Na pequena Encruzilhada do Sul, cidade de 26 mil habitantes a 170km de Porto Alegre, o cenário é tomado por territórios característicos das Serras Gaúchas: vastos terrenos de um verde vivo propícios para a atividade pecuária. Contudo, basta percorrer mais 28 quilômetros da principal rodovia para se deparar com outro cenário típico, porém menos abundante: o do cultivo de uvas.
O território ali visto abriga o maior vinhedo de cultivo de Pinot Noir do país. Isso porque, no ano 2000, a Chandon escolheu a região para concentrar o cultivo das uvas que se transformam em seus famosos rótulos de espumantes.
A Chandon conta com seis vinícolas espalhadas pelo mundo (Argentina, Estados Unidos, Austrália, China, Índia e Brasil), e foi a primeira no Brasil dedicada exclusivamente a espumantes, detentora de um vinhedo nacional de encher os olhos: são 120 hectares de vinhedos concentrados numa área que totaliza 254 hectares.
Os caminhos sustentáveis do vinho
Com um nome globalmente consolidado ao longo dos anos, a empresa conseguiu se popularizar como uma marca que tornou-se sinônimo de espumante. Com isso, seus líderes enxergaram nos últimos anos um momento propício para se concentrar em outras vertentes que englobam o vinho, principalmente no setor da sustentabilidade.
Em 2020, a Chandon conquistou no Brasil a certificação PIUP (Produção Integrada de Uva para Processamento) do vinhedo próprio de Encruzilhada do Sul, de melhores práticas de viticultura sustentável. Essa certificação foi renovada em 2021 e em 2022 e se estendeu à adega em Garibaldi – onde acontece todo seu processo de vinificação – validando as práticas na elaboração de seus espumantes.
Névoa das Encantadas e a sustentabilidade na garrafa
Névoa das Encantadas, mais recente lançamento da marca, traz um poético nome inspirado na Serra das Encantadas, apelido dado às colinas da região que ficam encobertas por névoas ao nascer do sol nos vinhedos.
O espumante, 100% Chardonnay em parcela única, é feito a partir de uma elaboração sem intervenções, sem uso de açúcar e de aditivos – e por isso recebe o título de espumante natural.
Para realizar o controle de doenças e pragas na vinícola, a equipe local recorre ao monitoramento constante e alternativas naturais, além da redução da dosagem de defensivos químicos com o uso de tecnologias de aplicação.
Philippe Mével, Diretor de Produção e enólogo-chefe da Chandon, é um dos responsáveis pela elaboração do rótulo e explica que acrescenta apenas leveduras selecionadas para sua confecção (são elas as responsáveis por iniciar a fermentação).
Enquanto os espumantes fermentam nos tanques da vinícola em Garibaldi (RS), nenhum outro aditivo é inserido. Após um descanso, que dura de quatro a cinco meses, o vinho é engarrafado sem filtragem, ou seja, sem a retirada dos resquícios de leveduras.
Esse processo resulta num espumante fresco, jovem, de aromas frutados (como pêra e pêssego) e caracterizado por uma leve turbidez: daí o nome referente à névoa.
O rótulo faz parte da linha Roots, que enaltece o terroir, as especificidades locais de elaboração e segue a filosofia sustentável da empresa. No momento, o lançamento é focado nos apreciadores de vinhos e formadores de opinião, por isso traz uma comercialização seletiva, com a distribuição de apenas 2.800 garrafas em seu pré-lançamento, em outubro.
Desenvolvimento sustentável: da natureza à comunidade local
Uma série de iniciativas rendeu à marca o título de primeiro vinhedo de espumantes com certificação de viticultura sustentável do Brasil. O projeto de desenvolvimento sustentável inclui iniciativas que dizem respeito à natureza e à comunidade, com a regeneração da biodiversidade dos solos, redução de impactos climáticos, engajamento da sociedade e suporte à comunidade local e do entorno de suas vinícolas.
- Biodiversidade: Na propriedade, além dos vinhedos, a Chandon ainda conta com 38 hectares de área de vegetação nativa remanescente e 50 hectares de Reserva Legal. No entorno dos vinhedos da propriedade já foram registradas 150 espécies da flora e outras 200 da fauna durante o levantamento da biodiversidade em andamento. Uma das iniciativas da empresa, intitulada Living Soils and Living Together, fazem com que cerca de 25% da área do vinhedo, que corresponde aos bosques nativos e às zonas úmidas, sejam preservados para manter e fomentar a fauna e flora local em harmonia com as atividades.
- Resgate do butiá: Em parceria com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a SEMA (Secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul), a Chandon desenvolveu um projeto inédito de conservação de uma espécie de palmeira ameaçada de extinção: o Butia odorata.
A iniciativa consiste em resgatar mudas juvenis em áreas de florestamento e transportá-las até o vinhedo onde estão sendo plantadas nas Áreas de Preservação Permanente do bioma Pampa. Este ano, em agosto de 2022, mais de 600 mudas foram resgatadas e transplantadas totalizando agora 2000 plantas. O projeto se estenderá em 2023 e 2024, até atingir um número de 3000 butiazeiros.
Desta forma, a maca se insere na Rota dos Butiazais, iniciativa que conecta pessoas interessadas no uso sustentável do Butiá e visa estimular a conservação da biodiversidade dos butiazais, garantindo sua permanência para as gerações futuras e a sustentabilidade do ecossistema em 43 municípios do Rio Grande do Sul.
O projeto da valorização da Rota dos Butiazais, promovido pela EMBRAPA, resultou na publicação do livro Butiá para todos os gostos, que traz informações, histórias e receitas ensinadas por chefs e culinaristas de todo o país, todas desenvolvidas por apreciadores do butiá – acesse aqui.