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Dani Moraes

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Dani Moraes é escritora, jornalista e especialista em escrita terapêutica
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Saída à francesa

Quais reflexões podemos ter após o suicídio assistido de Antonio Cícero, que convivia com o Alzheimer?

Por Dani Moraes
24 out 2024, 13h30
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  • Antonio Cícero morreu na última quarta-feira (23) em um processo de suicídio assistido. Ele convivia com o Alzheimer e decidiu não seguir em direção à progressão da doença, incurável e degenerativa. Buscou na Suíça o direito a esta decisão tomada no pleno exercício de sua consciência e, eu diria, coerência.

    Numa perspectiva em que a autonomia humana se constitui absoluta, a opção pela morte, criteriosamente conduzida, se apresenta a mim lúcida e não desesperada. Serena e não intempestiva. Apaziguadora, ainda que triste.

    Já atravessei experiências de luto de múltiplas modalidades — por morte natural, acidental, precoce, intencional ou velhice. Escrevo com frequência sobre o tema. Escrevo sobre a sensação das ausências, a fantasia dos reencontros, a esperança voluntária na continuidade da existência, as possibilidades e as impossibilidades do fim.

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    Às vezes sai algo poético, às vezes impublicáveis crueldades, às vezes odes à coragem, às vezes ódio à impotência. Já me aconteceu de flertar com a aceitação conciliada do imperativo da vida.

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    É comum que me assalte, como pensadora contumaz, a vã tentativa do entendimento racional, mas, em determinados casos, nenhum recurso lógico me valeu de conforto. E a falta de compreensão aprisiona no peito uma angústia sem nome ou letra, sem batismo.

    Percebo meus movimentos de defesa psíquica diante da constatação do fim, que há de vir para todos. Eu morrerei e isso está certo. E todas as pessoas a quem eu amo e, sinto muito, a quem você ama também irão morrer. Não sabemos quando, e diante do abismo inevitável sustentamos estratégica e simbolicamente a fantasia do depois.

    Depois escrevo, depois medito, depois eu saio para caminhar. Depois eu ligo para ela, depois respondo, depois resolvo aquele negócio. O depois é o escapismo explícito e, ao mesmo tempo, a única possibilidade de existir frente à agonia extrema imposta pela certeza da finitude.

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    Quando de fato não houver depois, espero que a mim tenha sido permitida, no agora de então, a íntima e genuína expressão do meu ser. Assim como foi garantida ao poeta, que renunciou, calma e conscientemente, à ausência de si.

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