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Lado B por Vanessa Rozan

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Maquiadora, consultora e pesquisadora de beleza, fundadora do Liceu de Maquiagem.

O novo sempre vem? A efemeridade das tendências de beleza

Reflexões sobre o quanto o mercado tem se rendido às viralizações nas redes sociais

Por Vanessa Rozan
15 ago 2023, 06h43
A efemeridade das tendências de beleza, por Vanessa Rozan
"Às vezes, me pergunto qual a relevância de tanta tendência, pensando se é melhor esperar que morram subitamente antes de me envolver com elas." (Getty Images/Getty Images)
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Quando eu dava aula no curso de formação de maquiagem profissional na minha escola, o Liceu, fazia uma semana de viagem no tempo para rever a história da beleza e as tendências que marcaram as décadas. Partíamos dos anos 1920 rumo aos anos 2000, considerando contexto social, música, moda, arte, cinema e política. Era possível contornar bem o estilo das décadas, até chegar em 2010.

Sabíamos que muita coisa tinha acontecido a cada dez anos, claro, e o quanto a maquiagem e a moda não ficaram batendo na mesma tecla sempre, mas era bem fácil identificar como era algo consistente. Antes mesmo de pensar em décadas, as tendências já foram organizadas em séculos, sabia? Sim, elas ficavam circulando mais ou menos uns noventa ou cem anos antes de serem substituídas.

Agora, eu só sinto pena por quem for ocupar meu lugar e dar aula de história da beleza daqui alguns anos. Como explicar 72838 novas trends que acontecem nas redes sociais em um período de meses? Vanilla girl, Clean Girl, That Girl, Coquette Beauty, Bal- letcore, Barbiecore, Glazed Nails, Cold Girl Makeup, 90’s Grunge Makeup, Cry Makeup, Micro Beauty, Diamond Lips, Notox, Ugly Beauty, e por aí vai.

Ontem, inclusive, me falaram da Summer Tomato Girl, a garota com roupas floridas e casuais, meio uma clean girl bronzeada vagando despretensiosamente pelo verão europeu. E também a Latte Makeup, um olho marrom esfumado, adicionado de um pouco de bronzer e iluminador, que parece ser a trend do microssegundo, ainda ditada pelo verão no Hemisfério Norte e os milhares de posts e vídeos de quem produziu conteúdo nas férias na Europa — coisa bem acessível para a maioria das pessoas (só que não).

Talvez a pessoa que vá dar essa aula de história comece assim: entre 2011 e 2021, as redes sociais priorizaram a imagem ao texto e passaram a multiplicar tendências de celebridades e influenciadoras de grande porte.

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E mais: o ambiente virtual pariu toda sorte de microtendência porque a velocidade com que as coisas apareciam era mais importante do que a nossa capacidade de reproduzir uma técnica ou de usufruir de um novo produto comprado antes que outro já estivesse circulando nos vídeos mais recentes.

Ou talvez essa pessoa tente outra via, a explicação de que tudo já tinha sido ensinado e feito nas décadas anteriores e, agora, era preciso relançar todas essas tendências na velocidade que o capitalismo exigia: 24/7.

“Você dormiu 8 horas e perdeu a nova trend? Que pena, fica para a próxima.” Se para quem cria conteúdo é quase impossível acompanhar tudo, imagine para quem consome os inúmeros vídeos por dia?

Às vezes, me pergunto qual a relevância de tanta tendência, pensando se é melhor esperar quieta que elas atinjam seu auge e morram subitamente, ao invés de tentar me envolver. E também me pego refletindo sobre quem decide qual trend viraliza, quem as batiza, quase como um programa investigativo: “Trends, de onde elas vêm, como vivem e do que se alimentam?”

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Mais do que entendê-las, talvez a gente precise compreender os consumidores delas. Usuários do TikTok estão em busca de entretenimento, então o foco das postagens deve ser algo que possa divertir os seguidores mais do que vender algo a eles.

Esse público, em sua maioria, não tem a intenção inicial de comprar nada, mas compram quando “tropeçam” em algo que os faça sentir desejo de consumo. Desejo esse que “nasce” a partir de um belíssimo cavalo de troia, composto por uma quantidade obscena de conteúdos postados em determinada hashtag + um novo arsenal de produtinhos. Entre uma coisa e outra, reluz aquele item imprescindível para você adquirir e fazer parte de um clube.

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Conseguem visualizar que é menos sobre um tutorial no formato “aprenda a usar”, como vemos no YouTube, e mais coreografia de imagem, hit do momento e edição em cortes rápidos, para mostrar a transformação? São vídeos curtos feitos para serem consumidos prontamente, sem qualquer profundidade ou explicação.

O que antes era uma forma didática de mostrar como usar maquiagem ou skincare, principalmente para uma audiência leiga, hoje, é preciso que seja, antes de mais nada, diversão. Seria cada nova trend de TikTok o início do fim dos tutoriais tradicionais?

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