualizado em 20 jan 2020, 23h57 - Publicado em 23 dez 2016, 14h11
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  • “‘Sertão‘ tem a ver com algo desconhecido”, define Ivan Vilela, pesquisador da música caipira e professor da Universidade de São Paulo. “Tem a ver com um mundo sem fim que a gente não conhece”. O dicionário Aurélio, da língua portuguesa, concorda em partes e define a mesma palavra como “região longe de povoação ou de terra povoadas”.

    Definir o que é a música sertaneja, no entanto, é um pouco mais difícil. O Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira enxerga “música caipira” como um sinônimo da música sertaneja original, que Ivan Vilela, por sua vez, prefere chamar de “autêntica”. Para o especialista, a que conhecemos hoje como “sertaneja”, o chamado sertanejo universitário, tem pouquíssimo a ver com este tipo “autêntico” de canção.

    “Hoje nós temos temas urbanos”, diz. “Não tem mais quase nada a ver com o sertanejo autêntico – a não ser o fato de a maioria dos artistas cantarem em duplas”.

    Seja na autêntica, na romântica dos anos 90 ou na atual e “universitária”, a mulher sempre representou uma espécie de “sertão” – algo desconhecido para a música sertaneja. Na verdade, ela sempre fez parte das letras apenas, como o “outro”.  A pesquisadora Amanda Ágata Contieri, da Unicamp, analisou em sua dissertação de mestrado as letras de 17 músicas sertanejas (entre a autêntica, a romântica e até mesmo a universitária). Sua ideia era verificar como as mulheres estavam, discursivamente, sendo representadas ali. O que ela pôde perceber é que, mesmo quando as canções pretendem homenagear as mulheres, é frequente que elas acabem sendo encaixadas em papéis “ideais” ou estereotipados – algo que reforça, de certa forma, a própria violência de gênero -, além de não contar a vida de mulheres reais.

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    “No contexto rural, existe uma divisão muito forte e evidente do trabalho entre o homem e a mulher, que tem um trabalho mais doméstico”, explica Vilela. Segundo o especialista, isso provavelmente influencia a quantidade pequena de mulheres interpretando as músicas do sertanejo “autêntico”. Há, é claro, exceções – mulheres que se destacaram no gênero. Como os casos das Irmãs Galvão, de Inezita Barroso e das Irmãs Castro, por exemplo.

    Em outros estilos musicais, vemos exemplos como a incrível história de Chiquinha Gonzaga e os casos de mulheres compositoras, como Sueli Costa, Fátima Guedes e Thereza Tinoco, que, como faziam algumas das atuais cantoras sertanejas, costumavam ficar fora dos holofotes.

    Esse é o caso de Marília Mendonça. Antes de se tornar uma das artistas nacionais mais ouvidas no Brasil, ela era a compositora por trás de grandes sucessos de Cristiano Araújo, Jorge e Mateus e Henrique e Juliano, por exemplo. Agora, ela ocupa a primeira posição nacional na playlist “As 50 mais tocadas no Brasil” de hoje (23), no Spotify. Atrás dela vêm, aliás, outras sertanejas femininas: a dupla Maiara e Maraisa.

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    Assim como Marília, também Simone e Simaria costumavam ficar “nos bastidores” de sucessos sertanejos. Elas faziam o backing vocal de Frank Aguiar. Junto com Naiara Azevedo, Janaynna e Paula Mattos, todas elas fazem parte da geração que pretender desvincular a mulher do sertão enquanto mistério – e associá-la ao sertanejo enquanto sucesso nacional.

    As letras de suas músicas se assemelham em muito às dos homens, como observa Amanda Ágata em entrevista ao UOL. Só que o fato de serem mulheres cantando, no entanto, já é algo que faz uma diferença enorme. “Elas são as Lady Gagas do Brasil“, brinca Ivan Vilela. Nada mais natural que elas sejam, portanto, poderosíssimas.

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