Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Super Black Friday: Assine a partir de 3,99

Shoshana: o resgate do último restaurante judaico do Bom Retiro

Reaberto por três amigos e mais de 20 minissócios, o restaurante de culinária judaica retorna à ativa depois de um (quase) último respiro

Por Marina Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 out 2022, 18h45 - Publicado em 30 set 2022, 08h21
Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
Opção vegana, o picles do dia (à esquerda) é preparado com legumes da estação. Já a Língua da Shoshi (acima), receita da fundadora, traz língua bovina servida com varenikes e salada; e, por fim, o pudim de leite é a sobremesa mais pedida da casa (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)
Continua após publicidade

Quando recebeu a notícia de que seu restaurante predileto fecharia as portas, Benjamin Seroussi não conseguiu parar de pensar em soluções para impedir o acontecimento. Com uma ideia fixa na mente e muita vontade de arregaçar as mangas, imediatamente ligou para os amigos Arthur Hirsch e Ines Mindlin. Foi assim que o trio se tornou líder do Shoshana Delishop, o último restaurante judaico do bairro Bom Retiro, em São Paulo.

Inaugurado em 1991 pelo casal Shoshana (que significa Rosa em hebraico) e Adi Baruch, o Shoshi, seu nome anterior, foi um espaço para apreciar clássicos da cozinha judaica, mas mais do que isso, era um reduto da comunidade que ali vivia. “Meu pai veio da Romênia, e aqui foi um local que frequentei desde a infância. Assim que o Benjamin me disse que iria fechar, topei participar desse resgate. O Shoshana sempre foi a representação de um lugar onde a cultura vive, e até difícil de explicar, mas quando pequeno, era aqui que encontrávamos a comunidade, tudo proporcionado pela gastronomia”, relembra Arthur.

Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
Opção vegana, o picles do dia (à esquerda) é preparado com legumes da estação. Já a Língua da Shoshi (acima), receita da fundadora, traz língua bovina servida com varenikes e salada; e, por fim, o pudim de leite é a sobremesa mais pedida da casa (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)

Com o passar dos anos, as dificuldades financeiras e o falecimento do marido, dona Shoshana — que é israelense e chegou ao Brasil em 1987 — acabou perdendo o ânimo para lidar com os afazeres que o dia a dia de um negócio gastronômico exige. Assim, com o encerramento do empreendimento, ela enxergou a oportunidade de dar continuidade à história de sua família com a energia vinda dos três jovens.

“A ideia não era fazer um supernegócio, mas algo com relevância. O cenário mudou muito no bairro. Ao mesmo tempo que a cultura gastronômica cresceu, houve um descompasso em relação a como você apresenta a culinária judaica”, diz o sócio.

Continua após a publicidade

“É emocionante pensar que este é o último restaurante judaico da região. É um meio de preservar a história, e história é política, é falar ‘estou aqui’. Senão você é engolido pelos horrorosos”

Clarice Reichstul

Para viabilizar o negócio, ​​Benjamin (gestor cultural da Casa do Povo), Ines (ligada a projetos comunitários) e Arthur (sócio da Carlos Pizza) recorreram à solução de um empreendimento coletivo. Além dos sócios majoritários, 22% das ações do restaurante pertencem a um grupo de 22 minoritários. “Formamos uma comunidade que agrega pessoas que se identificam com o projeto. A aceitação foi ótima, porque não se trata de uma doação e, sim, da possibilidade de fazer parte de verdade”, conta Arthur.

Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
A chef Clarice Reichstul é a responsável por repensar o menu do Shoshana (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)

Inaugurado em setembro deste ano, o Shoshana Delishop foi repaginado por inteiro, do ambiente físico ao cardápio, mas com o cuidado de manter as raízes e seguir sendo ponto de encontro dos moradores do bairro. A vinda de Clarice Reichstul foi pensada justamente para conquistar esse ponto de equilíbrio entre o passado e o futuro. A chef, que também comanda o serviço de buffet Paca Polaca, foi convidada para repensar o menu.

Continua após a publicidade

“Sempre busquei entender minhas origens, inclusive a partir das receitas que minha avó fazia e que aprendi com ela. Então, vim pensando no que poderia desenvolver, porque a diáspora judaica é muito extensa, a graça foi trazer pratos de todo lugar: Tunísia, Índia, dos judeus chineses… É uma delícia fazer esse processo de unir pesquisa, história e geografia”, conta a cozinheira.

Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
A borscht, sopa de beterraba, tem textura aveludada e é finalizada com creme azedo (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)

No dia a dia, quem toca a cozinha é a chef e consultora gastronômica Graziela Tavares. Os pratos demasiadamente fartos de antigamente dão espaço para opções mais enxutas e leves, como a borscht, uma sopa de beterraba classificada pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Ucrânia. No restaurante, a receita é uma versão da avó de Clarice e leva beterrabas caramelizadas, podendo ser apreciada quente ou fria.

Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
A chef Graziela Tavares é quem executa as receitas e toca o dia a dia no restaurante do Bom Retiro (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)
Continua após a publicidade

“Tudo o que eu fizer será diferente da Shoshana, pois somos pessoas diferentes. Se o cliente vier aqui e gostar da comida, vai dizer ‘maravilhosa a receita da Shoshana’, mas, se não gostar, vai falar que a dela era muito melhor. Então, como o crédito vai ser sempre dela, eu me dei conta de que poderia fazer aquilo que quisesse. A Graziela e eu tínhamos a vontade de deixar essa comida, tradicionalmente pesada, mais leve. Não em relação ao sabor ou gordura, mas de você poder almoçar e trabalhar depois, sem desmaiar”, brinca Clarice.

Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
O lúbia é um feijão servido frio, como uma salada para petiscar (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)
Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
Similar à sardinha, o arenque é servido marinado e temperado com cebola roxa e pimenta-da-jamaica (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)

Símbolo da culinária judaica, o arenque marinado é um peixe pequeno caracterizado pela carne gordurosa. No cardápio desenhado por Clarice, ele surge numa entradinha com salada de brotos e pão de centeio. Ainda no clima de compartilhamento, os latkes (bolinhos de batata ralada) podem ser mergulhados em diferentes molhos, como maionese vegana de cerveja e zhug (molho de coentro e pimenta típico do Iémen).

Continua após a publicidade
Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
Os latkes, ao lado, são uma receita tradicionalmente servida no Chanucá, festa judaica (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)

Dos clássicos de dona Shoshana, a língua de boi se manteve no cardápio e é uma das receitas campeãs da memória afetiva dos frequentadores: é servida com varenikes, massa semelhante ao ravioli, recheado com batata e coberto com cebola frita.

Receber Shoshana, o último restaurante judaico do Bom Retiro
O icônico pudim de Shoshana é feito a partir de uma receita secreta de família (| Foto: Laís Acsa/CLAUDIA)

Já o pudim é uma receita que ela aprendeu a fazer com a avó e guarda a sete chaves. Segundo os burburinhos que rondam o local, o doce leva apenas leite, açúcar e ovos — nada de leite condensado. “Shoshana me cedeu a receita ipsis litteris, mas se ela comer, vai dizer que a dela é melhor, é claro”, diz Clarice. E quem ousa discordar?

Continua após a publicidade

Confira aqui as receitas do Shoshana Delishop para fazer em casa

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$47,88, equivalente a R$3,99/mês.